Ram quer mais espaço
Ram quer mais espaço – Marca que briga no “nicho do nicho”. Assim pode ser definida a atuação da Ram no Brasil. A fabricante de picapes do Grupo Stellantis concorre em um segmento não só de picapes, como também premium – até o momento. Tanto que a marca foi a que mais cresceu quando falamos de veículos acima dos R$ 400 mil – categoria majoritariamente composta por marcas de luxo alemãs.
Esse posicionamento é reforçado por Breno Kamei, diretor da Ram na América do Sul, mas também tem tudo para mudar. Em entrevista à Automotive Business, o executivo celebra o crescimento de quase 90% nas vendas no Brasil em 2021 e a consolidação do portfólio com a chegada recente da nova 3500.
Só que a marca sabe que pode (e precisa) expandir – até porque, no lançamento da 3500, o próprio diretor global de marketing da Ram disse que o mercado brasileiro é estratégico para os planos da marca. Para tal, o caminho natural para ampliar o portfólio por aqui seria entrar no segmento de médias.
Questionado sobre uma possível investida nessa categoria, o executivo se esquivou, mas disse que há “possibilidades” para o futuro. Durante a entrevista, o diretor da Ram também analisou o mercado brasileiro para uma marca que se vende premium e a falta de produto provocada pela crise dos semicondutores.
O segmento de picapes é um dos que mais cresce, mas a Ram atua em um nicho dentro desta categoria. Como a marca se posiciona nesse momento do mercado brasileiro?
A Ram começa de uma base muito boa, desde a época da Dodge Dakota (as picapes Ram eram originalmente da marca Dodge), que foi um grande marco para a história da marca aqui no Brasil. Desde então, a empresa vem se renovando, sempre premium e sempre gerando desejo no consumidor. Então, quando decidimos, em 2019, investir na expansão no Brasil, partimos dessa base extremamente valiosa. E o aspiracional é um asset que nenhuma outra marca de picape tem. Por isso decidimos investir, mesmo contra a lógica do mercado, em expandir nosso line up. Trouxemos a nova 2500, até então nossa única oferta no Brasil, depois a 1500 Rebel e agora, após muita conversa com nossos consumidores, temos um produto um degrau acima, com a 3500.
Na apresentação da 3500 a diretoria ressaltou a importância do agronegócio para as vendas da Ram. É o público-alvo não só da nova picape, mas de todo o portfólio da marca no Brasil?
O público do agronegócio responde por 70% das vendas de 2500. A 1500 ainda é recente e é um veículo mais lifestyle. Não tem como não falar do agro, com essa força e grande representatividade na economia e que esse setor desenvolve no Brasil em termos de economia e potencial de consumo. Com o agro, essa demanda cresceu até mais do que se esperava e hoje não conseguimos atender todos os clientes da forma que gostaríamos.
Neste contexto, a Ram 1500 está com seis meses de fila de espera, e a 2500, com 10 meses, para a 3500…
Importante a gente destacar que entende a insatisfação, e como consumidor em geral, sempre quer ser atendido da forma mais rápida e conveniente. O que a gente percebe, acompanhando as vendas e a carteira de clientes, é que existe uma flexibilidade por parte do consumidor. É um produto mais específico, mas mantemos a transparência e prazo. Infelizmente não temos uma previsão de quando o fornecimento de suprimentos voltará ao normal, mas eu vejo que existe uma tolerância maior por parte do consumidor pela natureza do produto.
Chegada da Ram 3500 completa o portfólio de picaponas premium da Ram? Sinergia da Stellantis pode mudar essa história
Mas, diante dessa natureza do produto que a Ram vende no país, quais são os desafios de trabalhar modelos de nicho no Brasil?
É diferente. Eu diria que saímos do nicho para um nível onde a gente consegue brigar no mercado premium. A 2500 foi o carro mais emplacado acima de R$ 400 mil no ano passado. Começamos a despontar em um segmento onde tradicionalmente tem as alemãs, a Land Rover e outras, e ganhamos volume.
Espero que esse ano a gente repita essa aceleração de crescimento. O mercado de picapes é muito grande, então a gente enxerga no futuro um grande potencial.
Voltando ao problema global na cadeia de suprimentos. A marca emplacou mais de 2.700 unidades em 2021, com crescimento de 87%. Sem esses entraves, a Ram hoje teria qual volume a mais no Brasil?
Sem dúvida que poderíamos estar trabalhando com números maiores. Não posso dividir aqui, mas a nossa carteira é muito maior do que os emplacamentos. Difícil dizer o número correto porque tem esse efeito negativo, mas tem o efeito positivo, que tínhamos planejado, inclusive, com o lançamento da 3500. Ano passado previa dobrar e quase chegamos lá. Dá para fazer o cálculo pelos números históricos…
Você apostaria em alguma previsão de normalidade?
Prefiro não cravar nenhum número. Já fiz essa previsão algumas vezes nos últimos meses e não acertei (risos). É um momento delicado. Quando a gente vê alguns sinais de normalidade, aí vem uma guerra e isso impacta brutalmente toda a cadeia logística global. É difícil, mas gostaria que nos próximos meses tivéssemos uma visão de futuro, mas estamos vivendo um momento de muita incerteza.
A guerra na Ucrânia preocupa mais que a pandemia de Covid-19?
Difícil dizer, mas preocupa muito. Os mercados europeus já estão muito impactados e isso vai se alastrando à medida em que o tema não for resolvido. Tanto pelo fator humanitário, como também pelos negócios.
A Ram faz parte do quarto maior grupo automotivo do mundo, a Stellantis, que tem entre suas estratégias a sinergia entre as marcas. Nesta lógica, podemos esperar uma expansão do line up da Ram no Brasil com uma inédita picape média?
Estamos sempre analisando as oportunidades de mercado. Acreditamos, sim, no potencial de expansão, mas temos de estar muito alinhados com o que a marca quer fazer globalmente. Temos planos de sermos os maiores em LCVs (Light Comercial Vehicles) e, obviamente, existem espaços que são oportunidades. Estamos sempre analisando e quem sabe, no futuro, tenhamos novidades nesse sentido.
O segmento de médias seria um com esse potencial?
Sim, com certeza…
Inclusive, a Ram estaria preparando uma média e ao mesmo tempo a Peugeot vai lançar a Landtrek no Brasil este ano. Existe a possibilidade de uma sinergia com esse projeto, que já está pronto?
No momento, o foco do grupo é lançar a Landtrek na Argentina e no Brasil. Obviamente, no futuro, não descartamos nenhuma possibilidade.
A Ram abriu 11 novos pontos de venda nos últimos anos e agora totaliza 55 concessionárias. Além da expansão, houve também um trabalho de reestruturação da rede?
Nosso plano partiu de um diagnóstico. De um lado, muito potencial como marca, mas do outro, muitos desafios. Primeiro desafio: uma marca pouco conhecida fora deste segmento nichado. Também teve um trabalho de atendimento, precisávamos de capilaridade e presença de produtos. E ainda facilitar a jornada do consumidor, não só com o ponto de venda mais adequado, mas o que poderia oferecer a esse cliente durante o uso e depois, na recompra.
O plano de manutenção mais baixo da 3500 foi parte dessa estratégia?
A 3500 vem com um nível alto de competitividade na questão do custo de manutenção. Não era assim, tinha o estigma de carro importado. Trabalhamos muito para trazer esse custo para baixo. Por fim, tinha uma grande restrição do ponto de vista residual, aquela questão do “carro importado, vai valer muito menos depois”. Desenvolvemos serviços, como o certificado de seminovos, fomos a primeira marca do grupo a lançar esse tipo de serviço. Com uma garantia a partir da manutenção planejada o cliente tem um valor de recompra garantido.