Um estudo inédito apresentado na reunião da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), coordenada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostra que o cenário da inovação no Brasil vem se deteriorando ao longo dos últimos anos. De acordo com a pesquisa O Desempenho do Brasil no Índice Global de Inovação, o país tem a pior perfomance em inovação entre os integrantes dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). O estudo constatou não apenas que estamos na lanterna entre as economias emergentes, mas que a China tem resultados consideravelmente melhores que os demais países, estando em 25º no ranking geral. O Brasil aparece na 69ª colocação.
Inovação
Esta é a primeira avaliação do desempenho histórico do Brasil no IGI, principal indicador de inovação do mundo, elaborado desde 2007 pela Universidade de Cornell (EUA) e a Escola de negócios Insead (França), em parceria com a Organização Mundial de Propriedade Intelectual (Ompi). O estudo, encomendado pela CNI e pelo Sebrae e elaborado por pesquisadores das duas universidades, examinou 79 critérios de performance do país, entre 2011 e 2016, incluindo total de recursos, resultados e eficiência dos investimentos feitos em inovação no Brasil.
Piora recente
O panorama da inovação no Brasil mudou de otimismo para preocupação em seis anos. O país passou da 47ª posição em 2011 – a melhor colocação já registrada – para a 69ª em 2016. A posição geral só não é pior do que a aferida em 2015, quando o Brasil ocupou o 70º lugar. Esmiuçando o dado, o Brasil precisaria aumentar em 60% seus investimentos em inovação, considerando recursos financeiros e humanos, para alcançar os índices da Suíça, que lidera o ranking.
Apesar de os investimentos terem crescido no período analisado, a tendência é oposta em termos de resultados em inovação, que vêm diminuindo, particularmente depois de 2014. “Observamos um declínio acentuado no indicador de eficiência da inovação do Brasil”, atesta o estudo. Em 2011, o país ocupava a 7ª colocação em eficiência da inovação. Em apenas cinco anos, despencou 93 posições e atualmente está em 100º lugar.
A inovação é o motor da competitividade
“A inovação é o motor da competitividade. Os dados mostram que, se não tornarmos nosso investimento mais eficaz e estratégico, se não colocarmos a inovação como uma prioridade, não conseguiremos reverter esse cenário. Isso, inclusive, compromete a capacidade de o país sair fortalecido da crise”, afirma a diretora de Inovação da CNI, Gianna Sagazio.
Pontos fortes e fraquezas
O Brasil melhorou os investimentos em inovação, tendo ganhado 10 posições entre 2011 e 2016: passou de 68º para 58º no período. Cinco critérios compõem o indicador investimentos: instituições, capital humano e pesquisa, infraestrutura, sofisticação de mercado e sofisticação de negócios. Em todos os pontos, com exceção de instituições, o Brasil teve crescimento significativo, com destaque para a expansão das tecnologias de informação e comunicação. Entretanto, apesar do aumento de recursos para a inovação, o país não conseguiu convertê-los em resultados no mercado. Além disso, a publicação aponta problemas nos critérios instituições – sobretudo pela avaliação ruim do ambiente de negócios – e ensino, especificamente afetada pela baixa formação de engenheiros.
Recomendações
O estudo traz algumas recomendações para reverter o mau desempenho do Brasil. Entre elas, o fortalecimento de políticas em inovação para que investimentos públicos alavanquem privados, maior cooperação entre empresas e universidades, além de incentivo à internacionalização e ao empreendedorismo. “Também precisamos criar instrumentos para gerenciar, monitorar e avaliar a agenda de inovação, bem como reforçar nosso ecossistema de inovação e o sistema de financiamento”, conclui Gianna Sagazio.
Por Ariadne Sakkis e Diego Abreu
Foto: José Paulo Lacerda