O futuro da Fiat no Brasil é evoluir no andar de cima

Herlander Zola, diretor para a América do Sul, conta por que a marca se descolou dos carros de entrada e como a tecnologia e a inovação vão fazer parte da nova estratégia da empresa

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O futuro da Fiat
20210709 – BETIM-MG – FIAT 45 ANOS – Foto Leo Lara/Studio Cerri

O futuro da Fiat

Pergunte a qualquer brasileiro qual é a primeira ideia que vem à cabeça quando se fala de Fiat e inevitavelmente alguém vai associá-la a carros simples e baratos. Mas essa é uma fase que ficou para trás e não voltará. Palavra de Herlander Zola, diretor responsável pela marca para a América do Sul.

Em pleno aniversário de 45 anos da montadora no Brasil, Zola deixa bem claro que tudo o que a Fiat tem feito nos últimos quatro ou cinco anos foi para mudar a percepção de valor da marca, tentando descolar sua imagem dos carros populares, mesmo quando precisa atuar nos segmentos de entrada. A ordem é investir cada vez mais em versões e modelos mais sofisticados, para aumentar o valor percebido.

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“Tudo que virá por aí está relacionado à lógica, de fazer a marca evoluir no andar de cima, não no andar de baixo. Essa tem sido nossa estratégia recente e ela vem dando muito certo. Estou convicto que vai ser desse modo que nossa participação de mercado vai crescer nos próximos anos”, garante o executivo.

Quando Zola fala de crescimento de vendas, não se trata de retórica corporativa, pois as estatísticas comprovam sua afirmação. Ao final de 2019, a Fiat detinha 13,8% do mercado brasileiro de automóveis e comerciais leves; no acumulado do primeiro semestre deste ano, atingiu 22,2%. Se fizermos um retrato mais recente e considerarmos apenas as vendas de junho, a participação salta para 26,2%, a maior da história da Fiat. Como se não bastasse, ainda conseguiu colocar cinco de seus modelos na lista dos 10 carros mais vendidos no ranking desse mês.

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Herlander Zola, diretor da marca Fiat para a América do Sul

Mas não pense que a nova Fiat não tem nada a ver com a antiga. Muito pelo contrário, como Zola faz questão de dizer ao ser questionado sobre a personalidade atual da empresa. Ele garante que a essência original da marca continua viva até os dias de hoje.
“Desde que nasceu, a Fiat tem a vocação de ser ousada, de trabalhar aquilo que envolve tecnologia e inovação e tornar isso o mais acessível possível”, diz Herlander Zola.

Se analisarmos com calma, veremos que essa combinação de tecnologia e inovação já era evidente no seu primeiro lançamento no Brasil: o Fiat 147 trazia em 1976 um conceito inovador, tanto na engenharia quanto na abordagem mercadológica do produto. Tinha motor transversal (o primeiro de um carro nacional) em uma carroceria que era muito menor e também bem mais espaçosa que a do Fusca, seu principal concorrente, que era apenas o carro mais vendido do Brasil na época. “Essa é a lógica de trabalho da Fiat desde o início. E nos últimos anos a gente vem adotando um caminho que está muito relacionado a isso, que fica evidente quando falamos da renovação do nosso portfólio.”

Zola explica que a mudança do portfólio foi necessária porque a antiga estratégia, que era focada em ganhar dinheiro vendendo uma grande quantidade de veículos a um preço baixo, já não funciona mais.
“Fizemos muito sucesso durante muitos anos por ser muito eficiente entre os modelos de entrada em um momento em que a economia brasileira crescia bastante, quando a classe média passou a ter acesso aos veículos populares. Naquele instante, a Fiat tinha uma proposta vencedora. Mas o mercado começou a mudar, o comportamento das pessoas mudou, os SUVs passaram a crescer muito. Em função dessa mudança, a Fiat perdeu espaço.”

O ponto de inflexão para a Fiat começou com o lançamento da Toro, em 2016, e o desenvolvimento da renovação da Strada, que foi lançada em 2020. A empresa era líder entre as picapes, um segmento que na época era mais voltado ao trabalho, porém a direção da montadora acreditava que havia margem para fazer suas picapes invadirem o espaço de atuação dos automóveis de passeio, agregando mais conforto e tecnologia aos veículos.

O sucesso das duas picapes comprovou que a estratégia da Fiat era acertada. E, mesmo nos modelos que já estavam à venda, foram criadas versões mais equipadas e com algum toque de diferenciação, para entregar ao mesmo tempo mais valor percebido ao cliente e maior margem de lucro para a empresa. “O Mobi Trekking nasceu para isso, assim como o Argo tem essa mesma lógica com as versões Trekking e S-Design”, lembra o diretor.

Zola conta que, depois de ampliar os mercados onde já atuava, o passo seguinte da nova Fiat é conquistar um mercado no qual ele reconhece que a empresa está demasiadamente atrasada: os SUVs. E põe atrasada nisso, já que a Ford inaugurou esse movimento no Brasil com o EcoSport, em 2003, que depois foi acompanhado pela segunda onda dos SUVs, em março de 2015, com as estreias de Jeep Renegade e Honda HR-V.

“Quando a gente olha para o futuro, a meta é aumentar nossa cobertura de mercado. E os SUVs têm esse papel de colocar a Fiat em posição de destaque em segmentos onde hoje ela não atua. Isso vai acontecer este ano com o Fiat Pulse, que chega no segundo semestre [provavelmente agosto], e no ano que vem com um segundo SUV.”

O segundo SUV a que Zola se refere é um modelo que será produzido sobre a mesma base do Pulse (que usa uma evolução da plataforma usada no Argo), porém terá porte maior e faixa de preço para se encaixar entre o Pulse e o Jeep Renegade. Chamado internamente e de Progetto 376, o modelo deve ser lançado em fevereiro de 2022 com estilo SUV-cupê, trazendo elementos visuais do carro-conceito Fastback, apresentado no Salão do Automóvel de 2018.

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O SUV que será lançado em fevereiro de 2022 deve se inspirar no conceito Fiat Fastback, de 2018

EM BUSCA DA ELETRIFICAÇÃO PERDIDA

Outra área em que a Fiat quer recuperar o terreno perdido é entre os veículos eletrificados, no qual a montadora também está atrás da concorrência. Afinal, a Nissan já oferece o elétrico Leaf desde 2019, a Renault tem o Zoe, a Chevrolet vende o Bolt e a Peugeot dispõe do e-208, sem contar os híbridos da Toyota e da Volkswagen.

Zola não tem dúvida que a chegada em massa dos veículos elétricos e híbridos ao mercado brasileiro é uma questão de tempo, embora ainda não seja possível precisar quando o movimento ganhará força aqui. “É muito difícil dizer em quanto tempo isso vai acontecer no Brasil, pois a gente tem condições estruturais próprias, questões que envolvem acessibilidade, a localização dessa produção, tudo isso pesa muito na velocidade com que isso pode crescer na aqui na região. Mas, sem nenhuma dúvida, podemos afirmar que isso é o futuro.”

O primeiro passo desse futuro é o Fiat 500 elétrico, que chega importado da Itália nos próximos meses. O hatch ganhou nova geração na Europa no ano passado e já está entre os mais vendidos do segmento. “Com o 500 elétrico, vamos trazer um produto consolidado na Europa, que vai servir como um holofote para os elétricos, que vai trazer o futuro”, diz ele.

O executivo garante que a Fiat estará muito bem preparada nessa área porque a partir deste ano passou a ter uma grande vantagem competitiva: fazer parte do Grupo Stellantis. Foi a fusão entre FCA e PSA, anunciada em janeiro, que permitiu à Fiat refazer seus planos para acelerar a eletrificação no Brasil e na América do Sul, já que agora abre-se um novo leque de possibilidades, não somente porque pode aproveitar plataformas e tecnologias já existentes no grupo como também por poder dividir investimentos nessa área nos mercados sul-americanos.

“Boa parte do nosso trabalho na eletrificação no momento está sendo desenvolvido em virtude da possibilidade que temos da utilização mútua de plataformas dentro da Stellantis, algumas já eletrificáveis. A ideia é trabalhar na possibilidade de eletrificar os produtos que já temos hoje no nosso portfólio.”

Zola não dá mais detalhes sobre quais seriam esses produtos, mas sua declaração esquenta ainda mais as informações das fontes do mercado que confirmam que a Stellantis vai produzir no Polo Automotivo Fiat, em Betim (MG), motores a combustão com tecnologia híbrida e motores 100% elétricos, que deverão equipar os primeiros veículos entre 2024 e 2025. “Ainda não é um fator diferenciação, mas dentro de alguns anos tudo aquilo que envolver a eletrificação vai ganhar espaço no Brasil.”

OS NOVOS NEGÓCIOS DA FIAT

Além da eletrificação, outra aposta da marca que está confirmada para os próximos anos é a ampliação do investimento em plataformas digitais conectadas, que vão facilitar a vida dos consumidores ao mesmo tempo que proporcionarão à Fiat a conquista de novos mercados.

“Tudo aquilo que envolve conveniência para os clientes é alvo dos nossos planos”, disse Zola, citando como um exemplo a plataforma de e-commerce Cart. Disponível no segundo semestre para a picape Toro e outros modelos da Stellantis (Jeep e Peugeot, por enquanto), o recurso permite que o motorista possa fazer compras on-line por meio da central multimídia do automóvel. “A facilidade e a conveniência do Cart são tão grandes para o cliente que temos convicção que esse é um negócio muito promissor e que pode evoluir de maneira muito rápida.”

Dentro dessa estratégia, destaca-se também o programa de carro por assinatura Flua!, inaugurado no início deste ano, que inclui modelos da Jeep. O serviço é um modelo de negócio que pode atrair novos consumidores para a Fiat além de ser uma fonte de receita em uma área totalmente nova. “O Flua! tem um potencial enorme. A gente acredita que ele pode ganhar espaço e tudo vai depender da velocidade com que os clientes vão se adaptar.”

Definitivamente a era da Fiat de ganhar dinheiro vendendo apenas carros baratos ficou para trás.

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