O que será dos carros a combustão com o domínio dos elétricos?

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O boom dos veículos elétricosboom dos veículos elétricos

boom dos veículos elétricos (EV) já é realidade na Europa. A Ford, por exemplo, planeja eletrificar toda sua produção no continente até 2030; na Noruega, país que mais aposta nessa tecnologia, os EVs correspondem a mais da metade dos carros em circulação, segundo o economista Daniel Schnaider, CEO da Pointer by Powerfleet Brasil.

Com a crescente onda de incentivo a modais sustentáveis no mundo, o movimento parece estar só começando. A China chegou à marca de 1,3 milhão de unidades vendidas no ano passado, em crescimento de 15% em comparação a 2019, de acordo com o CEO da Smart Driving Labs, Fernando Schaeffer.

 

Ainda que mais forte em alguns países e mais lenta em outros, a eletrificação virá com tudo nas próximas décadas. Mas o que será feito dos carros a combustão quando os elétricos ganharem o mundo? Como será essa transição?

Especialistas fizeram projeções em entrevista ao TecMundo e ao , evento que começa em 17 de maio, . Confira como cinco profissionais enxergam esse futuro.

O que acontecerá com os veículos a combustão?

Schaeffer lembra que a idade média de um veículo hoje é de quase 12 anos nos Estados Unidos e um pouco mais de 10 no Brasil. Então, mesmo que 100% dos carros produzidos fossem elétricos a partir de hoje, ainda levaria muitos anos para que toda a frota fosse substituída por EVs.

Para onde iriam os carros antigos? A reciclagem é o primeiro destino mais indicado para aqueles que ultrapassarem o tempo de vida útil. E esse mecanismo não parece ser um bicho de sete cabeças; nos Estados Unidos, por exemplo, já são reciclados em torno de 75% dos veículos a combustão.

“Esse material é reutilizado por inúmeras indústrias que necessitam de ferro, plástico, vidro e outros componentes. Isso nos leva a crer que não faltarão consumidores para eles”, argumenta Schaeffer.

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Por volta de 10% de um veículo ainda servem para reciclagem completa, segundo especialistas.

Davi Bertoncello, CEO da Tupinambá Energia, acrescenta que, em média, 85% das peças podem ser reaproveitadas, e cerca de 10% de um veículo servem ainda para reciclagem completa.

Um ponto que pode ser positivo no reaproveitamento tem a ver com a própria estrutura dos carros que estão surgindo, incluindo aqueles a combustão. O diretor de inteligência e estudos de mercado da Liga Ventures, Raphael Augusto, menciona que a maioria tem formatos que facilitam a reutilização de elementos antigos em carros novos.

Somam-se a isso os incentivos a consumidores que aderem a programas de recompra programada, garantindo menor risco de desperdícios nessa cadeia, conforme Augusto.

Reciclagem apresenta desafios

Para o professor de Física Arnaldo Bohn Nobre, do cursinho Hexag, um grande desafio na reciclagem são os componentes específicos que não podem ser reutilizados, como o bloco do motor, o tanque principal de combustível, o eixo de transmissão e câmbio e a caixa de diferencial, que devem mudar nos projetos híbridos e elétricos.

O custo do processamento dessa reutilização pode ser outro entrave, segundo Edson Watanabe, membro do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE) e professor de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “No caso do Brasil, uma mudança radical de veículo a combustão interna para elétrico vai exigir grandes mudanças na infraestrutura de fornecimento de energia elétrica em geração, transmissão e distribuição”, defende o especialista.

Mudanças virão em ritmo lento

summit mobilidadeA ampla estrutura de postos e a expertise do Brasil em etanol podem acomodar o País por um tempo no mercado de veículos híbridos ou a combustão.

A migração definitiva não vai acontecer de um dia para o outro. “Devemos ter uma coexistência de décadas de ruas tomadas por elétricos em números crescentes, mas carros a combustão ainda vão permanecer por muito tempo”, prevê Arthur Igreja, especialista em inovação e tendências. Uma mostra disso é o Brasil: aqui, os carros elétricos ainda são inacessíveis para a maioria da população, e a rede de recarga é insuficiente.

Além disso, o fato de o País ter expertise em energias renováveis, como o etanol, pode ao menos por um tempo acomodar a indústria nacional no mercado de carros a combustão ou, em longo prazo, no segmento dos híbridos. É por isso que Schnaider vê uma alternativa anterior à reciclagem no processo de transição: a venda de segunda mão ao menos enquanto o mercado de combustíveis for um dos pilares da economia global. “A indústria petroleira, por exemplo, gera mais de meio milhão de empregos formais só no Brasil”, lembra.

Será necessário lidar também com o fato de a própria indústria de carros elétricos não ser 100% sustentável e por isso ainda demandar bastante aprimoramento. Segundo Schaeffer, todos os veículos elétricos e a maioria dos híbridos dependem de grandes baterias de íon de lítio que pesam centenas de quilos.

“Na pressa de adotar essa tecnologia, empresas automobilísticas estão usando o mesmo pretexto da indústria do plástico e alegam que as baterias serão recicladas”, argumenta. Mais uma vez, economia e meio ambiente se esbarram, mostrando que nem tudo é tão simples quando o futuro do planeta está em pauta.

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