Surto de coronavírus
SÃO PAULO (Reuters) – As montadoras de veículos do Brasil elevaram produção em janeiro na comparação com dezembro, e passaram a acompanhar diariamente o fluxo de peças importadas da China diante da epidemia do novo coronavírus, que tem como epicentro a província de Hubei, uma das principais regiões automotivas do país asiático.
A produção subiu 12,2% na comparação com dezembro, para 191,4 mil carros, comerciais leves, caminhões e ônibus, mas recuou cerca de 4% na comparação com janeiro do ano passado.
Questionado sobre os impactos da epidemia sobre o setor, o presidente da associação que representa as montadoras, Anfavea, Luiz Carlos Moraes, negou que o setor esteja sentindo algum efeito da crise, mas afirmou que a indústria está “monitorando 24 horas por dia não só as peças que nós importamos, mas os fornecedores de nossos fornecedores”.
“Hoje nós não temos problemas, temos estoques de segurança que em algumas peças chega a ser de 3 a 4 meses”, acrescentou. O executivo, porém, não pode precisar qual o peso dos componentes chineses na produção nacional de veículos e também não estimou qual seria a duração média dos inventários.
A produção de muitas fábricas na China está suspensa desde o feriado do ano novo lunar no final de janeiro, e a suspensão deve durar pelo menos até o final desta semana. O vírus já matou 563 pessoas e infectou mais de 28 mil na China. Montadoras incluindo Hyundai, Toyota, Tesla, Ford, PSA Peugeot Citroen e Nissan estão sofrendo impactos.
“Não vamos criar uma epidemia que não existe no nosso sistema de logística. Por enquanto, não temos esse risco”, disse Moraes ao ser questionado se o Brasil corre o risco de ver algum anúncio como o feito nesta semana pela Hyundai na Coreia do Sul.
A montadora sul-coreana anunciou que vai suspender a produção na Coreia do Sul porque o coronavírus interrompeu o fornecimento de peças. A Toyota afirmou nesta quinta-feira que estava avaliando alternativas para fornecimento de componentes produzidos na China.
Segundo dados da Anfavea, a produção de janeiro foi a mais baixa para o mês desde 2017, atingida em parte pela continuidade na queda das exportações diante da fraqueza da economia argentina, principal compradora dos veículos nacionais. As vendas de veículos montados no Brasil para o exterior despencaram 20 por cento em janeiro sobre um ano antes, para 20 mil unidades, menor volume para o mês desde 2009.
Já no mercado interno, os emplacamentos de janeiro foram prejudicados por problemas na emissão da nova placa Mercosul no Estado de São Paulo, algo já relatado pela associação de concessionários, Fenabrave, nesta semana.
Segundo o diretor-executivo da Anfavea Aurelio Santana os licenciamentos que deixaram de ser feitos em janeiro estão sendo feitos neste mês e “a média diária (de emplacamentos) já subiu para 12 a 13 mil por dia útil”.
BALANÇO
O presidente da Anfavea aproveitou a divulgação dos números do setor em janeiro para fazer um balanço da situação da indústria, em que defendeu o andamento da reforma tributária como forma de reduzir os custos e dar competitividade à indústria nacional.
Segundo Moraes, nos últimos dez anos 16 fábricas de veículos foram inauguradas no Brasil, elevando o total para 67, distribuídas por 10 Estados. Apesar disso, o emprego nos fabricantes de automóveis recuou de um pico de 135 mil em 2013 para 107 mil no final de 2019.
“As montadoras receberam ingresso líquido de 24 bilhões de dólares nesse período, incluindo para ajudar a suportar a pior crise que este país já viu”, disse o presidente da Anfavea, citando valores que incluem investimentos diretos das matrizes e remessa de dividendos ao exterior.
“O setor automotivo é muito importante para o Brasil…mas vamos ter que discutir isso (carga tributária), em qualquer país do mundo isso é mais aceitável”, disse Moraes afirmando que o peso dos impostos sobre um veículo de 1.000 cilindradas é de 27,1 % no Brasil.