Armazenar Diesel Rodoviário por mais de 30 dias pode trazer problemas

1101

Marcos Thadeu Lobo

Engenheiro Mecânico Graduado pela Universidade Estadual de Campinas ( Unicamp ). Exerce, atualmente, a função de Consultor Associado na empresa QU4TTUOR CONSULTORIA.

Diesel RodoviárioDiesel Rodoviário

  1. INTRODUÇÃO

Diesel Rodoviário – Os combustíveis para uso em motores de combustão interna Ciclo Diesel 4T sejam eles de origem fóssil (ex. Óleo Diesel Rodoviário B S500/B S10) ou obtidos a partir de matérias-primas renováveis (ex. Biodiesel – B100), sempre conterão pequeno volume de água dissolvida com nutrientes, território fértil  para o crescimento de bactérias, leveduras, algas e fungos que se manifestam em forma da chamada borra microbiológica.

Diesel RodoviárioFiguras 1/2 – Borra microbiológica: bactérias, leveduras, algas e fungos.

Ocorre, porém, que o combustível denominado Biodiesel (B100) possui maior capacidade de dissolver água e mantê-la em suspensão. Em função disto, o processo de separação da água dissolvida nos filtros de combustível em granel ou “on-board” dos equipamentos móveis torna-se substancialmente mais reduzido e complexo.

Diesel RodoviárioFiguras 3/4 – Maior dificuldade de separação da água devido à adição de B100.

Devido a água promover a bioatividade no Óleo Diesel Rodoviário (B S500/B S10), eleva-se o risco de haver desenvolvimento de micro-organismos e  deterioração das propriedades físico-químicas básicas em função da formação de borra microbiológica, elevação da acidez  e, provável, ocorrência de desgaste corrosivo em  superfícies  metálicas dos componentes sistemas de injeção de combustível.

Diesel RodoviárioFiguras 5/6 – A água livre é agente de atividade microbiológica

A obstrução precoce e repetida de filtros de combustível em granel, filtros “on-board”  e filtros de tela da bomba de combustível dos equipamentos móveis por material gelatinoso, também, pode ser consequência de borra microbiológica formada em decorrência  da  bioatividade, catalisada  pela  presença de água livre e agravada pela adição obrigatória de Biodiesel ao Óleo Diesel Rodoviário.

Diesel Rodoviário - filtros

 

 

 

 

Figuras 7/8 – Obstrução precoce de filtros por borra oriunda de bioatividade.

A condensação de água em tanques de armazenamento em granel de Óleo Diesel  Rodoviário, reservatórios de comboios de abastecimento e tanques de combustível “on-board” de equipamentos móveis é fonte permanente  de  nutrientes para os micro-organismos (bactérias, leveduras, algas e fungos) que originam a borra microbiológica.

Diesel RodoviárioFiguras 9/10 – A água condensada é fonte de nutriente para micro-organismos.

  1. PROCEDIMENTOS PARA ARMAZENAMENTO

A fim de se reduzir o surgimento da fauna e flora microbiológica e da borra oriunda da oxidação ( reação com o oxigênio do ar ) recomendam-se alguns cuidados para com o Óleo Diesel Rodoviário ( B S500/B S10 ) quando do armazenamento por período de tempo superior a 30 dias:

2.1. Uso de filtros dessecantes e para material particulado sólido, se possível,  nos tubos de respiro dos tanques de armazenamento de combustível em granel.

 

 

 

 

 

 

Figuras 11/12 – Uso de filtros dessecantes para material particulado em tubos de respiro.

Tanques de armazenamento aéreos para granel expostos à radiação solar,  operando em ambientes úmidos, em climas de temperaturas ambientes elevadas, sujeitos a consideráveis variações de temperatura (ex.: fazendas) e sem o uso de filtros dessecantes e para material particulado sólido nos tubos de respiro são mais sujeitos a condensar a umidade do ar em seu interior, à ingestão de material particulado sólido abrasivo e à proliferação de micro-organismos (bactérias, leveduras, algas e fungos) que levam à formação da borra microbiológica e proveniente da oxidação.

 

 

 

 

 

Figuras 13/14 – Tanques aéreos e   sem filtros dessecantes e de partículas.

2.2. Realizar a drenagem semana dos tanques de armazenamento de combustível em granel e dos reservatórios de combustível dos comboios de abastecimento com vistas à retirada de água livre, borra microbiológica e borra oriunda de oxidação.

Diesel Rodoviário

 

 

 

 

 

 

Figuras 15/16 – Drenagem semanal dos tanques de armazenamento em granel

2.3. Efetuar  filtração semanal em regime de ” kidney loop” (recirculação) utilizando com  filtro-prensa ou similar provocará  turbilhonamento, do Óleo Diesel Rodoviário presente no tanque de armazenamento combustível em granel de forma a impedir a deposição de borra no lastro de combustível que, eventualmente, não possa ser drenado  através do registro de  drenagem. A recirculação, se possível, deverá ser realizada com o Óleo Diesel Rodoviário sendo succionado pelo registro de drenagem e recalcado por tubulação de descarga imersa na massa de combustível com vistas a se evitar a formação de eletricidade estática do fluxo de combustível com a atmosfera  interior do tanque de armazenamento de combustível.

Diesel Rodoviário

 

 

 

 

 

Figuras 17/18 – Filtração em “loop” com turbilhonamento evita depósitos em forma de borra.

2.4.  Certifique  se o registro de drenagem do tanque de armazenamento de combustível em granel esteja localizado em posição tal  de forma a não haver lastro sem movimentação no tanque de armazenamento de combustível quando da recirculação utilizando sistema de filtração com filtro tipo-prensa.

Figuras 19/20 – Verificar a posição do registro de drenagem.

2.5. A filtração em regime de “kidney loop” (recirculação) poderá ser efetuada utilizando sistema de filtração de Óleo Diesel Rodoviário em granel do tipo filtro-prensa ou similar devendo-se tomar os devidos cuidados com respeito à segurança e vazamentos.

Diesel Rodoviário

 

 

 

 

 

Figuras 21/22 – Recirculação em regime de “loop” através de sistema de filtração.

2.6. Em cada uma das  placas do filtro tipo prensa deve-se utilizar meio filtrante de celulose de línter de algodão puro com Dimensão Média de Poros nominal de 5 mícron, cor BRANCA,  juntamente com meio filtrante  hidrofóbico, cor AMARELA. O meio filtrante de cor BRANCA servirá para retenção de material particulado sólido e borra não se prestando à retenção de água livre sendo mandatório, desta forma, a sua utilização com o elemento filtrante hidrofóbico (cor AMARELA).

Figuras 23/24 – Elementos filtrantes p/ retenção de material particulado, água e borra.

2.7. O tempo de filtração deverá ser suficiente para que o completo volume de Óleo   Diesel Rodoviário tratado passe, ao menos, 7 vezes pelos elementos filtrantes. Para calcularmos o tempo necessário à filtração podemos proceder da seguinte maneira:

 

 

 

 

 

Figuras 25/26 – A recirculação deverá ocorrer, se possível, 7 vezes.

2.8. Quando a Pressão Diferencial  no vacuômetro analógico atingir 30 psi acima da pressão inicial utilizando-se conjunto de elementos filtrantes  novos ou a cada 150.000 litros de combustível filtrado recomenda-se efetuar a troca dos elementos filtrantes para material particulado sólido e coalescente.

Figuras 27/28 – Efetuar troca dos elementos filtrantes a cada 150.000 litros.

2.9. A vazão da bomba pode ser obtida em plaqueta existente na bomba de engrenagem ou em plaqueta de dados fixada na cobertura do filtro-prensa.

 

 

 

 

 

Figura 29/30 – Verificar vazão da bomba na plaqueta de identificação.

Diesel Rodoviário – CONCLUSÃO

O armazenamento do Óleo Diesel Rodoviário (B S500/B S10) por períodos superiores a 30 dias pode ser efetuado contanto que cuidados básicos sejam tomados em função da borra oriunda da atividade microbiológica e oxidação, catalisada pela adição de Biodiesel (B100).

Há diversos métodos  que  podem  ser  utilizados  para se manter a condição de uso do Óleo Diesel  Rodoviário sendo, um deles, a  filtração em regime de “kidney- loop” (recirculação) utilizando-se de filtro-prensa ou similar. Tem-se adotado este sistema em função de sua simplicidade, baixo custo e boa eficiência.

 

 

 

 

 

 

 

 

Figuras 31/32 – Filtros utilizados em regime de filtração “kidney-loop”.

#portallubes #lubrificantes #graxas #carros #automóveis #Motos #motocicletas #caminhões

Outros artigos do Autor

Qual o óleo certo para diferenciais autoblocantes ou “limited slip”?

Marcos Thadeu Lobo Engenheiro Mecânico Graduado pela Universidade Estadual de Campinas ( Unicamp ). Exerce, atualmente, a função de Consultor Associado na empresa QU4TTUOR CONSULTORIA. Diferenciais...

Vantagens e cuidados no uso de contentores portáteis para lubrificantes

Marcos Thadeu Lobo Engenheiro Mecânico Graduado pela Universidade Estadual de Campinas ( Unicamp ). Exerce, atualmente, a função de Consultor Associado na empresa QU4TTUOR CONSULTORIA. Contentores...

Graxa para mancais de rolamento, como escolher?

Marcos Thadeu Lobo Engenheiro Mecânico Graduado pela Universidade Estadual de Campinas ( Unicamp ). Exerce, atualmente, a função de Consultor Associado na empresa QU4TTUOR CONSULTORIA. Graxa...

Guia de interpretação de análises em lubrificantes para motores diesel

Marcos Thadeu Lobo Engenheiro Mecânico Graduado pela Universidade Estadual de Campinas ( Unicamp ). Exerce, atualmente, a função de Consultor Associado na empresa QU4TTUOR CONSULTORIA. Interpretação...

Que lubrificante usar para um compressor de ar recíproco?

Marcos Thadeu Lobo Engenheiro Mecânico Graduado pela Universidade Estadual de Campinas ( Unicamp ). Exerce, atualmente, a função de Consultor Associado na empresa QU4TTUOR CONSULTORIA. Lubrificação...