Citroen C3, como vai ditar o futuro da marca no Brasil

Compacto abre nova linha de produtos feitos para a América do Sul e indica novo posicionamento da empresa

500
Citroen C3
Nova geração do C3 aposta em visual parrudo e baixo custo de manutenção

Citroen C3

O novo Citroen C3 é o lançamento mais importante da Citroën nos últimos anos. Fabricado em Porto Real (RJ), o compacto será peça fundamental para definir o futuro da marca francesa no Brasil.

O hatchback marca a estreia da estratégia C-Cubed, sendo o primeiro de três produtos que chegam ao mercado brasileiro até 2024. Apesar de terem sido desenvolvidos na Índia, os modelos foram concebidos com foco no mercado sul-americano. Depois do C3, virão um SUV compacto de sete lugares e, possivelmente, um sedã.

Enquanto não chega a hora dos próximos carros desembarcarem por aqui, vamos focar nossas atenções no C3. A reportagem de Automotive Business avaliou as versões Feel 1.0 e First Edition 1.6 16V, e listou sete fatos sobre o compacto que só guardou o nome do antigo C3.

Novo Citroen C3 de olho “nas cabeças”

Citroen C3
Versão Feel (acima) deve puxar as vendas do compacto

Desde a sua revelação, a Citroën não escondeu quais seriam os principais concorrentes do novo C3. A fabricante mira Hyundai HB20 e Chevrolet Onix, nada menos do que o atual líder de vendas e o modelo que já foi o mais comercializado do Brasil por seis anos consecutivos.

É claro que não será nada fácil encostar nos rivais. Segundo números da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), o HB20 acumula 70.745 unidades emplacadas até setembro deste ano, enquanto o Onix contabiliza 60.582 emplacamentos até o nono mês de 2022.

Dividindo a conta, o modelo da Hyundai tem média mensal de 7.860 veículos e o compacto da Chevrolet teve 6.731 emplacamentos. Em seu primeiro mês cheio de vendas, o novo C3 vendeu 1.604 unidades.

A expectativa da Stellantis é de que o compacto da Citroën seja um dos quatro carros mais vendidos do país. Embora não tenha divulgado números iniciais de venda até a publicação dessa matéria, os executivos da marca estão otimistas. Até porque os preços de todas as suas configurações são bastante competitivos, como você confere abaixo:

Live 1.0 – R$ 68.990
Live Pack 1.0 – R$ 74.990
Feel 1.0 – R$ 78.990
First Edition 1.0 – R$ 83.990 (série limitada)
Feel 1.6 – R$ 86.990
Feel 1.6 Pack AT6 – R$ 93.990
First Edition 1.6 AT6 – R$ 97.990 (série limitada)

Só que fazer o novo C3 “bombar” não vai ser tão fácil assim. Pelo menos é o que acha Flavio Padovan, sócio da MRD Consulting. “O produto em si é muito bom, tanto em termos de design quanto no conteúdo, mas existem marcas mais tradicionais nesse segmento, e dentro de casa, como a própria Fiat”, afirmou.

Para atingir esse objetivo, é provável que a empresa ofereça condições interessantes para frotistas. É a mesma tática utilizada com bastante êxito pela Fiat e, mais recentemente, replicada pela Peugeot com o 208. Até o próprio Citroën C4 Cactus lança mão desse recurso para bombar os emplacamentos.

Independentemente do sucesso do C3, a expectativa da Citroën é se consolidar como uma marca mais acessível dentro da Stellantis. A ideia é oferecer produtos ao alcance do consumidor sem esquecer as características mais importantes da empresa francesa, como o design moderno e a criatividade em várias soluções.

O novo Citroen C3 até que poderia, mas não é um SUV

Citroen C3
C3 é bem mais alto e largo do que seus concorrentes

Apesar da tentação, a própria Citroën revelou que não quis classificar o C3 como um SUV. Até porque ela realmente poderia, pelo menos de acordo com os padrões estabelecidos pelo Inmetro. Foi justamente dessa brecha que se aproveitou a Renault ao chamar o Kwid de “SUV dos compactos”.

De toda forma, a Citroën decidiu chamar o novo C3 de um hatch com “atitude SUV”. Discursos de marketing à parte, o modelo realmente tem lguns predicados de utilitário esportivo. Dispõe de 18 cm de altura livre em relação ao solo (o Chevrolet Tracker, por exemplo, tem 15,7 cm), ângulo de ataque de 23º e ângulo de saída de 39º. Além disso, o C3 possui uma posição de dirigir muito elevada. Segundo a Citroën, o motorista se senta 10 cm mais alto do que em um Chevrolet Onix.

Maior do que parece

Citroen C3
Carro é bem maior do que parece – e isso deve atrair clientes

Assim que as primeiras fotos do C3 rodando em testes surgiram, muita gente achou que ele teria o porte de um Renault Kwid. Ledo engano.

In loco, o hatch é bem maior, com 3,98 metros de comprimento, 1,60 m de altura, 1,73 m de largura e distância entre eixos de 2,54 m. Tomando novamente o Tracker como referência, o modelo da Chevrolet tem apenas 3 cm a mais de entre-eixos e é 2 cm mais alto do que o novo C3.

O porta-malas do hatch francês comporta 315 litros, mas atenção para a tática da Citroën: o assoalho fica em posição bem baixa para compensar a falta de largura para um porta-malas deste tamanho. Não por acaso, esse recurso é utilizado em alguns modelos do grupo Stellantis, como o Fiat Pulse.

Design do novo C3 foge do convencional

Estilo descolado tem muitas semelhanças com o C4 Cactus

Enquanto muitos hatches da categoria são criticados pelas semelhanças, o Citroën C3 se destaca pelas linhas criativas. Muito, no entanto, foi herdado do C4 Cactus, como o conjunto óptico dividido em duas seções e até os Airbumps que podem equipar o compacto nas versões mais caras.

Apesar do parentesco, o C3 tem personalidade própria. As formas mais quadradas fazem com que ele seja facilmente reconhecido nas ruas. O capô alto tem vincos que reforçam a impressão de robustez e a boa altura em relação ao solo aumenta a sensação de imponência.

A cabine também abusa das formas diferentes. O acabamento em dois tons está presente inclusive na versão mais básica, enquanto os plásticos texturizados disfarçam a qualidade apenas regular dos revestimentos. Destaque para o desenho pouco comum das saídas de ar-condicionado.

Motorizações consagradas

Motores 1.0 e 1.6 entregam bastante agilidade no C3

O novo C3 está disponível em duas motorizações. As versões mais baratas trazem o conhecido 1.0 de três cilindros da família Firefly, presente no Fiat Argo e também no Peugeot 208.

Iguais também são os números de potência (75 cv / 71 cv) e torque (10,7 kgfm / 10 kgfm) com etanol ou gasolina, respectivamente. Mesmo assim, o representante da Citroën parece ser mais ágil nas acelerações e retomadas, a ponto de nem parecer um carro com motor 1.0. Além do propulsor, o câmbio manual de cinco marchas, que tem engates fáceis, também é compartilhado com Argo e 208.

Já as versões Feel e First Edition podem vir com o motor 1.6 16V EC5. São 120 cv / 113 cv e torque máximo de 15,7 kgfm / 15,4 kgfm, com opção de câmbio automático de seis velocidades. É o mesmo conjunto aplicado nos tempos da extinta PSA na geração anterior do próprio C3. Se não existem novidades, pelo menos é confiável. No novo C3, a engenharia da Stellantis executou um bom trabalho e deixou o hatch com dirigibilidade mais suave e refinada. Destaque também para o baixo nível de ruído na cabine.

Novo C3 aposta na conectividade

Central multimídia com tela de 10 polegadas se destaca na cabine

Apenas a versão de entrada Live não traz central multimídia. É uma pena, já que o sistema batizado de Citroën Connect está entre as melhores centrais do mercado.

Além da vistosa tela tátil de 10 polegadas, ela suporta Android Auto e Apple CarPlay sem a necessidade de fios. Isso permite que qualquer passageiro possa conectar seu smartphone. Tudo isso é controlado por uma interface bastante fácil de ser entendida e uma navegação muito intuitiva, que melhora a experiência.

Existem controles de volume e algumas outras funções no volante. Porém, na versão Feel, faltam botões físicos e atalhos do sistema de som, obrigando o motorista a tocar na tela para avançar a faixa de música, por exemplo.

Fisgando pelo bolso

Citroën aposta no baixo custo de manutenção para chegar ao top 4

A Citroën gosta de ressaltar que o novo C3 conta com as revisões mais acessíveis do segmento. Nas versões 1.0, as três primeiras manutenções são realizadas ao custo de R$ 1.436, enquanto nos modelos 1.6 o valor é de R$ 1.579.

A fabricante afirma que, fazendo as contas, manter o novo Citroen C3 custará menos de R$ 2 por dia. Em tempo: a garantia é de três anos sem limite de quilometragem.

Ainda de acordo com a montadora, o compacto oferece o kit de reparo de colisão até 41% mais acessível do que seus principais concorrentes, e a cesta de peças padrão custa até 24% menos dentro do segmento. A Citroën diz que tudo isso faz com que o valor do seguro seja o mais acessível da categoria.

Toda essa estratégia foi montada cuidadosamente para fazer com que o Citroen C3 conquiste seu lugar ao sol em um segmento tão disputado como o dos hatches compactos. Mas esse não é o único motivo: a Stellantis sabe que a Citroën não desfruta de uma imagem tão positiva no pós-venda como outras marcas do grupo.

“Será um desafio bem grande, e bacana, obter um volume razoável, porque a marca Citroën não possui tanta presença nesse segmento e ainda sofre com alguns problemas do passado”, lembrou Padovan.