Ford encerra história em São Bernardo sem concluir venda ao Grupo Caoa

Após operar 52 anos na região, linha de montagem foi paralisada na quarta-feira, 30

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Ford encerra história em São BernardoFord encerra história em São Bernardo

Ford encerrou de forma melancólica sua história industrial de 52 anos em São Bernardo do Campo (SP), sem que fosse concluída a venda da fábrica do Taboão para o Grupo Caoa, que há quase dois meses havia confirmado o interesse em comprar a unidade para continuar a fazer caminhões Ford e possivelmente carros de uma marca chinesa. Na quarta-feira, 30, foram finalizadas formalmente as atividades da linha de montagem de caminhões com a demissão de 600 trabalhadores – a área de automóveis onde era produzido o Fiesta já tinha sido desmontada em julho. Não houve protestos na planta, que tem seu futuro incerto.

A montadora informou que “as negociações envolvendo a venda da planta para o Grupo Caoa ainda estão em andamento, sem decisão conclusiva até o momento, e a Ford reitera que continua fazendo todos os esforços cabíveis para alcançar um resultado positivo”, diz o comunicado. Em assembleia realizada na porta da fábrica na terça-feira, 29, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, afirmou que a aquisição da planta pela Caoa só dependia de “uma decisão política do governo federal para aprovar o financiamento do BNDES” para viabilizar a nova operação do Grupo Caoa na unidade.

O encerramento das atividades industriais da Ford em São Bernardo determinou o desemprego de 2,1 mil pessoas até agora – a planta tinha 2,8 mil funcionários no início de 2019, quando o fechamento foi anunciado. Os 700 empregados restantes trabalham em áreas administrativas e têm a expectativa de serem transferidos para novo endereço em São Paulo.

“Em nome da Ford Motor Company, quero agradecer aos funcionários de São Bernardo pelo seu profissionalismo e dedicação durante vários anos”, disse em comunicado Lyle Watters, presidente da Ford América do Sul. “Mesmo após o anúncio feito em fevereiro, eles nunca deixaram de cumprir com suas obrigações”, acrescentou. O executivo elogiou ainda o papel desempenhado pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC: “Quero agradecer ao sindicato pelo profissionalismo e pela atitude dedicada durante esse delicado processo”.

VENDA SEM CONCLUSÃO

 

Em fevereiro passado a Ford comunicou a decisão de fechar a fábrica de São Bernardo no dia 30 de outubro, com custos da ordem de US$ 460 milhões em indenizações a funcionários, distribuidores e fornecedores. Dias depois o governador de São Paulo, João Doria, anunciou que ajudaria a encontrar um comprador para a operação e o Grupo Caoa foi o único a confirmar publicamente o interesse. No início de setembro, em reunião no Palácio dos Bandeirantes, foi informado que o negócio estava fechado e a compra seria concluída em cerca de um mês, o que não ocorreu.

No mesmo dia do encerramento da produção na planta do Taboão, o governador Doria, que dava o negócio como certo, dessa vez se esquivou: “O governo estimula, aproxima, indica, mas uma fábrica privada só pode ser vendida por um ente privado, ou seja, é uma relação direta da Ford do Brasil com a Caoa”, disse em entrevista coletiva.

HISTÓRIA INTERROMPIDA

 

A Ford completou história de 100 anos de atuação no Brasil, mas a fábrica de São Bernardo do Campo foi adquirida há 52 anos após a compra, em 1967, das operações locais da Willys Overland. Aos poucos, nos anos seguintes foi encerrada a produção dos modelos Willys e foram sendo introduzidos os automóveis da Ford no ABC paulista, a começar pelo Corcel. Depois chegaram Maverick, Escort (primeiro carro de projeto global a chegar ao Brasil), Corcel II, Del Rey, Pampa, Ka e Fiesta.

Além de automóveis, o complexo produziu motores, tratores e em 2001 passou a abrigar a fábrica de caminhões, transferida da antiga unidade do Ipiranga. Segundo a Ford, São Bernardo foi também a primeira na unidade industrial no País a ter uma comissão de fábrica do sindicado, no início dos anos 1980.

No comunicado distribuído na quarta-feira, Lyle Watters reconheceu que a ação de fechamento da São Bernardo “foi difícil, mas necessária para a reestruturação dos negócios da empresa” no País. Segundo ele, as outras unidades seguirão em operação: “Temos uma visão otimista para o Brasil e o futuro da Ford, com a continuidade de nossas operações nas fábricas de Camaçari e Taubaté e no Campo de Provas de Tatuí”, completou.