Honda X-ADV
Só de olhar, o X-ADV prende a atenção. A unidade vermelha do teste, então, nem se fala. Este scooter também é capaz de confundir alguns indivíduos menos avisados. “Caramba, que moto é essa?”, escutei de um transeunte que esperava seu enrugado buldogue inglês cheirar a roda de outra moto parada ali, no bolsão de estacionamento. “É um scooter”, respondi. E ele ficou com cara de interrogação. “Bacana hein?”, respondeu.
Pois é, alguns podem ficar confusos, mas não você que está ligado no mundo das motos. No Brasil, o Honda X-ADV foi mostrado pela primeira vez no Salão Duas Rodas de 2017, causou furor, e, apesar do salgado preço de R$ 52.500 (para um scooter, apesar da tecnologia embarcada) à época, as unidades que chegaram venderam rapidamente. O sucesso deve continuar nesta versão atualizada.
Câmbio DCT de terceira geração e controle de tração
O Honda X-ADV empresta o trem motriz da NC 750 de dois cilindros paralelos, oito válvulas, refrigeração líquida e capaz de gerar 54,8 cv e 6,9 kgf.m de potência e torque máximos.
A grande diferença com a NC está no câmbio, que é automático com sistema DCT (Dual Clutch Transmission), de duas embreagens no qual uma atua nas marchas ímpares e a outra nas pares, assim as mudanças, que também podem ser feitas através de dois botões no punho esquerdo, são mais rápidas e precisas.
Esta é a terceira geração do câmbio, que foi utilizado pela primeira vez pela Honda em 2011 na sport touring VFR 1200 e no ano seguinte na versão “X” da VFR 1200 Crosstourer.
A nova versão do X-ADV ganhou controle de tração de dois níveis (que pode ser desligado) e uma tecla G (no painel), que permite manter a marcha engatada (no automático), facilitando as incursões na terra e as derrapadas nas acelerações.
Autêntico e vistoso
Imponente, chamativo e, por que não, diferente. Afinal, é uma moto de conceito autêntico e único, capaz de unir a agilidade e a versatilidade do scooter com uma capacidade de aventura pela terra que lembra as maxitrail, salvadas as devidas proporções, é claro.
Este scooter não é para baixinhos. Para subir nele, é preciso passar a perna sobre o ressalto do assoalho, entre o banco e o escudo frontal, aí você percebe que ele é alto e que para apoiar os pés no chão e sentir-se seguro – apesar do banco não ser dos mais altos (820 mm) – é preciso deslocar a bunda para um dos lados.
Acelerando o X-ADV
Para dar a partida basta aproximar-se da moto com a chave no bolso e girar o botão para a direita e liberar a ignição, o sistema keyless (sem chave) é prático e facilita a operação. Logo abaixo deste botão há outro que serve para levantar o banco ou a tampa do tanque (com capacidade para 13 litros de gasolina).
Uma vez ligado o motor, o X-ADV gera um som levemente rouco, bastando tocar no seletor do punho direito e escolher o modo em que você vai querer pilotar: Drive, Sport ou Manual. No primeiro, as acelerações são mais suaves, o motor mantém giros mais baixos e as trocas acontecem antes do que você imagine. Em situação de serra, por exemplo este modo se torna chato, porque você começa a encarar uma subida e em vez de manter a marcha para ficar com o motor cheio e ter uma resposta mais imediata, ele teima em engatar a próxima, deixando o motor mais “xoxo”. Nesse caso, é melhor utilizar o manual, assim você comanda do seu jeito, sem esse incômodo.
Veja também:
Comparativo: Yamaha Lander x Royal Enfield Himalayan
Empolgantes, novas Honda CB 650 partem de R$ 37.900
Dafra lança Citycom HD 300 para encarar Yamaha XMAX
É no segundo modo (Sport) que o motor fica mais esperto e empolga mais, já que permite esticadas antes das trocas, deixando o giro subir e o motor berrar mais até que a próxima marcha seja engatada. Com giro alto, o ruído do motor instiga. Estas duas opções são excelentes para o uso urbano em que você fica com total liberdade para se preocupar só com acelerador e freios. Vai depender de seu estilo ou humor para selecionar um ou outro.
Preferência
O câmbio manual, para mim, é a condução mais sedutora, pois com ele você controla o giro do motor, mantendo-o cheio e pronto para arrancar com força, ou vai passando as marchas suavemente, para passear e curtir o vento. É só acionar o botão instalado tal qual o lampejador de farol para subir marchas e usar o polegar nas reduções perto da buzina, bem simples.
Dinâmica acertada
Quanto a dirigibilidade, o X-ADV é extremamente fácil. A ciclística é fiel à das motos e permite movimentos rápidos e ágeis tanto no trânsito urbano quanto em estradas sinuosas.
As suspensões contam com bengalas invertidas de 41 mm de diâmetro e curso de 153 mm, atrás o monoamortecedor utiliza links para ser fixado à balança e percorre 150 mm.
Na dianteira, há ajustes de pré-carga de mola e retorno, atrás só na mola. O funcionamento delas é muito bom, permitindo absorver quase tudo que pinta pela frente, além de passeios inusitados (para um scooter) na terra.
Outro fator que ressalta o desempenho são as rodas raiadas de 17 polegadas na dianteira e de 15 na traseira, que ajudam na buraqueira das grandes cidades e do off-road. O senão fica na posição de pilotagem de pé no assoalho, que não é das mais ergonômicas e limita os movimentos.
Parada segura
O sistema de freio está muito bem dimensionado para os 238 quilos do X-ADV. Dois discos de 296 mm e pinças radiais de quatro pistões na dianteira têm potência de sobra para pará-la e o ABS tem funcionamento eficaz inclusive na terra. A proposta do X-ADV é única, por isso é difícil compará-lo com o único scooter de grande cilindrada que hoje temos por aqui, o Suzuki Burgman 650, que tem proposta estradeira e preço muito próximo (R$ 54.845), mas não oferece o mesmo nível de tecnologia e principalmente de diversão. Uma pena não termos mais o Yamaha T-Max 530, que, apesar de não gostar de terra, era diversão pura no asfalto.
Pontos positivos
• Versatilidade
• Agilidade
• Design
Poderia ser melhor
• Trocas no automático
Conclusão: por Ismael Baubeta
O nível de diversão que o Honda X-ADV oferece é sensacional, ainda mais pensando que ele tem alma de scooter, mas boa parte de sua dinâmica está mais próxima das motos trail, por isso tanta versatilidade. A maior dificuldade é na pilotagem de pé sobre a plataforma, já que a posição não facilita.
Na Europa há pedaleiras para uso off-road como acessório para facilitar os trilheiros. O preço na etiqueta do X-ADV (na faixa dos R$ 57 mil), não é baixo, mas se for comparado ao único scooter de cilindrada semelhante no Brasil, o Burgman 650 (R$ 60 mil), faz valer a pena pelo tanto que oferece de versatilidade e agilidade.