Veículos importados travados pela cota

Com sobretaxação e câmbio desfavorável, vendas despencam neste e no próximo ano.

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Abeifa prevee retração dos importados para 2017

Veículos importados – Se 2016 já foi bastante desastroso para o setor de veículos importados, 2017 deverá ser ainda pior, considerando os baixos volumes de vendas e todas as consequências que isto pode trazer ao segmento. Enquanto é esperado um total entre 35 mil a 35,5 mil unidades emplacadas em 2016, o que já representa uma queda de 41% sobre o resultado do ano anterior, as importadoras associadas à Abeifa preveem apenas 25 mil unidades no próximo ano, uma retração de 28,5%.

Veículos importados“Este volume de vendas [para 2017] está baseado somente no total previsto nas cotas que cada marca pode importar sem a incidência dos 30 pontos porcentuais a mais de IPI, conforme determina o Inovar-Auto”, explica o presidente da Abeifa, José Luiz Gandini, durante a apresentação do desempenho do setor de importados na terça-feira, 13, em São Paulo.

Veículos importados – redistribuição de cotas

Gandini esperava obter ainda neste ano alguma resposta do governo sobre um novo decreto que permite a redistribuição de cotas de importação não utilizadas por algumas marcas e que poderiam migrar para outras empresas da associação e serem utilizadas no ano seguinte. O pleito é da própria Abeifa, que já protocolou o pedido no MDIC e no Ministério da Fazenda. Contudo, a reviravolta do cenário político paralisou qualquer chance de aprovação da medida. Ainda não há informações sobre como funcionaria a redistribuição destas cotas remanescentes.

“Se o decreto fosse aprovado, mudaria tudo. Seria algo como 20 mil carros a mais. Na projeção de 2017, eu apostaria em 50 mil carros, mas não vejo perspectiva de alteração do cenário por causa da crise política que o Brasil está vivendo”, afirma.

Impacto das cotas e do dólar

Neste ano, considerando o volume total de vendas previsto pela entidade, das 35,5 mil unidades, pouco mais de 5,9 mil excedem à cota sem a sobretaxação do IPI. Isto significa que as importadoras pagaram os 30 pontos porcentuais a mais em imposto para trazer mais carros. Em anos anteriores, este excedente era muito maior, mas o dólar tinha valor médio abaixo do atual.

“No início deste ano, o dólar começou em R$ 2,60, ainda dava para pensar em trazer carros além da cota, mas com a projeção do dólar em R$ 3,50 para 2017, fica impossível exceder a cota”, relata Gandini.

Desemprego e queda de arrecadação

Além disso, o executivo destaca que as perdas vão muito além dos volumes de vendas: “Se nada for feito, devemos fechar mais 100 concessionárias no ano que vem, o que gera a perda de 4 mil empregos diretos, além da queda de arrecadação de impostos”, prevê. Atualmente, a Abeifa contabiliza 450 concessionárias, mas este volume já foi de 850 casas, no auge da importação, em 2011.

Ele lembra que naquele ano, que foi o melhor do setor, com 199,3 mil licenciamentos, a soma da arrecadação de impostos federais, estaduais e municipais com a venda de veículos importados chegou a R$ 6,5 bilhões. “Vamos bater palmas se este ano atingirmos R$ 1 bilhão. Em dólar a relação é pior ainda: foram US$ 4,5 bilhões em 2011 e este ano deve fechar em algo como US$ 300 milhões.”

Apesar da crise …

Gandini garante que embora a procura por veículos tenha diminuído devido à crise econômica, há importadoras que registram demanda suficiente para utilizar as cotas remanescentes de outras associadas: caso da Kia, a qual Gandini preside. Seus números indicam que com a cota limite de 4,8 mil unidades por ano, ele teve que distribuir cerca de quatro unidades por mês para cada uma de suas 105 concessionárias no País. “É inviável sustentar um negócio com este volume”, defende. Em outro exemplo, o executivo aponta que seu prejuízo chega a R$ 12 mil por Cerato importado fora da cota.

Ele prevê que a marca deve fechar o ano com vendas em torno das 10,5 mil unidades, outras marcas como a Jaguar Land Rover devem fechar 2016 com até 6,3 mil veículos vendidos. Vale lembrar que a JLR iniciou as operações de sua fábrica em Itatiaia, no Rio de Janeiro.

“Ter uma fábrica da Kia no Brasil sempre foi meu sonho. Não consegui, porque os coreanos não permitiram. Mas me pergunto se vale mesmo a pena ter uma planta hoje no País: a capacidade produtiva atual é de 5 milhões para um mercado com expectativa de 2,5 milhões em 2017. Realmente não sei se foi bom ou ruim para a Kia não ter uma fábrica.”

Questionado sobre paralisar os negócios temporariamente, Gandini replica: “Isso sempre passa pela cabeça dos importadores independentes, mas em algum momento acreditamos que o cenário vai mudar, por isso não se pode jogar o negócio no lixo. Vamos diminuir no ano que vem, mas estaremos vivos, esperando que o Brasil mude, e vai mudar.”