Hyundai
Produtos certos, na hora certa, bem equipados, design agradável, preços atraentes, alguma ousadia, rápida expansão da rede sem exageros, boa experiência de compra e assistência na concessionária. Esses são os ingredientes básicos do (talvez único) sucesso instantâneo do mercado brasileiro de veículos, protagonizado pela coreana Hyundai, que com apenas dois produtos nacionais competitivos conseguiu, no curto espaço de quatro anos, entrar para o seletivo clube das quatro marcas mais vendidas do País – algo que permaneceu inalterado por mais de três décadas.
Em 2016 a Hyundai emplacou o total de 197.860 veículos, sendo 30.186 unidades comercializadas pelo Grupo Caoa – importador oficial exclusivo da marca que desde 2008 também monta modelos sob licença em Anápolis (GO); hoje o minicaminhão HR e os SUVs Tucson, ix35 e New Tucson. A fábrica de Piracicaba (SP) – um investimento próprio da Hyundai que inaugurou a planta em 2012 e há três anos opera em três turnos de produção – foi responsável por todo o resto, abastecendo o mercado brasileiro com 167.674 carros da família HB20, hatch e sedã, que responderam por 85% das vendas da marca no País.
Enquanto as vendas totais da marca caíram 3,33% no ano passado na comparação com 2015, considerando apenas os emplacamentos dos HB20 houve crescimento de 2,4%. Na soma geral, a Hyundai abocanhou 1,7 ponto porcentual de participação no mercado brasileiro, alcançando market share de quase 10% (9,96%), e assim conquistou a quarta posição do ranking nacional, subindo duas posições na tabela e desalojando as tradicionais Ford e Renault.
EM BUSCA DE DIFERENCIAÇÃO
“Esse sucesso começou a ser desenhado desde o início da operação brasileira em Piracicaba, em 2012, com o lançamento de carros que acertaram em cheio o gosto do consumidor brasileiro, tanto pelo design como pela oferta de equipamentos de série desde as versões de entrada como direção assistida, ar-condicionado e sistema de infoentretenimento, coisas que os concorrentes não ofereciam”, enumera Angel Martinez, que em outubro passado assumiu a direção de marketing e vendas da Hyundai Motors Brasil. “Com produto que oferece mais (por preços parecidos) a marca deu uma chacoalhada nas big 4”, resume o executivo.
Martinez também destaca a estratégia adotada nas cerca de 200 concessionárias HMB – que só vendem os produtos fabricados em Piracicaba. “Tomamos o caminho de oferecer uma experiência de compra agradável, um momento especial, com entrega técnica personalizada em horário agendado, além de oferecer assistência técnica que vem sendo bastante elogiada pelos clientes, que contam com cinco anos de garantia e reconhecem a qualidade do veículo. Isso garante a segunda compra na mesma marca e valoriza o carro usado na hora da troca”, afirma o diretor.
Com apenas 50 anos fabricando carros, Martinez destaca que o Grupo Hyundai criou uma cultura corporativa bastante diferente dos fabricantes tradicionais, com ousadia bem dosada e calculada, que fez a marca se diferenciar em diversos mercados no mundo. No Brasil acontece o mesmo. “Tínhamos de nos diferenciar. Se fôssemos fazer da mesma forma que os outros seríamos apenas mais uma marca. Apostamos em oferecer produtos desejados, qualidade, garantia e processos de venda que têm como missão conquistar o cliente pelo resto da vida dele”, diz.
SEM LOUCURAS
Martinez garante que a conquista do quarto lugar em 2016 foi realizada sem descontos excessivos ou grandes volumes de vendas diretas para turbinar os emplacamentos do ano. “Fomos agressivos em oferecer bom conteúdo com uma estratégia saudável, sem praticar loucuras de fim de ano. Não teve política excepcional, não foi adotado nada diferente em dezembro para assegurar o quarto lugar”, afirma, referindo-se à prática conhecida como rapel, em que as montadoras emplacam carros não vendidos para aumentar a participação de mercado.
O diretor afirma também que está “funcionando bem” a divisão e ao mesmo tempo parceria de mercado que a Hyundai tem com o Grupo Caoa, que é o maior concessionário da marca no País, com 61 lojas próprias e 31 licenciadas para a venda dos modelos importados e montados em Anápolis, além de outras 31 concessionárias HMB, que vendem os carros feitos em Piracicaba. “É o nosso maior vendedor, que tem investido e se diferencia”, diz Martinez.
O número de concessionárias HMB deverá ser mantido no patamar atual de 200 pontos de venda, para garantir maior rentabilidade por loja, segundo Martinez. “Não temos planos de ampliar a rede, no máximo poderemos fazer alguma renovação, pois a Hyundai já é uma das franquias mais desejadas, devido à boa rentabilidade.”
OTIMISMO
Para o diretor, 2017 deverá ser outro ano bom para a Hyundai no Brasil, especialmente com a chegada ao mercado de mais um produto feito em Piracicaba, o SUV compacto Creta, que começou a ser vendido em janeiro. “Seguimos os mesmos princípios adotados no HB20, com boa oferta de equipamentos, o motor 1.6 mais potente do segmento (130 cv) e grande gama de preços (que vão de R$ 72,9 mil a R$ 100,6 mil). Acreditamos que será outro sucesso de vendas”, afirma.
A Hyudai espera vender cerca de 3 mil Creta por mês em 2017 (leia aqui). Isso deverá ser mais que suficiente para manter a fábrica de Piracicaba trabalhando em três turnos. Atualmente a planta opera com 90% de sua capacidade, segundo a Hyundai.
Martinez diz que a Hyundai espera crescimento do mercado brasileiro em linha com a projeção da Anfavea, que estima expansão das vendas em torno de 4% em 2017. “Estamos otimistas, com expectativa de PIB positivo, juros e inflação em queda. É um cenário macroeconômico melhor que o visto em 2016. Mas como já são vários anos declinando, esperamos agora um avanço leve. Se vier mais será bom para todos.”