Setor de motos exibe recuperação apesar da oferta de crédito limitada. As montadoras revisaram a projeção de crescimento da produção de motos de 5,9% para 11% em 2018, diante de uma maior participação do consórcio nas vendas. O crédito ao consumidor, entretanto, poderia ser melhor.
“O crédito está aumentando, mas aquém do desejado, porque existe pouca concorrência no mercado brasileiro. Existe um descompasso imenso entre a taxa Selic e a dos juros que são oferecidos ao consumidor”, aponta o sócio-diretor da Macrosector Consultores, Fábio Silveira.
De acordo com levantamento da Associação Nacional de Executivo de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), a taxa de juros média para pessoa física em junho foi de 7,04% ao mês, redução de 0,04% em relação a maio. A Selic segue no patamar de 6,5%.
Nesta última quarta-feira (11), a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo) informou que o setor revisou suas projeções em função das vendas acima do esperado no 1º semestre do ano. A expectativa de produção, que era de 935 mil unidades, passou para 980 mil motos.
O presidente da Abraciclo, Marcos Fermanian, listou como motivos para a melhora a demanda represada desde o 2º semestre de 2017, o aumento do preço de combustível e o aumento da concessão de crédito para compra de motocicletas. “O setor bancário está com um pouco mais de apetite para o nosso segmento”, declarou Fermanian, em coletiva de imprensa.
Para Silveira, embora o crédito esteja melhor do que no ano passado, seria necessária uma correção para permitir um avanço maior do mercado. “O crescimento ainda é relativamente modesto. É importante que se reduza mais os juros para deslanchar o varejo. Enquanto isso não ocorrer, a evolução será lenta, travando a cadeia produtiva de diversos setores, inclusive de motos”.
Vendas no setor de motos
As vendas no varejo no 1º semestre tiveram uma alta de 6,9% em relação ao mesmo período do ano passado. No mês de junho, o número de emplacamentos foi 8,8% inferior a maio. “Isso se deve ao impacto da paralisação dos caminhoneiros e ao jogos da seleção brasileira na Copa do Mundo. Não fossem esses fatores, voltaríamos ao patamar de maio. O mercado continua elevado em relação ao esperado no início do ano”, destacou Fermanian. A recuperação de vendas também ocorreu no atacado. Houve alta de 12,2% em relação ao 1° semestre de 2017.
“A produção maior resultou em mais emplacamentos, pois havia um mercado represado. Permitiu a atualização das entregas para os consórcios. Se houvesse uma disponibilidade superior de produtos, teria sido um semestre ainda melhor”, garante o presidente da entidade. As exportações também apresentaram crescimento no acumulado do ano na comparação com 2017.
Porém, os resultados de junho tiveram uma queda brusca em relação ao mesmo mês do ano passado (-42,4%) e sobre maio de 2018 (-33,6%). Fermanian explica que isso foi fruto de dificuldades no mercado argentino. “Com a desvalorização cambial, houve aumento de preços. A Argentina é nosso principal mercado, corresponde a mais de 70% de nossas exportações.” Em função desse cenário, a Abraciclo revisou a projeção de aumento dos embarques de 3,9% para uma retração de 2,2%.
Honda
A Honda, que detém cerca de 80% do mercado de motos no País, reportou aumento de 8,59% de motos emplacadas no 1º semestre do ano, totalizando 363 mil unidades sobre as 334 mil motocicletas comercializadas no mesmo período de 2017. A produção acompanhou a tendência e cresceu 13,17% na mesma base, com 372 mil unidades fabricadas em Manaus (AM).
Com relação às exportações, houve um avanço de 22% de janeiro a junho. Em nota, o diretor comercial da Honda Motocicletas, Alexandre Cury, declarou que o 1º semestre trouxe resultados positivos e o segmento duas rodas voltou a crescer. “Ficamos muito felizes com essa retomada, ao mesmo tempo em que continuamos atentos aos movimentos do mercado, já que 2018 ainda possui alguns desafios adiante. Apresentamos importantes lançamentos, inclusive nos segmentos de scooters e alta cilindrada, atendendo à demanda dos consumidores”. (DCI/Ricardo Casarin)