Câmbio está indo para lugar real e novo PAC seria cavar buraco mais fundo, diz Guedes

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Lugar real do câmbioLugar de equilíbrio do câmbio

BRASÍLIA (Reuters) – O ministro da Economia, Paulo Guedes, avaliou nesta quarta-feira que o câmbio está indo para seu “lugar real”, o que ajuda a proteger a indústria brasileira, e reforçou ter o apoio do presidente Jair Bolsonaro para seguir em frente com a mesma agenda de política econômica que sempre defendeu.

Em conversa virtual promovida pela Mercado & Consumo, entidade ligada ao varejo, Guedes avaliou que ir adiante com um novo programa nos moldes do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), gestado em governos petistas, seria cavar um buraco mais fundo.

Guedes também ponderou que a taxa básica de juros pode cair ainda mais caso o governo sinalize que prosseguirá no caminho das reformas estruturantes, o que abrirá o caminho para que o país gaste menos com juros da dívida pública.

Cada corte de 1 ponto na Selic implica economia de 80 bilhões de reais, disse o ministro.

“Agora o juro é baixo e o câmbio está lá em cima, pra proteger a indústria brasileira, pra proteger a substituição de importações, mas em mercado. Não estamos dando subsídio, nada disso”, afirmou ele.

“Nós estamos deixando o câmbio ir para o lugar real, para o lugar de equilíbrio dele. Antigamente o Brasil pisava no freio monetário e soltava o fiscal. Então o juro de equilíbrio é lá em cima e o câmbio de equilíbrio é lá embaixo. Nós mudamos esse modelo. Agora o aperto é fiscal e deixa mais solto o monetário.”

O ministro pontuou que os juros estão “baixíssimos”, mas podem cair mais “se o modelo estiver reforçado”.

“O Brasil nunca viu isso na vida, juros caindo abaixo de 3%”, afirmou.

Atualmente, a Selic está em 3,75% e o Banco Central se reúne na próxima quarta-feira para sua nova decisão de política monetária.

A expectativa de mercado é de novo corte na taxa, mas parte dos agentes calibrou suas apostas em direção a uma redução mais modesta após o governo ter anunciado na semana passada um plano para a retomada da economia —o Pró-Brasil— baseado em grandes obras de infraestrutura, incluindo investimentos públicos, o que vai diametralmente contra a visão de Guedes.

“Os senhores viram a confusão que foi a semana passada se você desvia do caminho de reformas estruturais que vão trazer o crescimento”, disse o ministro nesta manhã.

Segundo Guedes, é natural que o general Braga Netto, que comanda a Casa Civil, esteja recebendo todos os programas setoriais, mas ele frisou que cabe ao Ministério da Economia dizer o que é viável executar, em termos de recursos.

Guedes exemplificou que o pedido do ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, de mais 4 bilhões de reais por ano no orçamento da sua pasta —que é de 8 bilhões anuais— é “relativamente fácil de atender”. Mas ele sublinhou que não são esses recursos que “vão botar o Brasil para voar”.

“Nós já sabemos que a retomada do crescimento virá pelo investimento privado porque o caminho do investimento público, o PAC, já foi seguido e já deu errado”, disse.

“Se você cavou o buraco, foi para o fundo do poço através exatamente dessas obras públicas indiscriminadas, a solução para sair do buraco não pode ser cavar mais fundo, não pode ser repetir a mesma estratégia, fazer um novo PAC.”

O ministro defendeu que a retomada deve passar pela aprovação da lei de saneamento, regulamentação do setor de petróleo e gás e pela simplificação e redução dos impostos. Em relação a este último tópico, inclusive, ele voltou a dizer que os impostos sobre a folha de pagamento destróem a criação de empregos.

Citando seu secretário especial de Desestatização, Salim Mattar, Guedes afirmou que mesmo com o preço dos ativos afetados pela crise ligada ao coronavírus, o Brasil tem ativos imobiliários de 1 trilhão de reais e empresas estatais de 900 bilhões de reais.

“Imaginem 1 trilhão de reais quase de empresas e mais um trilhão de reais em imóveis e uma dívida de 4 (trilhões). Dois trilhões de reais ele (Brasil) tem, se ele acelerar as privatizações, acelerar as desestatizações, se acelerar a venda de imóveis, ele pode reduzir bastante isso”, afirmou.

Guedes também disse que o país possui reservas internacionais de quase 2 trilhões de reais, considerando o patamar atual do dólar.

Até o último dia 17, as reservas somavam 341 bilhões de dólares. O dólar, por sua vez, operava na casa de 5,38 reais nesta sessão.

“São ativos contra resto do mundo, não dá pra fazer estrada no Brasil com reserva internacional”, pontuou ele.

“Mas nós podemos também reduzir um pouco as reservas que temos”, completou o ministro, destacando que o expediente foi utilizado no ano passado e ajudou a reduzir a dívida bruta.

MESMO LUGAR

Em meio a ruídos que teria perdido força no cargo, Guedes disse nesta quarta-feira que está “absolutamente igual” e que segue com a mesma energia e determinação, com apoio do presidente Jair Bolsonaro.

O ministro fez menção a uma estimativa de queda do Produto Interno Bruto (PIB) de 6% este ano, sem especificá-la, mas ponderou que o cálculo pressupunha que uma contração de 2% viria somente pelo choque externo por conta da crise, sendo que esse efeito ainda não apareceu.

Segundo Guedes, as quedas nas exportações para Estados Unidos, Argentina e, em menor grau, para a Europa estão sendo compensadas pelo aumento das exportações do agronegócio para Ásia, particularmente China.

“É inegável que o isolamento social começa a desarticulação da economia, a velocidade de saída da crise vai depender de mantermos os sinais vitais”, disse ele, frisando a importância da safra, do escoamento da produção e da manutenção da cadeia de pagamentos na economia.

AJUDA A ESTADOS

O ministro também afirmou que a ajuda da União a Estados e municípios será de 120 bilhões a 130 bilhões de reais e que sairá em breve, com o texto sendo formatado pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).

Alcolumbre, que é relator do projeto, apoiou a intenção do governo de promover o congelamento dos salários do funcionalismo por 18 meses como contrapartida à injeção de recursos aos entes subnacionais, disse Guedes.

“Se vamos mandar 120, 130 bilhões em alta velocidade para Estados e municípios, esse dinheiro não pode virar aumento de salário”, defendeu.

O ministro não especificou o que o valor contemplava ou se todo o montante seria em injeção direta de recursos pelo Tesouro.

Quando a equipe econômica propôs a transferência de 40 bilhões aos entes pela perda de arrecadação futura, sinalizou também a suspensão de pagamentos de dívidas junto à União, Caixa Econômica Federal e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), elevando o pacote de ajuda a 77,4 bilhões de reais.

Considerando outras medidas já anunciadas no início da pandemia, o time econômico calculou à época que todo o socorro somava 127,3 bilhões de reais.