Volkswagen Truck e Bus
Contrariando qualquer expectativa diante do fraco mercado de caminhões no Brasil, a Volkswagen Truck e Bus, holding que reúne os fabricantes de veículos comerciais do Grupo VW, vai investir R$ 1,5 bilhão no País de 2017 a 2021. É o maior ciclo já realizado localmente. O anúncio foi feito na tarde da quinta-feira, 1º, por Andreas Renschler, CEO da holding, e por Roberto Cortes, presidente da MAN Latin America, empresa do grupo responsável pela atuação local. O aporte é destinado à ampliação do portfólio de produtos com novos veículos, ao desenvolvimento de novas tecnologias digitais e de conectividade e, enfim, à internacionalização da marca brasileira Volkswagen Truck e Bus (VWCO).
Importância internacional dentro da holding
“O investimento deixa claro que ganhamos importância internacional dentro da holding”, diz Cortes. O aporte anunciado, equivalente a € 420 milhões, é superior aos quatro ciclos anteriores, que foram de R$ 1 bilhão. O último deles, que começou em 2012 e termina em 2017, foi destinado ao início do processo de internacionalização da marca e ao desenvolvimento de novos produtos, inclusive de um caminhão leve prometido há tempos pela companhia que deve ser lançado nos próximos meses. “Não posso falar quando, mas teremos novidades em breve”, diz Cortes.
O vistoso programa da companhia anunciado agora deve ser concretizado com recursos próprios, seguindo a política da empresa. Desde o ano passado, no entanto, a MAN Latin America registra prejuízo, algo que deve se repetir no fechamento de 2016. Ainda assim, o presidente da operação local está otimista sobre a possibilidade de reverter este quadro nos próximos anos para cobrir o investimento. Se essa opção não der certo, ele admite a possibilidade de recorrer a financiamento do BNDES.
Investir mesmo na crise
O anúncio da Volkswagen Truck e Bus é curioso por acontecer em momento de severa crise no mercado de veículos comerciais. O setor trabalha com 70% de ociosidade da capacidade produtiva, estimada em 400 mil veículos por ano, porcentual que Cortes assume se repetir na fábrica da MAN em Resende (RJ), onde são feitos os caminhões e ônibus VW. Apesar da baixa local, Renscheler destaca que o investimento é estratégico para a holding nos próximos anos. “A nossa principal questão agora é administrar a queda e fazer com que a marca se encaixe no cenário global”, esclarece.
O executivo diz que cada empresa da Volkswagen Truck e Bus tem um foco. A MAN oferece linha completa, focada em eficiência no transporte. A Scania tem o apelo de trabalhar com soluções sustentáveis. Já a VWCO é posicionada como especializada em mercados emergentes com aposta na relação vantajosa entre custo e benefício. Entre as três, a última é a que tem menor volume de vendas – 15,6 mil unidades de janeiro a setembro de 2016 contra quase 60 mil veículos de cada uma das outras empresas. Neste cenário, Renscheler avalia que há oportunidade de crescer globalmente.
Exportação para 30 países
Os veículos da VWCO feitos no Brasil são exportados atualmente para quase 30 países da América Latina, norte da África e Oriente Médio montados ou em kits CKD. “O mundo é bem maior do que isso. Vamos ver onde mais nos encaixamos”, diz Cortes. Hoje entre 15% e 20% da produção de Resende é vendida fora do Brasil. A intenção dele é elevar este porcentual para 30%.
A companhia ameniza o momento de crise no Brasil. “O País tem boas bases econômicas. Sinto que o principal problema é político. Assim que isso se resolver o mercado vai voltar a crescer. O potencial é enorme”, defende Renscheler. A estimativa é de que apenas em 2021 o País alcance o patamar recorde registrado em 2011, quando foram vendidos localmente 207 mil caminhões e ônibus. O salto precisará ser grande, já que a projeção para este ano é de que sejam negociados apenas 59 mil veículos pesados.
Avanço Global
A estratégia coordenada com as outras marcas da holding pretende garantir à Volkswagen Truck e Bus nada menos do que o posto de campeã global do mercado de veículos comerciais. “Não queremos a liderança só em volume, mas em rentabilidade e satisfação do cliente também”, ambiciona Renscheler. Com a holding, o executivo investe em abordagem colaborativa, buscando sinergias entre as empresas nas áreas de compras e pesquisa e desenvolvimento. A meta é subir o porcentual de componentes comuns entre os veículos das marcas dos atuais 7,1% para 9%. “Não será fácil, mas temos potencial para isso”, diz.
A ideia dele é aumentar a presença global ao garantir a liderança nos mercados onde as marcas da companhia já estão. Dessa forma, a companhia terá que recuperar a liderança das vendas nacionais de caminhões, perdida em 2015 para a Mercedes-Benz. Outro desafio é alcançar o topo dos emplacamentos de ônibus no País, segmento tradicionalmente liderado pela concorrente.
Paralelamente a Volkswagen Truck e Bus pretende chegar a novas regiões. Um dos meios para isso é a aliança com outras empresas, a exemplo do que está acontecendo com a Navistar, norte-americana dona marca de caminhões International. O grupo alemão adquiriu participação de 16% na companhia este ano como forma de avançar no mercado dos Estados Unidos.