Adesão ao Rota 2030 é menor do que a esperada

Programa pode ser interessante para 600 empresas, mas só tem 33 habilitadas, aponta a Pieraccciani Consultoria

110

Adesão ao Rota 2030Adesão ao Rota 2030

Sancionado ainda no fim de 2018, o Rota 2030 não registrou até agora o efeito esperado na cadeia automotiva. Até junho, 33 empresas se habilitaram para cumprir as exigências e receber os incentivos para investimentos em pesquisa e desenvolvimento. O número é baixo quando comparado ao universo estimado em 600 organizações em que o programa se encaixaria, aponta Francisco Tripodi Neto, sócio-diretor da Pieracciani Consultoria. O especialista vai participar de entrevista ao vivo sobre o tema no AB Webinar, no dia 3 de julho.

Segundo ele, o principal motivo para a baixa adesão é a dificuldade das organizações em identificar se os incentivos oferecidos pelo Rota 2030 compensam os investimentos necessários para cumprir obrigações impostas pelo programa. “Há uma série de dúvidas sobre como ter certeza de que será possível atingir às metas da política industrial, evitando multas e garantindo os benefícios”, conta. E complementa:

“A dificuldade para avaliar corretamente se vale a pena entrar no Rota 2030 não é exclusiva das pequenas empresas. Há muitas grandes companhias automotivas com dificuldade de se encaixar no programa”, diz.

 

Falta estratégia de saída

O Rota 2030 é estruturado em três ciclos de cinco anos de duração. Ao se habilitar, montadoras e fornecedores se comprometem com uma fase completa com investimentos mínimos em pesquisa e desenvolvimento. Assim, se entrar em 2018 ou 2019, a empresa só têm a chance de repensar a habilitação em 2023, quando o primeiro ciclo se encerra.

Além da natural dificuldade de entender se o complexo programa é ou não benéfico para as organizações, a ausência de uma cláusula de saída ou desabilitação do Rota 2030 também pesa para as empresas, segundo Tripodi. Sem detalhar nomes, ele aponta que já há um caso de companhia que entrou no programa sem um cálculo preciso das obrigações, se arrependeu e agora enfrenta dificuldade para sair.

“Em um contexto volátil como o brasileiro, as organizações pensam duas vezes antes de assumir um compromisso de cinco anos que exigirá investimentos”, afirma.

 

Descompasso no ciclo de investimento

Na lista das organizações habilitadas até agora, entre fabricantes de veículos e de componentes, chama a atenção a ausência de algumas montadoras, como as japonesas. Tripodi avalia que, em muitos casos, os investimentos obrigatórios em pesquisa e desenvolvimento exigidos pelo Rota 2030 estão em descompasso com os ciclos programados pelas empresas. “Algumas fabricantes têm um grande aporte previsto para os próximos dois anos, mas depois vão diminuir drasticamente até uma possível próxima fase”, diz. Tripodi lembra que isso é algo que não está previsto no Rota 2030, que impõe aportes anuais mínimos em porcentual sobre o faturamento. Segundo o consultor, a curva de aprendizagem do setor automotivo sobre o Rota 2030 ainda é longa e, portanto, será preciso algum tempo para medir o eventual sucesso ou fracasso do programa.