Montadoras usam “jeitinho” para contornar a crise dos semicondutores

Soluções criativas globais incluem deixar carros semiprontos no pátio, tirar itens de série, rebaixar nível de sofisticação e até recorrer aos tribunais para não parar sua produção

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crise dos semicondutoresCrise dos semicondutores

A definição de “jeitinho brasileiro” se encaixaria com perfeição nas soluções criativas que as montadoras globais estão encontrando para escapar da crise mundial dos semicondutores, que tem deixado linhas de montagem paradas por falta de componentes eletrônicos no mundo todo, inclusive no Brasil.

Fabricantes nos Estados Unidos e na Europa estão buscando alternativas das mais variadas para contornar essa escassez, que vai desde estocar veículos inacabados para serem finalizados no futuro, passando pela redução do nível de tecnologia dos modelos atuais – para restringir a aplicação de microprocessadores aos equipamentos essenciais – até recorrer aos tribunais, como revela uma reportagem da agência Bloomberg.

A repentina retomada da economia mundial depois do fechamento das fábricas no mundo todo em 2020 devido à pandemia tem se somado ao aumento da demanda global por aparelhos eletrônicos pelos consumidores presos em casa em razão do isolamento social. Mas essa é só uma parte do problema, embora seja a maior.

A mudança dos motores a combustão para os modelos elétricos está acontecendo mais rápido do que o imaginava, o que tem provocado uma grande procura por processadores automotivos, como explica o Kurt Sievers, CEO da NXP Semiconductor. A empresa estima que vai entregar 20% mais chips de automóveis (em receita) no primeiro semestre de 2021 em comparação a 2019, apesar de a produção de automóveis ter caído 10% no mesmo período.

Para ter uma ideia da fome dessa indústria por microprocessadores, um estudo da IHS/Deloitte revela a crescente importância dos semicondutores nesse setor ao longo dos anos. De acordo com o relatório, 18% do custo total de um automóvel em 2000 era formado por componentes eletrônicos. Esse percentual subiu para 40% em 2020 e estima-se que, em 2030, chegará a 45%.

Com essa desconexão entre oferta e demanda, as montadoras estão se virando como podem. O segredo é buscar alternativas. A Stellantis passou a trabalhar com uma padronização maior em sua linha de veículos, em vez de ter que usar processadores específicos para determinados modelos, como disse à Bloomberg o CFO do grupo, Richard Palmer. “Mais padronização e flexibilidade, o que é fundamental quando temos restrições de fornecimento”, disse ele. “Estamos administrando a escassez.”

É por isso que algumas empresas estão procurando soluções menos convencionais, como recorrer aos tribunais. A empresa JVIS-USA LLC, fornecedora americana da Stellantis, tentou processar a NXP em um tribunal de Michigan (EUA) na tentativa de obter mais microprocessadores, mas um juiz rejeitou o pedido. A sistemista Visteon é outra que indicou que as montadoras podem ir à Justiça para buscar compensação por causa da escassez de semicondutores.

Para agravar esse cenário, crescem as previsões do que o fornecimento de componentes eletrônicos ainda vai demorar alguns anos para ser normalizado, como confirmaram analistas internacionais para a agência Automotive News e como disse no início de maio o CEO da Intel em uma entrevista para a TV.

Conheça a seguir a solução encontrada por alguns fabricantes para lidar com o mesmo problema.

FORD: a empresa está estocando em uma área de vários quarteirões perto de Detroit um grande lote de picapes Ford F-150 que estão sem alguns processadores, além de também armazenar veículos ainda inacabados à espera da chegada de semicondutores.

NISSAN: está deixando milhares de veículos saírem da fábrica sem sistemas de navegação, que normalmente seriam itens de série, além de começar a priorizar o fornecimento de eletrônicos para os dois modelos mais vendidos em cada mercado principal. Outra ação, esta mais pontual, foi providenciar um carregamento de processadores da Índia para os EUA em um voo de carga fretado para não interromper sua produção.

RENAULT: na Europa, o SUV Arkana perdeu por enquanto a opção de ter uma tela digital de grandes dimensões no quadro de instrumentos, também não traz mais o sistema de navegação via satélite e ainda deixou de oferecer a opção de carregamento de celular por indução.

RAM: as picapes 1500 não trazem mais como equipamento de série seu sistema de espelho retrovisor inteligente, que monitora os pontos cegos. Além disso, a marca está retirando das versões mais baratas componentes que não usam microchips para não interromper a produção das versões mais sofisticadas, que têm margem de lucro maior.

PEUGEOT: está voltando a utilizar os velocímetros analógicos no painel do seu hatch médio 308 no mercado europeu, em vez da versão de quadro de instrumentos digital.

CHEVROLET: as picapes Chevrolet Silverado estão sendo produzidas nos EUA sem um módulo de economia de combustível, o que tem aumentado ligeiramente o consumo do motor durante o uso.

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