O novo presidente para a América Latina do grupo Fiat Chrysler Automobiles (FCA), Antonio Filosa, está otimista em relação à recuperação do mercado de carros no Brasil. A empresa vai anunciar dentro de alguns dias um novo plano de investimentos para a região e há uma grande expectativa em relação à aprovação em Brasília de um conjunto de regras para o setor, o chamado Rota 2030. Filosa, no entanto, modera suas esperanças em relação ao ritmo da retomada. E diz que não vê tão cedo o mercado brasileiro voltar ao que foi antes do período de recessão.
Em 1o junho, o grupo apresentará na Itália seu plano de investimento global e a América Latina deve receber uma fatia importante dos recursos planejados. A FCA tem fábricas em Betim (MG), Goiana (PE) e Córdoba, na Argentina.
O Brasil chegou a vender 3,6 milhões de carros e no pior momento da crise encolheu para menos de 2 milhões. No ano passado, já superou um pouco essa marca e este ano deve atingir os 2,4 milhões.
Inflação e taxa Selic em níveis historicamente baixos estão ajudando a retomada, assim como sinais de que o brasileiro está mais confiante em relação ao futuro.
“Se a inflação continuar desse jeito e se a economia continuar nessa retomada não haverá razão para o Banco Central aumentar a taxa Selic. Isso significa que teremos crédito mais acessível e isso vai ajudar na retomada do crescimento”, disse Filosa ontem a um grupo de jornalistas.
“O Brasil está voltando a ser otimista como era antes”, disse o executivo de 44 anos, natural de Nápolis, que assumiu há algumas semanas o comando da FCA América Latina.
Dados da Anfavea, a associação das montadoras, divulgados ontem, mostraram que abril foi o melhor mês de vendas para o setor desde dezembro de 2015. No caso da FCA – que produz no Brasil modelos Fiat e Jeep – o número de emplacamentos entre abril de 2017 e abril de 2018 subiu 47% para 37.355. Filosa aposta numa recuperação puxada pelo consumo das famílias, por carros mais baratos, e também por empresas de pequeno porte.
Fiat Chrysler Automobiles
A Fiat Chrysler Automobiles (FCA) tirou, nos últimos anos, alguns carros de linha e lançou outros (Mobi, Argo, Cronos, Toro, nova Ducatto) e diz ter modelos que se encaixam bem nesse momento de recuperação.
Um dos obstáculos continua a ser o desemprego alto, em 12,6%. Num encontro recente com economistas, Filosa ouviu que recuperação nesse quesito levará ainda alguns anos. “Até 2020 vai ser só retomada de emprego perdido. E a partir de 2021, vai ser criação de novos postos de trabalho.”
Isso ajuda a explicar porque o cenário pré-crise levará algum tempo ainda para ser reconstruído. Se o Brasil voltará a comprar na faixa dos 3 milhões de carros? Sim, diz o presidente da FCA.
Recuperação
A recuperação será puxada pelo consumo das famílias, por carros mais baratos, e pelas pequenas empresas. “Mas não nos próximos cinco anos. Nossas previsões não nos deixam ver o mercado superior a 3 milhões daqui a cinco anos”.
O que é considerado crucial agora pela indústria é a aprovação do chamado Rota 2030, que será, se aprovado pelo governo, o novo programa automotivo do país.
“Quanto mais cedo for aprovado melhor. Espero que não tenhamos de esperar até outubro, novembro, porque seria perder tempo. O programa está lá”, diz Filosa, para quem as novas condições beneficiam montadoras e toda a cadeia de fornecedores. Mais do que isso, diz o executivo: daria ao Brasil um grau de previsibilidade para investimento talvez superior a todas as outras regiões do globo onde a Fiat Chrysler Automobiles atua.
Argentina e a crise
Sobre a Argentina e a crise cambial na qual o país mergulhou nas últimas semanas, Filosa diz que observa as próximas reações do governo. “Se a situação persistir, é fácil imaginar um mercado que vai se contrair um pouco”, disse o executivo. As expectativas eram de vendas do setor acima de 1 milhão de veículos comerciais leves este ano.
Agora, Filosa duvida que será possível chegar a 1 milhão. O lado positivo é que talvez por algum tempo o Cronos vendido no Brasil e fabricado na Argentina poderá chegar aqui a um preço mais competitivo. “É preciso observar como o governo vai atacar para recuperar a estabilidade lá”. (Valor Econômico/Marcos de Moura e Souza)