Triciclo Can-Am Spyder
Andamos no triciclo Can-Am Spyder. Modelo da BRP com motor 1.0 de 102 cv é bom para estrada, mas dá agonia no caos urbano.
Can-Am Spyder
Algumas feras não se saem bem fora de seu habitat natural. O Can-Am Spyder ST-S, tabelado a R$ 61.900, é uma delas. Criado pela BRP (Bombardier Recreational Products), o triciclo mais sofisticado do mercado oferece aos seus compradores muito conforto, desempenho e um carisma que atrai todos os olhares. Mas isso só se for na estrada. Nas cidades, o arisco modelo perde sua função e se comporta como um elefante em uma loja de cristais
Dono de um motor Rotax V-Twin de 998 cm³ que gera 102 cv e 11 mkgf, o Spyder ST-S é uma máquina de acelerar que até assusta o piloto na primeira arrancada. Com um manete de acelerador bem sensível, basta uma leve “enrolada no cabo” para o trike de 392 kg sair arrancando forte, com muito torque disponível.
Mas antes, é necessário um procedimento longo para dar a partida. É preciso que se ligue a chave, aperte a tecla “Mode”, passe a primeira marcha e solte o freio de estacionamento por botão para poder sair.
A montada no “bicho” é como a em um cavalo. Coloca-se o pé esquerdo no arreio, ou melhor, na plataforma de apoio, e passa-se a perna direita para o outro lado. Em nenhum momento da condução os pés tocam o chão. O esquema de embreagem também é todo diferente e feito com a mão esquerda. As marchas são passadas por aletas para cima e para baixo, mas o sistema faz reduções sem interferência humana caso “perceba” que o Spyder está em desaceleração ou que o piloto quer fazer ultrapassagem.
O modelo também tem marcha à ré, já que não é possível manobrar com as pernas. O sistema é similar ao do acionamento do resto das marchas, mas há um botão específico, também do lado esquerdo, que deve ser apertado com a mão direita, enquanto a canhota pressiona a seleção de descida das marchas. Ufa.
Para ‘conversar’ com a estrada em linha reta
A suspensão trabalha perfeitamente na parte dianteira, absorvendo muito bem os impactos. Mas a traseira oscilante monoamortecida, até pela distribuição de peso do veículo, em “V”, transfere tudo que existe na pista para a lombar do piloto. E em curvas muito fechadas, mesmo com os controles de estabilidade e de direção dinâmica acionados, há sempre aquela sensação de que o Spyder vai entregar os pontos.
Isso não ocorreu nenhuma vez durante uma semana de avaliação extensiva, mas o temor sempre está à espreita, ainda mais quando se consegue tirar uma das rodas do chão, mesmo que levemente.
Já os freios da Brembo deveriam ser mais assistidos. Em posição ruim, no pé direito, tem o pedal difícil de achar e só começa a frear o Spyder na metade do curso. É o item do triciclo que mais precisa de adaptação, até porque a tendência de quem anda de moto é sempre frear com a mão – então, no reflexo é a mão que vai, não o pé. Por isso, o ideal é que o piloto ande bem devagar no primeiro contato com o Can-Am para sentir a máquina.
O fato de o triciclo ocupar a vaga de um carro compacto no estacionamento e no trânsito também não é legal, mas faz parte da brincadeira de se ter um modelo de três rodas. Isso reforça a falta de praticidade do Spyder na cidade – ele ainda pega o mesmo trânsito de um carro, mas com sol ou chuva na cabeça, e é totalmente exposto aos olhares curiosos.
A versão ST-S tem um bagageiro frontal de 44 litros com capacidade para levar outro capacete, uma jaqueta e mais algumas coisas pequenas.Não dá para cruzar o continente americano, mas é um apoio para fazer viagens curtas sem problemas, curtindo a estrada e a incrível sensação de liberdade que o Spyder é capaz de proporcionar.
Preço sugerido
R$ 61.900
Motor
998 cm³, dois cilindros em “V”
Câmbio
Automatizado, cinco marchas
Potência (cv)
102 a 7.500 rpm
Torque (mkgf)
11 a 5.000 rpm
Prós
DESEMPENHO
Com mais de 100 cv, o Spyder acelera com força e promove diversão em linha reta.
Contras
FREIOS
Nem a força da marca Brembo consegue salvar o sistema pouco assistido do Can-Am