Setor extrativo volta a ajudar economia este ano

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A recuperação da indústria esperada para este ano deve contar com mais uma ajuda: depois da redução de 9,5% observada em 2016, economistas avaliam que a produção do setor extrativo mineral vai voltar ao campo positivo.

Além da baixa base de comparação do ano anterior, a alta será resultado da entrada em operação de novas plataformas da Petrobras e da maturação de investimentos importantes da Vale, apontam analistas.

Apesar da forte queda na média do ano, a atividade do setor voltou a crescer nos últimos meses de 2016. Enquanto a produção da indústria de transformação caiu 1,1% entre o terceiro e o quarto trimestres, feitos os ajustes sazonais, a indústria extrativa avançou 2% em igual comparação.

Para economistas, a alta vai continuar nos primeiros meses de 2017, o que terá impacto positivo sobre o Produto Interno Bruto do primeiro trimestre, ainda que reduzido. Nos cálculos do Ibre-FGV, o PIB da indústria extrativa vai aumentar 4,6% de janeiro a março, na comparação com igual período de 2016.

setor-extrativo-no-brasilO peso do segmento extrativo nas Contas Nacionais, no entanto, é pequeno, de apenas 1,4%, considerando dados do IBGE até o terceiro trimestre de 2016. Ao fim de 2015, a participação era maior, de 2,1%.

Segundo economistas, a importância da indústria extrativa na economia diminuiu em função do desastre da Samarco em 2015, que interrompeu a produção da mineradora. É considerado pouco provável que a empresa retome as operações neste ano, mas, caso isso ocorra, o desempenho do setor extrativo pode ser ainda melhor.

Só a saída do impacto do acidente da Samarco da base de comparação já terá efeito positivo sobre a atividade da indústria extrativa mineral, afirma Francisco Pessoa, economista da LCA Consultores. “Só isso já gera um crescimento entre 3% e 5% da indústria extrativa”, estima Pessoa, que não inclui em seu cenário a volta à atividade da subsidiária da Vale. Caso a Samarco volte a produzir, as projeções da LCA para a variação da produção do segmento extrativo em 2017 serão revistas para cima.

Petróleo traz boas perspectivas ao setor extrativo

As perspectivas para a extração de petróleo também são favoráveis, afirma o economista, uma vez que quatro unidades de produção da Petrobras devem começar a operar este ano: Tartaruga Verde, Tartaruga Mestiça, Lula Norte e Lula Sul. Também são aguardados novos testes de poços em Libra.

Medida pela Agência Nacional Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a produção nacional da commodity bateu recorde no ano passado ao crescer 2,9% sobre 2016 – para 2,509 milhões de barris diários, em média. O desempenho foi impulsionado principalmente pelos projetos do pré-sal, que já é responsável por 40% de toda a produção de óleo e gás no país.

A alta na produção de petróleo em 2017 deve ser ainda maior no cenário da Tendências Consultoria, de 6,5%, em função da maturação de novas unidades inauguradas pela Petrobras em 2016 e, também, da entrada em operação de outras quatro unidades de exploração. “O Brasil deve ser um dos principais contribuintes para a expansão da oferta global de petróleo”, diz o analista Felipe Beraldi.

Para a Agência Internacional de Energia (AIE), a produção vai aumentar para 2,85 milhões de barris por dia em 2017, mas, como o consumo tende a ser ainda baixo, especialmente do setor industrial, a expansão prevista para a oferta de petróleo deve superar o aumento da demanda.

Outra ressalva a ser feita é a situação financeira ainda frágil da Petrobras, acrescenta Beraldi, além das complicações que a estatal ainda enfrenta devido à operação Lava-Jato. “Esses são fatores limitantes a um crescimento mais forte da produção de petróleo”, disse.

Vale tem o maior projeto de sua história

Do lado da extração de minério de ferro, as expectativas são bastante positivas para este ano, observa o economista da Tendências, ainda que a forte ascensão das cotações da commodity observada até agora deva ser revertida mais à frente. O destaque nessa área é o S11D, maior projeto de minério da história da Vale, inaugurado em janeiro pela companhia. Localizada no sudeste do Pará, a mina tem capacidade de produção de até 90 milhões de toneladas anuais.

Setor extrativo
Máquinas do Projeto SD-11 da Vale, no sudeste do Pará

Para Júlio Mereb, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), a expansão de 1,3% esperada para o PIB do setor extrativo em 2017 ocorrerá mais em função da base de comparação fraca do ano anterior, fortemente afetado pela paralisação da produção da Samarco. O efeito estatístico será positivo principalmente no último trimestre deste ano, afirma Mereb, para quem o PIB do setor deve ter pequena alta entre o quarto trimestre de 2016 e o primeiro deste ano, de 0,2%.

Apesar do peso pequeno deste componente no PIB, o setor extrativo dará contribuição positiva à atividade, aponta o economista, ajudando também na retomada da indústria. Dentro da produção industrial, o peso do setor extrativo é maior, de cerca de 10%, observa Mereb.