Wintershall retorna ao Brasil após 13 anos

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A petroleira alemã Wintershall, subsidiária da gigante mundial de química BASF, está voltando ao Brasil 13 anos depois de ter abandonado as atividades no país. A companhia foi um dos destaques do leilão de áreas no pós-sal feita pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), em março deste ano.

Wintershall retorna ao Brasil após 13 anos e planeja investir R$ 90 milhões no país
Wintershall retorna ao Brasil após 13 anos e planeja investir R$ 90 milhões no país

A companhia fez oferta em sete blocos, e arrematou todos: três em associação com a Chevron e a Repsol nas Bacias de Campos e Santos, e quatro sozinha nas Bacias do Ceará e Potiguar. O presidente da companhia no Brasil, Gerahrd Haase, conta ao GLOBO quais são os planos de expansão das atividades da Wintershall Brasil.

Ele adianta que a empresa espera investir mais do que os cerca de US$ 45 milhões mínimos previstos na fase inicial de desenvolvimento nos blocos arrematados, e quer ampliar ainda mais as atividades com novas aquisições. Ao todo, a empresa está investindo cerca de US$ 90 milhões no Brasil, entre a aquisição dos blocos e os investimentos mínimos.

Alemã Wintershall vai investir mais de US$ 10 milhões no Brasil

Para isso, a Wintershall atualmente resumida ao presidente e a uma secretária no Brasil, deverá contratar cerca de 12 funcionários ainda este ano para iniciar as atividades de 2019, devendo aumentar esse número para 30 a 40 empregados nos próximos três anos.

Gerarhd Haase afirma que além do potencial petrolífero brasileiro e da melhoria das condições regulatórias para a atividade, o que motivou a companhia alemã a voltar ao Brasil foi o trabalho de combate à corrupção que está sendo feito pela Polícia Federal na Operação Lava-Jato.

O executivo não esconde as dúvidas sobre como o futuro presidente do país vai tratar o setor petrolífero. Mas ele tem uma visão positiva pois nada, segundo o executivo, é pior do que estar em um país em guerra, e o futuro presidente, por mais estatizante que seja, não romperá contratos nem fará nada parecido com o que ocorreu na Venezuela, “seria um suicídio”.

A empresa pensa investir mais do que o mínimo previsto nos blocos arrematados?

Os € 39 milhões (cerca de US$ 45 milhões) são os investimentos mínimos previstos nos sete anos do contrato. Mas está bem claro que vamos estender investimentos durante os sete anos, queremos fazer as coisas o mais rápido possível.

Pretendem buscar sócios nos quatro blocos em que estão sozinhos no Nordeste?

No futuro vamos fazer negociações com vizinhos da área como Shell e Petrobras, e qualquer outra empresa que esteja interessada em compartilhar, porque queremos aumentar nosso portfólio (carteira de projetos), via farm-outs e farm-in (compras de participações em concessões já existentes, ou investimentos novos projetos). E também vamos participar de leilões no futuro.

Por que não participaram do último leilão do pré-sal, em junho?

Foi uma decisão interna. Não é que seja algo que não nos interessa, mas neste momento é demasiado porque nunca previmos que ganharíamos os sete blocos que fizemos oferta. Pensamos que poderia ser um, dois ou três.

A Wintershall esteve no Brasil de 2000 a 2005. Por que foi embora?

Perfuramos quatro poços, mas lamentavelmente não foram economicamente viáveis, em Campos, Espírito Santos e em Santos. Depois, o Brasil ficou um pouco negativo em no que diz respeito a investimentos.

Quando a Wintershall voltou a pensar em investir no Brasil?

Começamos a estudar em 2010 investimentos em outros países, incluindo o Brasil. Eu fui mandado de Abud Dabi, onde estava há quatro anos e meio, para o Brasil. Eu vim para cá em 2013, quando abri o escritório.

O que motivou a empresa a voltar ao Brasil, além do potencial petrolífero das áreas ofertadas e da melhoria das regras para investir no setor?

Outro ponto importante é que houve melhorias na situação depois da operação Lava-Jato, claramente porque vimos que foram tomadas muitas medidas.

Como a empresa decidiu vir, mesmo sabendo do cenário de corrupção no país?

Isso foi bastante difícil. Este aspecto foi visto de forma bastante negativa. Claramente, todas as a atividades e as notícias do Brasil foram negativas. Mas, eu penso que está melhor para o futuro do país que se termine com essas coisas (corrupção) que durante décadas foram instrumentalizadas. Não se pode conseguir um futuro sustentável com essas maneiras de se trabalhar.

Então, além das perspectivas geológicas boas, o combate à corrupção foi um ponto positivo para a Wintershall decidir voltar ao país?

Sim, claro. E teve muitas consequências positivas que ainda vamos ver, acredito.

O senhor viu a série O mecanismo, de José Padilha, sobre a Operação-Lava jato?

Vi os quatro primeiros episódios. Não terminei porque foi bastante difícil compreender os diálogos, uma vez que eles falam muito rápido, falam com muito sotaque. Além de expressões e palavras que ainda não entendo.

E a proximidade com as eleições, preocupa a empresa?

Para nós, esse não é o risco principal. Penso que não ter uma guerra aqui. Operamos em países onde tem guerras, como na Líbia e em outras nações onde o risco é muito maior por conta de um confronto bélico. Então, esse é um ponto bem positivo. A geologia (o petróleo) fica onde está, o que se troca são os políticos . Então, politicamente, vamos ver muitas mudanças.

É imprevisível o que vai acontecer no Brasil com o novo presidente?

Ninguém sabe o que vai fazer o futuro presidente. É muito difícil, mas o país vai funcionar, as pessoas querem viver melhor. Vejo uma onda muito positiva. Nunca se sabe o que vai passar com o próximo governo, mas eu não prevejo que vamos ter uma situação como vemos na Venezuela. As pessoas veem a situação lá e ninguém quer copiar isso.

Então as eleições trazem uma certa preocupação para o setor petrolífero, mas se acredita que seja quem for o novo presidente respeitará as regras e contratos…

Queremos ser positivos, o povo brasileiro também quer uma vida melhor e estável no futuro. Apesar de ter muitos desafios como educação e a desigualdade, isso também existe em outros países.

O senhor acredita que quem quer que seja o novo presidente vai respeitar contratos no setor de petróleo?

Claro, espero que sim. Mas espero que não vamos ter uma estatização. Pode ser que caso seja um candidato de extrema esquerda queira parar os leilões, mas não acredito que isso ocorra, porque seria um suicídio, ou não honrar os contratos que já existem. O Brasil vai ter muitos investimentos no ano que vem, e daqui a alguns anos vamos ter muito mais atividades. Espero que os contratos sejam mantidos.

É esperado manter a estabilidade no setor de petróleo?

O governo do presidente Temer fiz muito para estabilizar o setor de petróleo, para ter as regras ficassem bem claras. Muitos voltaram ao país, como a Exxon, e outras aumentaram investimentos, como a Shell, entre outras.

A empresa já iniciou a contratação dos serviços que vai realizar nos blocos?

Sim, já estamos em contato com as empresas que fazem esse tipo de serviços como de sísmica, gravimetria e outros serviços.

Qual é a produção total da Wintershall?

A companhia tem 120 anos e produz cerca de 480 mil barris por dia de petróleo onde está na Alemanha, Noruega, Holanda, Líbia, Abud Dabi, Argentina e, agora, Brasil.

A empresa negocia uma fusão com outra petroleira alemã?

Sim. Estamos em negociações para uma fusão com a DEA, uma petroleira alemã um pouco menor. Caso a fusão seja efetivada, a Wintershall passará a ter uma produção total da ordem de 600 mil barris de petróleo por dia.