Inovação
A tríade empresa, governo e universidade opera como um mantra quando o assunto é inovação. A sinergia entre os atores é a base de um ecossistema de inovação bem-sucedido, como demonstram Israel, Estados Unidos, Alemanha e, mais recentemente, a China. O Brasil ainda tem pela frente longo caminho a percorrer até chegar ao patamar desses países.
Mas fica óbvio que a receita funciona quando aparece um caso como o da Visiona. Nascida de uma joint-venture entre a Telebras, empresa de economia mista do setor de telecomunicações, e a Embraer, a Visiona é uma integradora para a indústria espacial. Em parceria com a rede de Institutos de Inovação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), a empresa desenvolveu o primeiro nanossatélite – como são conhecidos satélites de até 10 kg – nacional.
O VCUB1, que será lançado nos próximos meses, vai coletar imagens e informações de estações hidrometeorológicas. Com câmera de alta resolução, o satélite oferecerá dados valiosos tanto para aumentar a produtividade da lavoura quanto para o monitoramento de áreas de desmatamento. O satélite tem capacidade de dar a volta à Terra em 90 minutos e poderá observar qualquer ponto do território nacional em apenas três dias.
Competitividade
Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, só a parceria concreta entre o governo e o setor produtivo será capaz de transformar o ambiente de inovação no país, resultando em aumento de produtividade e competitividade.
“Nenhum setor se relaciona mais com a inovação do que a indústria. Porém, para inovar, é necessário que o governo e a academia estejam cada vez mais conosco. Essa articulação é fundamental”, diz.
Recente estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) mostra que somente 11% dos projetos de pesquisa e desenvolvimento (PD&I) no Brasil são feitos em parceria entre academia e instituições de pesquisa privadas. O trabalho aponta também que apenas 26% dos especialistas em inovação atuam no setor produtivo, enquanto nos EUA o índice chega a 80%.
Foi na dobradinha academia e indústria que o Natchup saiu do papel. A alternativa nutritiva ao tradicional ketchup resulta da combinação entre acerola, beterraba e abóbora. A primeira ideia surgiu nos laboratórios do curso de Engenharia de Alimentos da Universidade Federal do Ceará, a partir de uma parceria com a Frutã, empresa de alimentos sediada no município de Jaguaribe, próximo a Fortaleza.
A mistura deu tão certo que o Natchup foi apresentado ao mercado em outubro de 2018 em uma das principais feira de alimentos do mundo, o Salão Internacional de Alimentação, realizado em Paris, França. Saiu de lá com o título de destaque em produtos inovadores, chancela que abre portas no mercado internacional.
Casos de sucesso como esse reforçam a importância de consolidar a cadeia de desenvolvimento de inovação no país. O pesquisador Ben Ross Schneider, do MIT Political Science, recomenda que o Brasil aprimore a coordenação dos diversos órgãos ligados ao tema, que hoje estão dispersos, e aumente o volume de investimentos em PD&I – o Brasil investe apenas 1,27% do PIB contra 4,2% de Israel e 3,4% do Japão, por exemplo.
O diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Carlos Américo Pacheco, ressaltou o papel fundamental da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), coordenada pela CNI, nessa agenda. “A MEI serviu como importante plataforma para criar consenso em torno das lideranças privadas e públicas de que a inovação é estratégica para o Brasil”, afirma.