Crescimento em todos os ramos da indústria
Este ano será o primeiro desde 2011 em que todos os quatros ramos do PIB da indústria vão crescer juntos. Nos últimos seis anos, pelo menos um deles – transformação, extrativa, construção civil e serviços industriais de utilidade pública (SIUP) – terminou em queda.
Em 2017, nos 12 meses até o terceiro trimestre, embora a indústria extrativa e SIUP tenham ido bem, a indústria de transformação e, principalmente, a construção civil exibiam sinal negativo, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
PIB industrial deve crescer 3,6%
Estimativas colhidas pelo Valor Data mostram que o PIB industrial deve crescer 3,6%, após três anos de queda. A indústria de transformação subiria 4,7%, beneficiada pelo aumento da demanda doméstica e das exportações, embora as vendas externas devam ocorrer em menor magnitude do que em 2017. O setor extrativo deve crescer 3,9%, com o aumento da produção de petróleo e minério e, os serviços de utilidade pública, 3,6%, com a melhora da oferta de energia e do próprio aumento da atividade econômica. Por fim, a construção deve ter uma alta tímida de 2%, após quatro anos em queda.
Ibre-FGV
Claudio Considera, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV), diz que a atividade industrial “certamente” será melhor do que em 2017. O destaque será a transformação, com um “crescimento maior do que o do produto”. Segundo ele, a liberação dos recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) “detonou o gatilho” e, desde então, a retomada vem ganhando força. A baixa base de comparação tem dado sua parcela de contribuição para os números mais positivos.
Os efeitos defasados da queda de juros serão mais sentidos pela indústria neste ano, beneficiando o crédito e os investimentos, acredita o economista da FGV. Bens de consumo duráveis, como o automobilístico e a linha branca, devem ir melhor.
Movimento positivo na modernização do parque produtivo
Considera vê um movimento positivo na modernização do parque produtivo. “As empresas recompondo as máquinas desgastadas e modernizando equipamentos” afirma. O principal risco à retomada industrial, segundo ele, é a evolução do quadro eleitoral.
Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), vê a definição do cenário político como fator decisivo para um desempenho mais consistente do setor. “A agenda econômica que sairá das eleições é fundamental para a formação de cenários no setor privado. Até que isso se defina, as empresas vão tomar decisões mais tímidas, que envolvam menos gastos”, afirma o economista.
Melhora da indústria de transformação
Ele pondera que muito da melhora da indústria de transformação vista no ano passado se deveu a fatores excepcionais, como a liberação das contas inativas do FGTS e a super safra agrícola. Esta também beneficiou a política monetária ao derrubar os preços dos alimentos e a inflação. A queda dos juros decorrente disso ajudou as famílias a reduzir suas dívidas.
Comércio exterior
Outro elemento excepcional, segundo ele, foi o comércio exterior, que afetou algumas cadeias industriais por meio especialmente do segmento automotivo. “O desempenho da indústria automobilística foi fantástico. Houve demanda, mas isso também tem a ver com decisões de alocação de produção dentro da cadeia mundial das montadoras”, diz Cagnin. Nas contas do Iedi, a indústria automotiva contribuiu sozinha por metade (1,2 ponto percentual) da alta de 2,3% da produção do setor industrial no ano.
O setor externo e safra devem continuar ajudando a indústria em 2018, mas em menor magnitude, diz. E a grande ociosidade ainda é uma pedra no caminho. “Se não melhorar, não dá para esperar uma reação mais forte do investimento”, diz.
Bens de capital e duráveis
Na produção, entre as categorias econômicas, os melhores números devem ser vistos em bens de capital e duráveis, beneficiados pela queda de juros. Os bens intermediários – que respondem por 60% da atividade industrial – também são candidatos a um melhor desempenho. Semi e não duráveis vão depender da continuidade da recuperação do emprego e da renda.
Os outros dois ramos da indústria no PIB devem ter desempenho positivo com o aumento da produção de petróleo e minério (extrativa) e por causa do regime hídrico favorável (SIUP).
No primeiro caso, há expectativa de aumento de produção da Petrobras e de outras operadoras, assim como de minério da Vale. Nos serviços industriais de utilidade pública, em que a eletricidade é o principal segmento, a retomada da transformação e da atividade tende a puxar o setor, afirma Ricardo Nishida, economista da LCA Consultores.