Potencial da Energia Eólica Offshore Pode Triplicar Capacidade Energética Nacional, Segundo Estudo da CNI

Estudo mapeia as áreas em alto mar com maior potencial e os principais setores a serem beneficiados. PI, CE, RN, RJ, ES e RS têm mais oportunidades de exploração. Mas ainda há barreiras para a atividade

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Potencial da Energia Eólica Offshore

Potencial da Energia Eólica Offshore – Já estabelecida no Brasil, a energia eólica, que utiliza a força dos ventos para gerar eletricidade, tem se desenvolvido além das tradicionais turbinas em terra. Uma nova fronteira se abre com a introdução da energia eólica offshore, a geração de energia por turbinas instaladas no mar.

Este tipo de geração eólica, já consolidado em regiões como Europa, Ásia e América do Norte, começa a despontar no Brasil. Há um movimento crescente de solicitações de licenciamento junto ao Ibama. Até o dia 30 de agosto, o órgão ambiental registrou 78 pedidos de licenciamento, representando um total de 189 GW de potência instalada. Esse número é quase equivalente à capacidade total de energia centralizada do país, que está conectada ao Sistema Interligado Nacional (194 GW).

As possibilidades de exploração dessa fonte energética e os desafios para a implementação de projetos no Brasil são temas centrais do estudo “Oportunidades e desafios para geração eólica offshore no Brasil e a produção de hidrogênio de baixo carbono”. Este relatório, elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), será apresentado na próxima terça-feira (12) em Brasília, durante o evento pré-COP 28. A conferência reunirá representantes do setor produtivo, governo e sociedade civil para discutir questões relacionadas à Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a ser realizada em Dubai de 30 de novembro a 12 de dezembro.

Davi Bomtempo, gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, oferecerá insights valiosos sobre a energia eólica offshore e seu impacto potencial. Assista:

 

A fortificação desta cadeia de valor no cenário brasileiro tem o potencial de catalisar o crescimento econômico e impulsionar o renascimento da atividade industrial. O setor, ao prover uma fonte de energia que é tanto limpa quanto renovável, oferece múltiplos benefícios. Entre eles, destaca-se:

  • A geração de empregos e a atração de investimentos substanciais;
  • O fomento ao avanço tecnológico e à pesquisa científica;
  • O suporte à promoção e ao desenvolvimento do hidrogênio de baixo carbono no Brasil.

Potencial Inexplorado da Energia Eólica Offshore no Brasil

Globalmente, projeta-se que até 2030, a energia eólica offshore será capaz de gerar impressionantes 260 GW, elevando o total mundial para 316 GW ao término da década. Essa expansão monumental prevê investimentos da ordem de 1 trilhão de dólares.

No Brasil, um potencial colossal de cerca de 700 GW em energia offshore (3,6 vezes a capacidade energética atual do país) permanece largamente inexplorado. Então, qual seria o ponto de partida para essa jornada?

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) realizou um levantamento detalhado ao longo da costa brasileira, identificando regiões com alto potencial de exploração:

  • No Nordeste, destaca-se uma extensa área viável ao longo das costas do Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte;
  • No Sudeste, entre o Rio de Janeiro e o Espírito Santo, encontra-se uma zona de interesse considerável;
  • E, no Sul, na região da Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul, surge outra área promissora.

O Brasil, com sua experiência consolidada nos setores de energia eólica onshore e de petróleo e gás, possui a expertise necessária para impulsionar a produção offshore nessas regiões. Como exemplo, a ABEEólica, associação que congrega mais de 100 empresas do setor eólico, inclui 23 membros especializados em “Engenharia, Consultoria e Construção”, aptos a expandirem seus serviços para o segmento offshore.

Além de contribuir para que o Brasil atinja as metas estabelecidas pelo Acordo de Paris, estima-se que o setor eólico, abarcando tanto onshore quanto offshore, possa empregar aproximadamente 2,2 milhões de pessoas globalmente até 2030 e mais 2,1 milhões até 2050, de acordo com a Agência Internacional de Energias Renováveis

A expertise do Brasil em energias renováveis, aliada à sua vasta costa e posição estratégica para atender mercados com alta demanda de importação de hidrogênio, posiciona o país como um concorrente de peso na produção de energia eólica offshore. Essa vertente é parte integrante da estratégia da Confederação Nacional da Indústria (CNI) para uma economia de baixo carbono e figura entre as prioridades do Plano de Retomada da Indústria, apresentado pela entidade ao governo federal neste ano.

Como o Brasil pode capitalizar esse potencial?

O decreto 10.946, de janeiro de 2022, estabeleceu normas para a utilização de espaços físicos e recursos naturais em águas territoriais para o desenvolvimento da energia eólica offshore. Contudo, a natureza desse decreto não foi suficiente para assegurar a confiança dos investidores. Para que o Brasil se destaque no cenário global, é necessário um marco regulatório com previsibilidade e regras claras. Nesse contexto, um projeto de lei em tramitação no Congresso Nacional busca regularizar a cessão de áreas, a cobrança de outorgas e os critérios para leilões.

Hidrogênio de baixo carbono

Um dos temas abordados pelo estudo da CNI é a capacidade do setor elétrico de absorver o potencial de desenvolvimento e expansão da geração de energia. O hidrogênio de baixo carbono surge, então, como uma solução viável para esses projetos.

Atualmente, a maior parte do hidrogênio é produzida por meios fósseis — 71% via gás natural e 27% pela gaseificação do carvão. No entanto, o hidrogênio também pode ser obtido através da eletrólise, utilizando fontes de energia elétrica renovável, como a eólica offshore.

Embora o mercado consumidor de hidrogênio de baixo carbono deva se concretizar em aproximadamente dois a três anos, a CNI considera essencial iniciar acordos, memorandos de entendimento e o desenvolvimento de infraestrutura para posicionar o país nesse mercado emergente.

Veja os setores industriais que mais se beneficiarão:

  • Na siderurgia, o hidrogênio de baixo carbono pode ser empregado na fabricação do chamado aço verde;
  • As refinarias, grandes consumidoras de hidrogênio cinza, poderiam substituí-lo por hidrogênio de baixo carbono;
  • Uma alternativa robusta de descarbonização é a produção de metanol usando hidrogênio de baixo carbono, com aplicações também nos setores de transporte e armazenamento de energia elétrica;
  • Há também uma oportunidade significativa de usar o hidrogênio produzido a partir de energia eólica offshore no desenvolvimento de fertilizantes. Em 2022, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) reportou que 45,6% dos fertilizantes e adubos nitrogenados foram importados pelo Brasil.