Fiat Cronos traz novos tempos à FCA Argentina

Planta de Córdoba recebeu investimento de US$ 500 milhões, fornecedores colocaram mais US$ 110 milhões

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Cronos, dono do tempo na mitologia grega, ganhou a forma de um carro no complexo industrial da Fiat Chrysler (FCA) em Córdoba, para trazer novos tempos de prosperidade à planta argentina do grupo.

Fiat Cronos

O novo sedã Fiat lançado na quarta-feira, 7, no mercado argentino marca o início de um novo ciclo industrial na fábrica localizada desde os anos 50 no bairro de Ferreyra, financiado por investimento de US$ 500 milhões iniciado 18 meses antes, que resultou na renovação completa da planta, convertida em polo de manufatura de classe mundial com forte vocação exportadora – dois terços da produção do Cronos, estimada de 120 mil unidades/ano, serão exportados principalmente para os brasileiros, mas o modelo também vai para Uruguai, Paraguai, Chile, Peru, Colômbia e há estudos para o México.

O mesmo processo de desenvolvimento industrial aconteceu no Brasil desde a inauguração, em 2015, do Polo Industrial Jeep de Goiana (PE) e da profunda modernização de Betim (MG) que se transformou em Indústria 4.0 com a chegada do Argo (a versão hatch do Cronos) à linha de produção no ano passado.

“A FCA é a empresa do setor que mais investiu na região nos últimos anos, com o objetivo de fazer produtos com os melhores padrões mundiais. Usamos aqui hoje as melhores tecnologias de produção disponíveis no mundo”, afirmou Stefan Ketter, presidente da companhia na América Latina.

 

FCA

Ketter também segue sendo o chefe global de manufatura da FCA. Desde que veio ao Brasil em 2014 para liderar a construção da fábrica de Goiana, e dois anos mais tarde nomeado para substituir Cledorvino Belini no comando da divisão latino-americana, o executivo implantou nas unidades de produção da região os conceitos do World Class Manufacturing, que ele mesmo projetou no início dos anos 2000 ainda no Grupo Fiat. “É preciso ter processos consistentes e de qualidade para dar competitividade internacional à região”, defende.

Fiat Cronos traz novos tempos à FCA Argentina
Fiat Cronos traz novos tempos à FCA Argentina

É o que foi feito em Córdoba com a chegada do Cronos, que começou a ser fabricado efetivamente em janeiro – o carro será vendido no Brasil a partir de março. A empresa chama a atual fase de “novo ciclo industrial de excelência da FCA Argentina”, que entre outras modernizações aumentou significativamente o índice de automação da fábrica, de 15% para 85% no caso do setor de funilaria, onde são soldadas as carrocerias, que ganhou 150 novos robôs.

Component Center

Assim como já acontece com as mais modernas plantas do grupo no mundo, o complexo ganhou uma área de verificação e validação de componentes (Component Center), outro para processos e treinamentos (Process Center) e o Vehicle Center que audita o veículo completo, além do Communication Center que serve de ponto de intersecção de todas as áreas do processo produtivo. A unidade tem 2,6 mil empregados e opera atualmente em um só turno de oito horas, produzindo 320 carros por dia.

Por enquanto, tudo foi feito para produzir apenas o Cronos, que será fabricado exclusivamente na Argentina, em nenhum outro lugar no mundo. “Espero voltar aqui em três meses para discutir um novo projeto”, disse o presidente argentino Maurício Macri na cerimônia oficial que marcou o começo do novo ciclo da fábrica de Córdoba – foi com a Sevel, empresa da família Macri, que foram montados os primeiros Fiat no país. Com capacidade para fazer cerca de 250 mil veículos por ano em dois turnos, é difícil imaginar que o investimento de US$ 500 milhões em Córdoba tenha sido feito só para a produção de um modelo. “Agora é hora de colher os frutos do investimento”, desconversou Ketter, mas admitiu que “não é correto” pensar que inexistem planos para outro produto nos próximos anos.

Nacionalização forte

Segundo Ketter, o grande grau de nacionalização do Cronos, feito com 55% de componentes argentinos, e o volume alto de exportação ao Brasil “será mais que suficiente” para atender o regime automotivo flex entre Brasil e Argentina, que prevê quotas móveis de comércio de veículos entre os dois países sem cobrança de imposto de importação. Em 2017 essa corrente comercial ficou desequilibrada para o lado do Brasil, que exportou ao país vizinho quantidades acima da quota.

O Cronos nasceu com 53% de componentes nacionais, porcentual que em breve passará a 55%. Os investimentos feitos por fabricantes de autopeças para atender a produção do sedã chegam a US$ 110 milhões, a maior parte por quatro fornecedores globais que estão instalando fábricas na região. As peças argentinas, inclusive grandes partes estampadas da carroceria, são fornecidas por 70 empresas, 20 delas localizadas em Córdoba, que todas juntas empregam mil pessoas e estão na ponta de uma cadeia calculada em mais de 200 subfornecedores. O índice de localização sobe para 65% quando se considera toda a cadeia de valor que inclui também a mão de obra.

“Conseguimos fazer o trabalho em tempo recorde de criar em apenas 18 meses uma cadeia de suprimentos competitiva na região para o Cronos, porque demos aos fabricantes um projeto consistente e de longo prazo”, explica Antonio Filosa, diretor geral da FCA Argentina e também diretor de compras da empresa na América Latina. Segundo ele, muito pouco do Cronos vem de fora do Mercosul: “O índice de regionalização está em torno de 90%, só importamos de outros países o que não encontramos no Brasil ou Argentina, como a caixa de câmbio automática (Aisin)”, diz.

Macri

Também ajudou a legislação aprovada pelo governo Macri de desenvolvimento de fornecedores locais de autopeças, parte do projeto de fazer o país produzir 1 milhão de veículos/ano a partir de 2020 e criar mais 35 mil empregos no setor. “Sem a fabricação local de componentes a indústria automotiva não se solidifica”, destacou o presidente Macri.

“A tecnologia é inútil [para o desenvolvimento da indústria] se não for localizada”, diz Ketter, que defende a maior integração de Brasil e Argentina, com produção de modelos diferentes para incentivar trocas em um mercado comum, como acontece agora na FCA com o Cronos de um lado da fronteira e outros carros no lado brasileiro. Ele também afirma que os programas de desenvolvimento do setor deveriam ser unificados.

“No Brasil estamos em ampla discussão sobre o Rota 2030 que dará maior previsibilidade ao setor, a Argentina deveria fazer o mesmo com regras parecidas”, reforça. “Os dois países têm potencial para exercer papel de liderança na América do Sul, especialmente agora com a retração dos Estados Unidos.”

Para Filosa, Brasil e Argentina devem se integrar para formar um “megamercado que nos melhores anos já chegou a consumir 5 milhões de veículos por ano”. Mas ele pondera: “Precisava ser um mercado mais fácil de trabalhar, não é exatamente o que acontece hoje”.