A indústria automotiva se mobiliza para esboçar uma política automotiva que dê continuidade ao Inovar-Auto, programa iniciado em 2013 com validade até 2017. A Anfavea, associação das montadoras de veículos, e o Sindipeças, entidade que representa as fabricantes de autopeças, já confirmaram que estão envolvidas na negociação do próximo programa para o setor.
As organizações não falam de Inovar-Auto 2, mas de uma nova política industrial automotiva com prazo mais longo. “Pedimos um programa que nos dê previsibilidade de pelo menos 10 anos, com ajustes a cada cinco anos”, conta Antonio Megale, presidente da Anfavea. Garantir horizonte claro para que as empresas tracem estratégias e programem investimentos é, inclusive, a principal bandeira da gestão do executivo na entidade.
Dan Ioschpe, presidente do Sindipeças, concorda: “O Inovar-Auto precisa ser sucedido por uma política automotiva. Um prazo mais longo do que cinco anos seria um primeiro objetivo”. Na análise do dirigente, o novo programa deveria seguir estimulando a melhoria da eficiência energética, fomentar o aumento da segurança e da conectividade nos carros e, enfim, promover o adensamento da cadeia de autopeças no Brasil.
INOVAR-AUTO FRACASSA PARA SETOR DE AUTOPEÇAS
Este último pilar, focado em estimular a cadeia produtiva, foi talvez o grande fracasso do Inovar-Auto em sua primeira etapa. O apoio a fornecedores e o aumento do conteúdo local dos carros estavam entre as grandes metas da iniciativa, mas os resultados devem ficar bem longe do esperado. “É um fato que o programa reduziu a importação de veículos para o Brasil. Não é um fato que ele provocou o aumento da localização de autopeças”, avalia Ioschpe.
O presidente do Sindipeças conta que o impacto do Inovar-Auto foi uma drástica redução nas importações de veículos. “Antes do programa tínhamos participação próxima de 25% de veículos de outros países nas vendas. Hoje este número caiu para 14%.” Este processo era visto inicialmente como uma possibilidade de beneficiar a indústria como um todo, mas os resultados efetivos foram bem diferentes disso, ele diz.
“O Inovar-Auto trouxe uma série de novas montadoras para o Brasil, que em alguns casos têm volume de autopeças produzidas localmente muito baixo. Esta é uma das razões para, na primeira fase do Inovar-Auto registrarmos agravamento da balança comercial de autopeças, com mais importação”, analisa.
A principal ferramenta criada pelo programa para estimular o aumento das compras locais de componentes pelas montadoras era o rastreamento da origem das autopeças. Ao verificar isso, o regime automotivo previa penalidades para as fabricantes de veículos que não cumprissem as metas de conteúdo local. A questão é que até mesmo a ferramenta para rastrear a origem dos componentes só entrou em operação dois anos depois do início do Inovar-Auto e até o momento, não teve nenhum resultado dessas medições divulgado.
COMO SERÁ A PRÓXIMA ETAPA
O resultado frustrante para a cadeia produtiva ficou evidente até para as montadoras, que começam a ter dificuldade para trabalhar com os enfraquecidos fornecedores locais. “A nova política industrial deve consolidar avanços do Inovar-Auto e se apoiar em três pilares: eficiência energética; pesquisa, desenvolvimento e inovação; além da recuperação da cadeia de autopeças, que está muito fragilizada com a crise”, declarou Megale, da Anfavea.
Ioschpe defende que o apoio aos fabricantes de componentes precisa trazer mecanismos para adensar hoje áreas que não têm cadeia de fornecedores ou são fracas no Brasil, como a eletrônica veicular. “Devemos atacar isso e criar as condições para que a atividade se desenvolva. Vai ser necessário algum incentivo. É muito difícil que aconteça de forma natural”, defende.
O executivo lembra que o incentivo à pesquisa e desenvolvimento do Inovar-Auto sempre focaram nas montadoras. A ideia é que, na nova política, estas medidas também sejam direcionadas à cadeia de autopeças. Megale acrescenta que o trabalho deve envolver todo o setor automotivo, com um esforço para repensar custos e oferecer desonerações.