Mercosul e a Aliança do Pacífico
Em busca de maior proximidade, o Mercosul e a Aliança do Pacífico organizam sua primeira reunião conjunta de chanceleres e ministros de Comércio, no dia 7 de abril. O encontro foi confirmado no início desta semana e ocorrerá em Buenos Aires. Do lado brasileiro, há uma clara intenção de romper com a imagem de antagonismo entre os dois blocos.
Lançada em período de lideranças no Cone Sul fortemente identificadas com o papel intervencionista do Estado, como Dilma Rousseff no Brasil e Cristina Kirchner na Argentina, a Aliança do Pacífico surgiu com o rótulo de grupo focado na liberalização comercial.
O bloco formado por México, Chile, Colômbia e Peru foi imediatamente reconhecido no mundo como um contraponto à agenda protecionista do Mercosul. Antônio Patriota, exchanceler de Dilma, dizia em resposta que a aliança era um “êxito de marketing” e buscava apenas dar “roupagem nova” a um exercício de integração já existente.
Agenda mais liberalizante
Com uma agenda mais liberalizante e após a suspensão da Venezuela do Mercosul, o governo Michel Temer pretende reverter essa dicotomia e mostrar que os dois blocos podem falar a mesma língua. “Ninguém ganha com uma abordagem de rivalidade, como se fôssemos adolescentes”, afirma experiente diplomata brasileiro.
Por isso, mais do que resultados concretos ou o lançamento de uma nova pauta, a reunião tem significado em si mesma ao difundir a ideia de coesão e abertura comercial na América Latina justamente quando há tantas incertezas sobre o grau de protecionismo dos Estados Unidos após a chegada do republicano Donald Trump à Casa Branca.
Aproveitar a oportunidade
Os ministros Aloysio Nunes (Relações Exteriores) e Marcos Pereira (Indústria, Comércio Exterior e Serviços) já confirmaram presença. Eles querem aproveitar a oportunidade para uma coordenação mais estreita de posições em fóruns internacionais, como a conferência da Organização Mundial do Comércio (OMC), marcada para dezembro e também com a capital argentina como sede.
“A instrução do presidente Temer é aprofundar o diálogo e construir uma agenda de trabalho com paísesmembros da Aliança do Pacífico, especialmente em conjunto com o Mercosul”, afirmou Pereira. “Os dois blocos vivem momentos interessantes e convergentes para essa aproximação”.
Outras tentativas
Tentativas um pouco mais acanhadas de aproximação haviam sido feitas no governo Dilma. Em 2014, chanceleres dos dois blocos se reuniram em duas ocasiões uma em Cartagena e outra em Santiago. Ainda eram nítidas, porém, as diferenças nas políticas comerciais de cada lado.
O Brasil já tem acordos de livre comércio ou de preferências tarifárias (que dão descontos nas alíquotas de importação) com todos os países da Aliança do Pacífico. Entre os demais parceiros dos dois blocos, apenas México e Paraguai não têm tratado comercial em vigência. Graças à implementação escalonada desses acordos, será formada até 2019, na prática, uma virtual área de livre comércio do Mercosul com os membros sulamericanos da Aliança do Pacífico.
O comércio entre Brasil e Chile
O comércio entre Brasil e Chile já se encontra totalmente liberalizado. As trocas com Peru e Colômbia estão muito perto de tarifa zero para a maioria dos produtos. Vigora com o México um acordo reduzido, que contempla em torno de 800 produtos, cuja ampliação está sendo negociada. Também existe um acordo bilateral específico para o setor automotivo.
O Brasil é o maior parceiro comercial na América Latina de todos os países da Aliança do Pacífico, à exceção da Colômbia, mercado onde o México está em primeiro lugar.