FCA traça estratégia para renovar toda linha Fiat e Jeep após quarentena

Em Live #ABX20, Antonio Filosa prevê “um novo normal” difícil pela frente, com queda do mercado de 35% a 40% em 2020 e três anos para retornar aos níveis de 2019

164

Fiat Chrysler AutomobilesFiat Chrysler Automobiles

A devastadora crise global provocada pela pandemia de coronavírus não contaminou o vigor com que costuma trabalhar e agir Antonio Filosa, presidente da Fiat Chrysler Automobiles na América Latina, a FCA Latam. Desde o fim de março isolado em sua residência nos arredores de Belo Horizonte (MG) para se prevenir do contágio da Covid-19, o agitado engenheiro napolitano de 46 anos lamenta a falta do ritmo frenético das linhas de produção – ele sempre trabalhou na manufatura e estava acostumado a administrar fábricas que produziam 4 mil carros/dia –, mas está igualmente acelerado em casa, de onde conduz diversas reuniões diárias com as lideranças globais e regionais da companhia para redesenhar toda a estratégia da empresa para o que chama de “nova realidade pós-pandemia”, que inclui uma completa renovação das linhas de produtos Fiat e Jeep na região.

Filosa conseguiu abrir uma generosa brecha de hora e meia de sua disputada agenda para falar com Automotive Business sobre as estratégias da FCA Latam para superar a crise do coronavírus, em mais uma entrevista exclusiva da série Lives #ABX20 (assista aqui esta e outras lives já gravadas e veja o calendário das próximas).

Com o tombo profundo do mercado brasileiro – que na visão de Filosa será de 35% a 40% este ano – e previsão de retomada lenta que deve demorar cerca de três anos para regressar aos níveis de 2019 (quando foram produzidos quase 3 milhões de veículos no Brasil), o presidente da FCA Latam confirma que muitos planos precisaram ser adiados, mas garante que o programa de investimentos de R$ 14 bilhões (inicialmente de 2018 a 2024 e que agora deve ser estender a 2025) e todos os lançamentos decorrentes dele foram mantidos, ainda que atrasados de três a seis meses.

“Está tudo está mantido. A nova Strada está pronta, devemos lançar entre junho e agosto. Também teremos nova Toro, reconfiguração de Mobi, Argo, Cronos e Fiorino, dois SUVs Fiat, o novo SUV Jeep (de 7 lugares), renovações de Renegade e Compass, outros que não posso falar ainda. Esses projetos existem e estão mantidos. Esperávamos ter tudo pronto até o começo de 2022, agora pode ter defasagem de tempo de até seis meses, dependendo do produto”, revelou Antonio Filosa.

 

Também está adiada a entrada da FCA no segmento de veículos eletrificados no Brasil. Até o fim deste ano estava prevista a importação para o mercado brasileiro do Fiat 500 elétrico e das versões híbridas plug-in dos Jeep Renegade e Compass. “Iríamos lançar [a linha eletrificada] no Salão de São Paulo, que foi cancelado. Agora esses modelos só devem chegar a partir da metade de 2021”, conta Filosa.

Seja como for, está mantida a ambição da FCA de dominar 20% do mercado brasileiro, 15% com a marca Fiat e 5% com a Jeep. “É o que esperamos com todas as renovações das linhas de produtos que vamos fazer”, reforça Filosa.

A ADMINISTRAÇÃO “DRAMÁTICA” DO CAIXA

 

Se manter investimentos e lançamentos pode ser considerada uma conquista e tanto no cenário atual, será uma vitória ainda maior conseguir superar os atuais déficits de caixa causados pela paralisação dos negócios durante a fase crítica da pandemia, situação que Filosa chama de “dramática”. As receitas pararam e muitos gastos continuaram, em uma conta que não fecha. “Este é o principal problema, é um drama nosso, dos concorrentes e de todo o setor que envolve 7 mil empresas e 1,2 milhão de empregos, considerando fornecedores, montadoras e concessionários”, destaca Filosa.

Para preservar a cadeia, o executivo prevê exercícios financeiros complexos, com postergação de investimentos e cortes de custos. Também está no horizonte um inescapável aumento de custos de produção. “Vamos entrar em uma nova realidade com volumes muito mais baixos do que tínhamos, isso é mais caro. Deveremos em um primeiro momento pagar mais aos fornecedores [que terão escala menor], precisar fazer fretes emergenciais [de componentes]”.

Filosa elogiou as medidas de flexibilização trabalhista já adotadas, como redução de jornada e salários e suspensão temporária de contratos de trabalho previstas na Medida Provisória 936 editada pelo governo no início de abril. “Tudo depende de quanto tempo vai durar a paralisação dos negócios, mas até o momento são boas medidas, que nos permitem reduzir a produção com menos prejuízo”, avalia.

Assim como disse no fim de março, o executivo voltou a afirmar que a FCA evitará demissões a todo custo – ou melhor, para conter custos. “Você forma profissional de todas as áreas da empresa em não menos do que nove meses. Então quando precisa desligar alguém tem o custo associado ao recrutamento e a trilha de aprendizado para o novo profissional contribuir como o anterior. Pagamos um alto preço por demissões. A perda de um profissional da nossa cadeia de valor é muito cara para nós quando voltar a precisar”, pontua.

A FCA se preparou para retomar a partir de maio, de forma gradual e lenta, a produção em suas fábricas no Brasil em Betim (Fiat), Goiana (Jeep) e na Argentina em Córdoba. “Como e o que encontraremos na retomada são as perguntas mais urgentes. No momento enxergamos este ano 35% a 40% de queda nos volumes no Brasil. Na Argentina é ainda pior, com possível contração de 50%, um mercado de apenas 250 mil veículos que já foi de mais de 850 mil há três anos. Voltaremos em diversas etapas em maio se todas as condições de segurança permitirem. Vai começar devagar”, afirmou o executivo.

“Agora na FCA estamos na fase de rethinking (repensar), que antecipa a fase da retomada e da nova normalidade. Queremos prever o que vai acontecer e preparar empresa para isso. O legado dessa pandemia vai impactar famílias, comunidade, organizações, todos os atores da sociedade”, resumiu Filosa.

 

Assista abaixo na íntegra à Live #ABX20 com Antonio Filosa: