Condições para sinalização de que Selic não deve subir seguem de pé, diz BC

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expectativa para Selic
Sede do Banco Central em Brasília
29/10/2019
REUTERS/Adriano Machado

Selic não deve subir

BRASÍLIA (Reuters) – O Banco Central indicou que as condições para sua sinalização de que a taxa Selic não deve subir seguem de pé, segundo ata do Comitê de Política Monetária (Copom) publicada nesta terça-feira, na qual reforçou considerar adequado manter a chamada prescrição futura como instrumento de política monetária adicional.

Apesar da existência de uma assimetria em seu balanço de riscos para a inflação para o lado altista, o BC ressaltou que não pretende reduzir o grau de estímulo monetário a menos que o quadro mude.

“O Copom avaliou que as condições para a manutenção do ‘forward guidance’ seguem satisfeitas. O comitê considera que as expectativas de inflação, assim como as projeções de inflação de seu cenário básico, encontram-se significativamente abaixo da meta de inflação para o horizonte relevante de política monetária; o regime fiscal não foi alterado; e as expectativas de inflação de longo prazo permanecem ancoradas”, apontou a ata.

No documento, o BC também reiterou a mensagem de que por questões prudenciais e de estabilidade financeira, o espaço para cortar ainda mais os juros, se existente, deve ser pequeno.

Na semana passada, o BC manteve a Selic em sua mínima histórica de 2% ao ano após nove cortes consecutivos, conforme esperado pelo mercado, e, num comunicado sem grandes novidades quanto à política monetária, reconheceu que a inflação deve acelerar no curto prazo.

Parte do mercado se ressentiu da falta de mensagens mais atualizadas do BC sobre o lado fiscal, em meio a pressões crescentes para mais despesas em 2021 e dúvidas quanto à manutenção da regra do teto de gastos nesse contexto, e sobre o avanço de preços na economia, na esteira de uma disparada da inflação ao produtor e de alta em alimentos e na construção civil.

Para o diretor do ASA Bank e ex-secretário do Tesouro, Carlos Kawall, a ata essencialmente refletiu o comunicado e apontou que a recuperação desigual da economia coloca uma pressão para baixo nos preços livres no horizonte relevante para a política monetária.

“Por isso a decisão de manter os juros e, na ausência da possibilidade de cortar, a ideia de que ele não subirá (a Selic) tão cedo”, afirmou ele, que prevê a manutenção da taxa básica no atual patamar pelo restante do ano.

Inflação

Sobre a visão de que a inflação ao consumidor deve se elevar no curto prazo, o BC disse na ata que contribuem para esse movimento a alta temporária nos preços dos alimentos e a normalização parcial do preço de alguns serviços em um contexto de recuperação dos índices de mobilidade e do nível de atividade.

Já sobre os preços administrados, a avaliação é que eles devem apresentar “variação contida”, com destaque para o recuo nas tarifas de plano de saúde em setembro e a queda projetada para o preço da gasolina a partir de outubro.

Em nota, o time do Bradesco avaliou que, mesmo incorporando essa alta da inflação ao consumidor à frente, o BC indicou que as projeções para o IPCA seguem compatíveis com as metas de médio prazo.

“A leitura é a de que o setor de serviços deve continuar com ociosidade elevada, gerando pressões desinflacionárias provenientes da redução da demanda, que podem ter duração maior do que em recessões anteriores”, disse a equipe de analistas do banco.

Por isso, a avaliação é que o Copom não fechou as portas para eventualmente cortar a Selic, mas reforçou que isso demandaria maior clareza sobre a atividade e inflação prospectivas, e poderia ocorrer com espaçamento temporal, disse o Bradesco, que também prevê uma taxa básica inalterada para as próximas reuniões do comitê.

Em relação à evolução da atividade, o BC pontuou que a recomposição de renda proporcionada pelo auxílio emergencial e outras ações do governo “vêm permitindo que a economia brasileira se recupere relativamente mais rápido que a dos demais países emergentes”.

Ao mesmo tempo, frisou que os indicadores recentes sugerem uma recuperação parcial, com padrão similar à que ocorre em outras economias, onde os setores mais diretamente afetados pelo distanciamento social permanecem deprimidos, numa menção indireta ao comportamento dos serviços.

Nesse sentido, o BC voltou a dizer que a incerteza sobre o ritmo de crescimento da economia permanece acima da usual, principalmente para o período a partir do final deste ano, quando haverá arrefecimento dos efeitos do auxílio emergencial.

Cenário melhor para emergentes

Quanto ao quadro externo, o BC deu mais pistas sobre sua leitura após já ter assinalado no comunicado da semana passada que ele estava “relativamente mais favorável” para emergentes.

Para a autoridade monetária, isso decorre da retomada da atividade nas principais economias, ainda que concentrada no mercado de bens, e da moderação na volatilidade dos ativos financeiros.

De qualquer forma, o BC ponderou que há bastante incerteza sobre a evolução desse cenário benigno.

“Uma possível redução abrupta e não organizada dos estímulos governamentais pode atrasar a recuperação da demanda por bens e o processo de recomposição de estoques. Ao mesmo tempo, a própria evolução da pandemia da Covid-19 pode atuar como um limitante para o pleno funcionamento do setor de serviços”, disse.