FCA
Até 2021 a FCA (Fiat Chrysler Aumomobiles) programou a produção de quatro novos modelos tipo SUVem suas duas fábricas no Brasil, um Jeep e um Fiat de sete assentos em Goiana (PE), e dois Fiat em Betim (MG), um do segmento B compacto e outro A subcompacto. As informações foram divulgadas na sexta-feira, 1º, durante o Capital Markets Day, realizado no campo de provas das FCA em Balloco, Itália, quando foi apresentado o novo plano estratégico da empresa para os próximos cinco anos.
Novos produtos
O desenvolvimento dos novos produtos faz parte do investimento global da FCA de € 45 bilhões programado até 2022, que serão aplicados em projetos de novos veículos e motores, renovação dos atuais, eletrificação de powertrain e infraestrutura industrial. Não foi divulgada ainda, contudo, qual porção desses recursos serão destinados à divisão América Latina, onde se inclui o Brasil.
“Não vamos divulgar agora, mas serão vários bilhões”, garante Antonio Filosa, CEO da FCA Latam. “Ainda precisamos fazer ajustes para alocar os investimentos, que deverão ser um pouco menores do que fizemos em anos recentes porque já concluímos a maior parte das fábricas na região (construção de Goiana e modernização de Betim e Córdoba, Argentina). Então a maior parte será usada no lançamento de cinco modelos completamente novos e mais quatro renovações importantes”, explica o executivo.
Lançamentos de veículos novos
Os quatro lançamentos de veículos novos a que Filosa se refere são os quatro SUVs (um Jeep e três Fiat) e a nova picape pequena Strada. “Já congelamos o design do novo SUV B da Fiat e da Strada, que devem chegar ao mercado em 2020. Tenho certeza que serão produtos vencedores, com potencial para recolocar a Fiat na liderança de mercado na virada da década”, avalia o CEO da operação Latam. Sobre os outros, o executivo afirma que ainda “há questões a resolver” e por isso os modelos Jeep e Fiat de sete assentos e o subcompacto virão um pouco depois, possivelmente em 2021.
Ofensiva SUV beneficia FCA
Os três lançamentos de SUVs ou CUVs devem trazer novo fôlego à Fiat no Brasil ao coloca-la no segmento que mais cresce. A marca vem perdendo participação no mercado brasileiro, onde saiu da liderança para o terceiro lugar nos últimos dois anos e caiu do domínio de 22% das vendas para 12% nos primeiros quatro meses de 2018. Por isso a Fiat precisa se renovar rápido.
A FCA já fabrica o SUV mais vendido do mercado brasileiro, o Jeep Renegade, o irmão menor Renegade fica entre os cinco mais procurados e deverá passar por uma reestilização de meia-vida ainda este ano. Com os novos quatro, vai fechar ainda mais os espaços nesse terreno, especialmente para a Fiat que não atua nele ainda. Filosa acredita que os concessionários da marca italiana, em relação desgastada pela falta de produtos competitivos, deverão ficar contentes com as novidades: “Sempre nos perguntavam se a Fiat não teria um SUV, estamos dizendo agora que terá não um, mas três”, enfatiza. “Precisávamos de fato aumentar a cobertura da marca, que hoje está em 65% dos segmentos e vai crescer ao menos 20% só com os SUVs.”
Novo Jeep de sete assentos
Nas apresentações em Balloco, Marchionne confirmou que a planta de Goiana irá produzir um novo Jeep de sete assentos, em segmento que a montadora classifica como “D de entrada”. Nessa mesma classificação D estão modelos como o Cherokee, de porte médio para grande (nos padrões brasileiros). A fábrica pernambucana usa uma só plataforma para produzir Renegade, Compass e a picape Fiat Toro, mas o quarto (Jeep) e quinto (Fiat) carros a serem feito na unidade vão precisar de uma base alongada, com entre-eixo maior, para acomodar os dois assentos extras.
Pelo lado da Jeep, essa solução poderá dar origem ao Grand Compass – a marca usa o mesmo tipo de nomenclatura para diferenciar Cherokee e Grand Cherokee. Filosa explica que está em estudo se o novo produto maior usará a plataforma atual do Compass ou uma nova, ainda em desenvolvimento, que será aplicada ao Cherokee.
Abaixo do Renegade
Contudo, foi descartada a produção em Goiana, como vinha sendo aventado, do que será o menor dos Jeep, abaixo do Renegade, modelo que a imprensa vem chamando de Junior Jeep e a marca promete lançar até 2022. O lugar para produzir o novo SUV de pequeno porte (algo como o Honda WR-V) ainda não foi divulgado pela FCA, mas já dá para concluir que não será na América Latina, nem nas fábricas da Fiat, pois a Jeep vai localizar a produção na região de apenas mais um SUV, que será a versão de sete lugares. Muito possivelmente, não há interesse em popularizar a marca nos mercados sul-americanos, para manter a rentabilidade alta.
O SUV mais adiantado dessa nova safra da FCA é o Fiat compacto B da marca Fiat, que será produzido em Betim sobre a mesma plataforma do hatch Argo e chega às concessionárias em 2020. Depois, em 2021, será a vez de fazer em Minas o utilitário compacto (CUV), classificado no segmento A, onde hoje encontram-se modelos como o Mobi, também feito na planta mineira, o Renault Kwid e o recém-lançado Ford FreeStyle. Em uma aposta livre baseada na tendência do mercado brasileiro, dá para imaginar um Uno, ou a evolução dele, transformado em CUV.
Fiat foca na América Latina
Com quatro lançamentos previstos só para a América Latina (os dois SUVs e a Strada) e renovações de outros quatro modelos, a região será a única do mundo onde a Fiat almeja algum crescimento ou a defesa de sua participação. No resto do mundo, pelos planos apresentados em Balloco, a marca tende a ser reduzida a patamar ainda menor do que já está. Na Europa, na última década a Fiat perdeu metade de seu market share, caiu de 10% para apenas 5%, abaixo até mesmo das marcas alemãs premium como Audi e BMW.
Mas a intenção é essa mesma, segundo o CEO Marchionne: “Temos de focar em lançamentos rentáveis. O mercado mudou (para cima) em certas regiões e não adianta nada insistir com a Fiat na Europa, Estados Unidos ou China. O único valor exportável da Fiat é vender uma imagem ‘verde’, por isso vamos lançar o 500 e o 500 Giardiniera elétricos nesses mercados”, explicou.
Nova Picape média no Brasil
Com a estratégia, a intenção é reforçar a linha de picapes FCA na região, já composta por modelos menores da Fiat, Strada e Toro, que receberá a adição da picape média da Ram – possivelmente menor do que a 1500 recentemente renovada e apresentada no último Salão de Detroit, em janeiro passado nos Estados Unidos. Inicialmente, Filosa diz que não há planos de produzir o modelo no Brasil ou Argentina. “Será importada para os mercados sul-americanos, possivelmente do México.”
A dúvida é saber se a marca será mesmo Ram, que tem baixa penetração na América do Sul. Filosa acha que sim, aposta na imagem internacional de picapes da marca americana. “Claro que teremos de promover o novo produto, mas muitos brasileiros já conhecem a Ram”, afirma.
Aposta no Etanol brasileiro com Turbo
O CEO da FCA pareceu bastante aliviado ao falar do Brasil no contexto dos investimentos bilionários em eletrificação do powertrain que todas as marcas do grupo terão de fazer até 2022 para cumprir exigências legais de redução de emissões de CO2.
“O que vamos fazer na região é investir em motores mais eficientes para trabalhar com o etanol”, acrescentou o executivo. Entre as alternativas, foi confirmada a produção no Brasil de um motor flex turbinado, da família GSN produzida em Betim desde 2016. O novo propulsor será introduzido no mercado brasileiro provavelmente em 2020, mas não foi divulgada nenhuma das características técnicas como cilindrada ou número de cilindros.
“O combustível alternativo no Brasil, além de uma perspectiva positiva de negociações com governos federal e estaduais, nos dá uma rota clara na América Latina de preservar nossa liderança em SUVs e picapes pequenas”, confia o CEO.
Em relação às possibilidades sobre Rota 2030, Marchionne afirmou que “seria um grande erro” o cancelamento do novo programa de desenvolvimento do setor automotivo no Brasil, que vem sendo sucessivamente adiado desde o ano passado. “O cálculo das emissões do poço à roda com etanol foi feito para o Rota 2030. Sem isso o etanol perde força”, sublinhou. “Mas nossos investimentos no País não serão afetados até 2022 por causa disso, porque as regras de emissões são para depois desse período”, acrescentou.
Filosa acrescentou que todos os planos de desenvolvimento de motores mais eficientes foram feitos para atender os objetivos de emissões e consumo que estão no Rota 2030. Apesar disso, mesmo se o programa não for aprovado, ele avalia que ajustes terão de ser feitos, mas o risco de reduzir ou cancelar os investimentos em fábricas e produtos programados para o País “é muito baixo”, concluiu.