Encontro de Óleos Industriais e Graxas 2025

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Revista Lubes em Foco edição 96

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1.- Encontro de Óleos Industriais

Tecnologia, inovação e sustentabilidade são o futuro da lubrificação

Entender o mercado em que atua é hoje quase tão importante quanto dominar os conhecimentos técnicos de um produto ou serviço. Por este motivo, o 5º Encontro Internacional com o Mercado de Óleos Industriais e Graxas, promovido pela Revista Lubes Em Foco, uma idealização e produção da Editora ONZE, começou falando sobre inteligência artificial (IA).
Segundo André Ghion, expert em transformação digital, inovação e tecnologias emergentes, os ciclos de inovação e de transformação estão cada vez mais curtos. “A IA já é uma alavanca super importante e ela vai mudar todo e qualquer mercado”, ressalta.
Ghion explicou como o uso da IA pode aumentar a capacidade de entrega de tarefas e quanto isso pode representar em valor. Outro ponto importante é a velocidade com que a transformação deve acontecer e, por incrível que pareça, ele ressalta que as pessoas com mais experiência têm uma chance muito maior com a IA do que os jovens. “O que deve acontecer é uma seniorização do mercado de trabalho em algumas funções.”
Finalizando ele conclui que é fundamental adotar a IA, pois a transformação será no indivíduo e no coletivo das empresas. Como exemplo, citou empresas que possuem como funcionários inteligências artificiais e também o primeiro clone no Brasil de uma pessoa, de um executivo e conselheiro: ele mesmo.

Lubrificantes sustentáveis de alta performance para aplicações em engrenagens industriais foi o tema abordado pela Head Global de Mercado para o segmento de Agricultura e Desenvolvimento de Novos Negócios da Evonik, Mariana Silva.
Ela trouxe três casos reais de aplicações da tecnologia, demonstrando não somente os benefícios na utilização desse tipo de lubrificante, mas também como é importante o entendimento destes ao longo de toda a cadeia de suprimento.
Para Mariana, os lubrificantes de alta performance podem alcançar todo seu potencial quando toda a cadeia entende quais são seus benefícios de sustentabilidade, eficiência energética, eficiência de recursos e pegadas de carbono. “A gente consegue falar que o lubrificante de alta performance tem um índice de viscosidade elevado, ele reduz a fricção e com isso conseguimos ter um consumo menor de energia, maior durabilidade do equipamento, menor manutenção.”

O cientista associado em tecnologia, serviços técnicos e desenvolvimento na Dow Brasil, Eduardo Lima, discorreu sobre como é possível evoluir os poliglicois, tanto para lubrificantes, quanto em propostas inovadoras para graxas. Ele diz que já existe uma produção local de poliglicois dedicados para a parte de lubrificantes, tanto para solúveis em água, quanto insolúveis, e é importante trazer um pouco do potencial de crescimento que existe dentro desse mercado.

Os seis pilares da lubrificação foram abordados por Philip Freitas, engenheiro e consultor da LUBRIN. Ele lembrou o quanto a lubrificação influencia a eficiência dos equipamentos, e que, quando mal lubrificados, podem parar uma planta. Para ele, o pilar número 1 é a seleção e formulação. A importância de saber qual a indicação daquele produto, de forma a fazer o uso correto para cada equipamento. O pilar número 2 – recepção e armazenamento; o 3 – manuseio e aplicação; 4 – controle de contaminação; 5 – monitoramento e análise e o 6 – sustentabilidade e conformidade.

O especialista em Regulação da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustiveis (ANP), Paulo Matos, ressaltou que os biolubrificantes precisam ter mais de 25% de composição baseada em materiais renovados, ser biodegradável e mais de 60% de degradação em 28 dias.
Ele explicou o cenário do uso do produto na Europa e Estados Unidos e ressaltou que o biolubrificante já evoluiu muito, principalmente na aditivação. “Hoje temos uma gama de aditivos específicos para o biolubrificante. Se ele for de origem vegetal, é um éster. Ou, se ele é um éster sintético, a capacidade térmica dele é muito boa em relação ao biolubrificante mineral”.
Dentre as vantagens do uso de biolubrificante no Brasil, acredita, estão o aumento do uso de materiais renováveis, menor impacto ambiental no descarte, devido a maior biodegradabilidade, menor toxicidade e menor bioacumulação.

A Techcnical Service & Development da Braskem, Ingrid Melchior Ferreira, começou sua palestra falando sobre a demanda por tipos de lubrificantes. Segundo ela, no ano de 2025 cerca de 75% da demanda está voltada para o setor de transportes e outros 25% para outras aplicações, em sua maioria para a industrial.
Fazendo um recorte voltado para o mercado específico de cana de açúcar, Ingrid, destacou o crescimento desse segmento, e a importância da escolha de um lubrificante que tenha todos os requisitos técnicos para essa aplicação, em função do contato do lubrificante com o suco da cana, que pode acabar acidificando e prejudicando o processo de lubrificação. “Tem toda essa questão de corrosão, contaminação com particulados, com a própria água, porque muitas vezes a gente está falando de uma engrenagem aberta.”
Em função disto está a lógica da organização do portfólio de PIB da empresa, baseada em três famílias, PIBs leves, médios e pesados, que são direcionados por conta da viscosidade cinemática que tem uma correlação com o peso molecular e o crescimento da cadeia.”

Para falar sobre protetivos isentos de óleo mineral, Paula Patrão, gerente de Contas da IMCD, apresentou o resultado de uma parceria com a Lubrizol, para resolver uma demanda do mercado por produtos que atendessem a NR15, uma Norma Trabalhista sobre insalubridade.
Foram realizados seis protótipos, sendo que dentre os requisitos de performance, estava o que definiu que o produto deveria ser base cálcio. A partir daí foram realizados testes de corrosão em cabine salt spray, teste de demulcificação ou separação e um teste de remoção de água.
Ela explicou todos os processos adotados até a conclusão em que o RP1foi o produto que melhor performou dentro dos seis protótipos avaliados. O produto ainda não tem um nome comercial e será lançado apenas em 2026, mas a IMDC e a Lubrizol já estão realizando testes.

Miguel Muniz, gerente Técnico e de Marketing para a América Latina da ERGON, abordou a combinação da viscosidade e desempenho na utilização de bases pesadas na fabricação de graxas. Ele ressaltou que esses parâmetros são extremamente importantes para determinação da utilização de óleos básicos na preparação de lubrificantes.
Ele lembra que na formulação é possível encontrar muitas bases diferentes, daí a importância de conhecer a aplicação que será feita. A estabilidade de oxidação é sempre um desafio importante, o que exige encontrar um bom balanço entre o base da graxa, o grupo naftênico ou qualquer outro grupo da mistura. “Temos visto em algumas pesquisas sobre graxas de base pesada, que você pode obter um grau de energia melhor com uma quantidade menor de espessura.”

A analista de Laboratório Pleno da SKF, Beatriz Pereira e o supervisor de Engenharia de Aplicação, Emerson Petrozo, apresentaram alguns cases que mostram a importância da análise do óleo e a integração de técnicas na manutenção preditiva.
Emerson Petrozo lembra que 50% dos problemas de rolamentos estão associados à lubrificação, que podem envolver especificação, negligência, intervalo, quantidade e outras séries de coisas. Logo, uma análise correta começa com o procedimento de coleta, que deve levar em conta o ponto primário. “Seguir o circuito do lubrificante, desde que ele sai do reservatório, passa em todos os pontos do equipamento e retorna.”
Beatriz Pereira, por sua vez, explicou como deve ser feita a análise desse lubrificante coletado. Segundo ela, é como se fosse um “exame de sangue” onde é possível constatar a saúde do equipamento. “Prevenir falhas prolonga a vida útil do equipamento, reduz custos com manutenção, com paradas programadas. A gente não tem aquela corretiva, conseguimos programar o que vamos fazer naquele equipamento, diminuindo o intervalo de troca, não trocamos o óleo se não tiver necessidade disso, o que garante a eficiência operacional do equipamento.”

No segundo dia do 5º Encontro Internacional com o Mercado de Óleos Industriais e Graxas, os temas das palestras foram as graxas lubrificantes.

2.- Encontro de Graxas

Entender a aplicação é fundamental para tirar todo o potencial das graxas lubrificantes

O segundo dia do 5º Encontro Internacional com o Mercado de óleos Industriais e Graxas, começou com uma apresentação da gerente de P&D da ICONIC e membro do N.L.G.I. (Instituto Nacional de Graxa Lubrificante), Daiane Spadari. Ela lembrou o potencial do mercado e agradeceu a participação dos membros do Instituto no evento, pela primeira vez, e convidou ao palco, Cecília Mancero, vice-presidente Internacional Sales of Platinum e chefe do Comitê Internacional do N.L.G.I, e Jennifer Foreman, gerente de serviços de membros.

Cecília agradeceu a oportunidade e ressaltou o entusiasmo em estar no Brasil. Segundo ela, o objetivo do Instituto é ser a fonte de informações técnicas para a indústria de lubrificantes. Na sequência, convidou Javier Carrillo, vice-presidente do subcomitê internacional para falar sobre o trabalho do Instituto.

Carrillo começou dizendo que o N.L.G.I tem sido a base dos padrões da indústria, servindo de guia para fabricantes, fornecedores e consumidores. O especialista traçou uma linha do tempo em que contou a história da evolução da organização, passando pelo processo de Certificação e seus benefícios para o mercado.
Finalizou explicando que o N.L.G.I funciona como uma Associação de Comércio. “Significa que nosso principal foco é o avanço da indústria, sem gerar nenhum problema. A estrutura nos permite servir como um campo neutro onde os competidores possam colaborar e os padrões beneficiem a todos.”

O painel que discorreu sobre os aspectos específicos do mercado de graxas no Brasil, foi um dos pontos altos do evento. Na oportunidade, o diretor da Editora Onze, Pedro Nelson e o diretor da Honorato Assessoria, Manoel Honorato, iniciaram os trabalhos, fechando o escopo das discussões em três pontos: market share, legislação e matérias-primas. Analisando os números, a dupla ressaltou que a informação no site da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), é voluntária, logo, é preciso atenção, pois nem sempre eles refletem o que acontece no mercado. Pelos números publicados, houve um aumento na graxa de lítio em relação à de cálcio. “A curva de produção que nós tínhamos antes é que empresas pequenas e médias produziam bastante graxa de cálcio, em termos percentuais, e menos graxa de lítio. Agora começou a ter uma inversão”, explica Honorato.
Pedro Nelson lembrou ainda que embora não exista a obrigatoriedade do registro, a ANP continua fazendo a fiscalização. Ele explica que embora exista a impressão de por não ter registro pode entrar qualquer produto, isso não é verdade. “A ANP tem barreira de entrada, tem que ter um respeito pela parte de qualidade do produto que você está colocando no mercado.”
Quem também foi chamado para compor o painel foi Felipe Camargo, gerente de Qualidade e P&D da Aboissa. Ele apresentou rapidamente o cenário da produção de mamona e palma, apontando um déficit de produção dos dois insumos. No caso da mamona existe uma dificuldade de colheita, já na palma, a competição é com o mercado de alimentação animal, principalmente no setor leiteiro.

A expansão da eletrificação acabou ampliando o universo das graxas de poliureia. Segundo o gerente de negócios do segmento industrial para a América Latina, da Lubrizol, Roberto Saruls, o produto começou a ser vistos de forma diferente, o que levou a empresa a investir nessa linha.
Segundo ele, existe um crescimento gradual, uma tendência do mercado ir absorvendo ou entendendo que a graxa de poliureia pode ser também, uma opção para graxas de altíssima performance. Ele ressaltou que embora no Brasil a graxa de lítio esteja crescendo no consumo, em outros países existe uma variação.
Finalizando, ele diz que o lítio vai permanecer embora esteja sofrendo uma queda em nível global. “E quem está assumindo o protagonismo mais forte nessa área de substituição são as graxas de sulfonato de cálcio e as graxas de poliureia.”

O vice-presidente Global de Tecnologia e Inovação da Texile Rubber & Chemical Company, Dr. Vasu Bala, falou sobre a formulação de graxas EP multiuso de alto desempenho. Segundo ele, em várias produções de graxa, o lítio ainda domina, com 57%, outras 23% são a base de cálcio, e a poliureia está em terceiro lugar. “É uma graxa que está crescendo no mercado”, explica.
O Dr. Vasu chamou atenção dos químicos para questões de formulação, pois muitas vezes ao adquirir um pacote de aditivos, o profissional não se atenta à estrutura química destes, que podem impactar diretamente o desempenho do produto quando em contato com o lítio, por exemplo.

Paulo Berto, pesquisador de produto da ICONIC Base Oil, lembrou o primeiro ensinamento no Sun Tzu: seja adaptável e planejamento. Segundo ele, planejamento é essencial para a melhoria do processo. “Unir essa estratégia antiga com uma sustentabilidade moderna é o que a gente vê para criar vantagens competitivas dentro da sua indústria. Então, o Sun Tzu falava sobre conhecimento, adaptabilidade e eficiência para superar desafios.”

Falando sobre tecnologia na fabricação de graxas, Pedro Sachet, pesquisador de produto da ICONIC, falou um pouco sobre quais os problemas normalmente associados à existência do verniz e a necessidade de fazer um flushing. Ele também comentou sobre sua experiência em relação ao comportamento da formação do verniz. Segundo o entendimento da empresa, os óleos lubrificantes e graxas lubrificantes que são formuladas com óleos básicos do grupo 2, são mais resistentes à degradação térmica. O que muda e coloca o grupo 1 com algum nível de protagonismo é que ele tem uma tendência a solubilizar melhor os depósitos insolúveis.

O último tema abordado no evento foi a avaliação da performance do lubrificante aplicado em rolamento do main shaft de turbina eólica. Emerson Petrozo, supervisor de Engenharia de aplicação da SKF iniciou sua apresentação retomando a questão dos impactos da lubrificação em equipamentos. Ele traçou um panorama dos desafios de lubrificação de um rolamento em uma turbina eólica, que pode ter em torno de 600 milímetros de furo, ou seja, rolamentos grandes e fortes.

A seguir, Carlos Eduardo Santos, responsável pelos projetos de Engenharia de Lubrificação e Confiabilidade da SKF, apresentou um estudo de caso em que foram realizados testes para entender o problema na turbina e buscar uma solução. Fica clara a necessidade de uma lubrificação automatizada. “Eu consigo otimizar esse processo. Com isso elimino o excesso, as faltas ou contaminações de uso, visto que não preciso depender do meu técnico, tudo está automatizado.”