Veículos elétricos no Brasil
Um novo estudo divulgado pelo Boston Consulting Group (BCG) revelou que as vendas de veículos elétricos no Brasil deverão atingir no máximo 10% em 2030. É um crescimento bem mais lento do que terão China, EUA e União Europeia no mesmo período. Nessas praças, o levantamento projeta que os elétricos irão corresponder a 50% das vendas de veículos em 2026, daqui a apenas cinco anos.
Em 2020, segundo a ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico), o Brasil emplacou apenas 19.745 veículos elétricos, um aumento de 66,5% em relação a 2019. O valor, entretanto, ainda é tímido em comparação com mercados maiores – nos EUA, foram 296 mil veículos vendidos no ano passado, o que representou queda em relação a 2019, justificada pela pande
ENQUANTO BRASIL ESTACIONA, ADESÃO AOS ELÉTRICOS ACELERA NOS PAÍSES RICOS |
O estudo do BCG indica que os motivos para a projeção otimista nos países ricos são a queda nos preços das baterias (que ainda são o componente mais caro dos VEs, correspondendo a até 30% do valor final) e a estipulação de metas agressivas de cortes na emissão de gases de efeito estufa. Na Conferência do Clima, em abril, a União Europeia firmou acordo para reduzir em 55% de suas emissões até 2030 e zerá-las até 2050.
Muitas montadoras, inclusive, estão aproveitando a situação para impor suas próprias metas. Em projeções com anos-base diferentes, a Toyota anunciou um plano de redução de 90% das emissões até 2050, a BMW prometeu cortar 33% até 2030, a Ford disse que o plano é eliminar 76% até 2035 e a Volkswagen prometeu eliminar 30% das emissões até 2025 e 100% até 2050. Na prática, isso vai significar investimentos massivos em carros elétricos e redes de recarga.
No Brasil, porém, tudo vai ser bem mais devagar e os motivos para isso são vários. O estudo aponta que a falta de normas regulamentadoras sobre emissões, de incentivos financeiros e de compromisso governamental com os elétricos irá dificultar o crescimento da frota por aqui. No momento atual, um carro elétrico no Brasil custa três vezes mais que um a combustão.
“O Brasil está um passo atrás”, afirma Masao Ukon, sócio e diretor executivo do BCG. Ele explica que o país atualmente trata os elétricos como produtos “premium” e que a evolução do segmento vai depender da nossa relação com o etanol, que tem prioridade nas pautas do governo.
“É muito difícil dizer, neste momento, qual vai ser o ritmo de adoção. Vai depender muito de como vão ser os próximos anos, em termos de evolução e tecnologia e em termos da própria relação com o biocombustível”, afirma ele. |
NEUTRALIDADE CLIMÁTICA SÓ É POSSÍVEL COM MUDANÇA NA MOBILIDADE |
Ainda segundo Ukon, a promessa de “neutralidade climática” feita pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para o Brasil na Cúpula do Clima pode acabar não englobando medidas para os elétricos, diferentemente do que acontece em outros países, onde eles estão no centro da discussão. “O principal ponto do relatório é que há vários caminhos de descarbonização para o setor automotivo no mundo e, em particular, no Brasil, dada nossa matriz energética e a própria infraestrutura de biocombustível única. Há vários caminhos para o setor contribuir com a descarbonização, desde a própria eletrificação, passando pelos biocombustíveis e pela renovação da frota”, argumenta ele.
O estudo faz o alerta de que o papel do setor de transporte é “crítico” para evitar que a temperatura do planeta aumente em 1,5 oC, conforme foi determinado no Acordo de Paris, assinado por 196 países em 2015, inclusive o Brasil. O setor responde por 12% do total de emissões globais de CO2.
No entanto, mesmo que as previsões do estudo se concretizem, 70% dos veículos rodando nas ruas e estradas do planeta em 2035 ainda serão movidos a combustão, o que pode dificultar o atingimento das metas mesmo entre os países mais desenvolvidos.