Tsuru, da Nissan, um carro mortal em acidentes

Montadora manobra contra nova colisão à imagem e anuncia fim da produção do Tsuru na véspera de teste

511
teste de impacto frontal e as fotos após a colisão: bem mais destruído que o Versa, Tsuru (vermelho) é carro mortal em acidentes
teste de impacto frontal e as fotos após a colisão: bem mais destruído que o Versa, Tsuru (vermelho) é carro mortal em acidentes

TSURU, da Nissan, um carro mortal em acidentes e a montadora tentou manobrar para evitar nova colisão à sua imagem. Na quarta-feira, 26, anunciou que em maio de 2017 vai parar de produzir no México o sedã Tsuru – uma versão de mais de 20 anos do Sentra. A comunicação aconteceu na véspera de um crash test programado pelo Global NCAP e Latin NCAP, entidades independentes que avaliam a segurança de automóveis, em conjunto com o Insurance Institute for Highway Safety (IIHS), mantido por seguradoras dos Estados Unidos. No teste patrocinado pelas organizações na quinta-feira, 27, foi realizado o impacto frontal uma velocidade combinada de 80 mph (129 km/h) entre um Versa 2016 vendido nos EUA, e um Tsuru 2015 comprado no México, com superposição de 50% da frente dos veículos.

Ambos os modelos são feitos na fábrica mexicana da Nissan e os dois já haviam passado por crash tests anteriormente. O Versa foi qualificado como “bom” pelo IIHS e o Tsuru ganhou zero estrela para ocupantes adultos e crianças pelo Latin NCAP. Na experimentação realizada quinta-feira na sede do IIHS na Virgínia, EUA, o resultado foi exatamente o que já era esperado por todos: o Tsuru ficou bastante mais destruído e seu motorista teria apresentado lesões com alta probabilidade de morte, segundo comunicado do Latin NCAP. “A batida tem altas possibilidades de ter sido fatal, o Tsuru não tinha airbags e as principais estruturas do veículo colapsaram, comprometendo o espaço de sobrevivência”, diz a nota da organização.

Resposta muito atrasada

Com o anúncio na véspera do teste de parar de fabricar o Tsuru só daqui a seis meses, a Nissan não conseguiu evitar totalmente a já esperada pancada. “Esta decisão de suspender a produção de um veículo tão inseguro é muito demorada. Faz três anos o Latin NCAP fez o teste de colisão desse modelo, com resultado de zero estrela. A Nissan demorou bastante em reconhecer que a venda de automóveis de baixos padrões de segurança é inaceitável. Felizmente responderam às demandas do Latin NCAP e dos consumidores mexicanos para retirar o Tsuru do mercado”, afirmou após o crash test David Ward, secretário geral do Global NCAP.

Alejandro Furas, secretário geral do Latin NCAP, avalia que a montadora deve agir mais rápido para evitar que mais mortes aconteçam a bordo do Tsuru. “Acho que a Nissan fez esse anúncio em resposta à nossa campanha para que não sejam mais comercializados veículos com zero estrela no México e na América Latina inteira. O teste de batida carro contra carro demonstrou por que esses modelos deveriam ser retirados do mercado. Em abril deste ano publicamos um relatório em que se atribuía ao Tsuru, ao menos, 4 mil mortes no México entre 2007 e 2012. Apesar de parabenizarmos o anúncio da Nissan, por que devem esperar até maio de 2017 para parar de vender este carro tão inseguro?”, questionou Furas.

Apelo por leis mais severas

“Nosso primeiro teste de batida carro contra carro demonstrou claramente a importância de contar com regras mínimas de segurança veicular. O México ainda não conta com essas regulamentações, e os Estados Unidos as aplicam há décadas. A falta de regulações pode gerar a venda de carros muito insegura como o Tsuru. Todos os países da América Latina e do Caribe devem aplicar as Normas de Segurança Veiculares das Nações Unidas ou seu equivalente, onde para que não existam mais veículos zero estrela”, exortou Ward, do Global NCAP.

Um dia antes, o Global NCAP publicou um relatório devastador sobre a falta de imposição legal para adoção de sistemas de segurança veicular na América Latina. Segundo o estudo, se os carros fabricados e vendidos na região tivessem obrigatoriamente certos equipamentos, como controle eletrônicos de estabilidade ou cintos de segurança com pré-tencionador, entre outros, poderiam ser evitadas até 2030 mais de 40 mil mortes, além de 400 mil feridos, com economia de recursos de até US$ 143 bilhões no período de 2016 a 2030 (leia a reportagem aqui e veja o relatório aqui).

Para a Nissan, contudo, nada disso parece existir. Na nota que divulgou na quarta-feira anunciando o fim da produção do Tsuru, a montadora seguiu ressaltando qualidades do modelo: “Veículo muito popular, com mais de 2,4 milhões de unidades vendidas, ofereceu mobilidade acessível, econômica e confiável para motoristas de todo o país (México) e de outros mercados por mais de três décadas”, diz o comunicado.