Voltswagen, uma ação desastrada
O que começou como uma ação de marketing que deveria ser genial pode se tornar uma enorme dor de cabeça para a Volkswagen. Depois de enganar o mundo com uma pegadinha antecipada de 1º de abril, a empresa agora se vê sob o risco de sofrer algum tipo de sanção nos Estados Unidos.
Tudo começou quando vazou na segunda-feira, dia 29, um comunicado que informava a mudança do nome da marca nos Estados Unidos: o Volkswagen passaria a ser “Voltswagen”, para marcar sua ofensiva em veículos elétricos e o lançamento do novo modelo ID.4. Na verdade, era tudo uma brincadeira de 1º de abril, algo comum entre algumas empresas do setor automobilístico.
O grande problema, no entanto, é que não parecia ser uma pegadinha por duas razões: foi anunciada oficialmente dois dias antes da data e, quando consultada pelos jornalistas do mundo todo, a Volkswagen confirmou que era tudo verdade. E aí começou a sucessão de contratempos.
O primeiro efeito negativo foi a retratação de todas as publicações jornalísticas pelo mundo que haviam anunciado a mudança de nome como se fosse real, sendo que a maioria delas continha críticas no modo como a Volkswagen conduziu o processo.
O segundo efeito foi a conexão que várias reportagens e milhares de comentários em redes sociais fizeram ao relacionar a pegadinha com o Dieselgate, o escândalo mundial que estourou em 2015 e revelou que a VW trapaceou em testes de emissões dos EUA e permitiu que 11 milhões de veículos a diesel poluíssem acima do limite legal. O escândalo custou à Volkswagen US$ 35 bilhões em multas e acordos, além do recall de milhões de veículos. A lógica dos comentários publicados ontem era a mesma: como seria possível acreditar agora em uma empresa que mentiu em dois assuntos tão sérios.
Passado o furacão, a Volkswagen se pronunciou oficialmente sobre o caso nesta quarta, 31, dizendo que estava satisfeita com a ação de marketing inusitada. “As diversas respostas positivas nas redes sociais mostraram que a campanha repercutiu junto dos consumidores”, disse o porta-voz da VW Brendan Bradley em um comunicado. “Ao mesmo tempo, percebemos que o lançamento do anúncio aborreceu algumas pessoas e lamentamos qualquer confusão que isso tenha causado. Continuaremos em nossa missão em direção a um futuro EV, como Volkswagen.”
Tudo isso poderia ter ficado como uma piada de mau gosto se agora não pairasse sobre a cabeça da Volkswagen o risco de sofrer algum tipo de processo junto a autoridades nos Estados Unidos. Afinal, a brincadeira antecipada do Dia da Mentira acabou provocando um aumento das ações da empresa na Bolsa de Valores: fecharam o dia com uma alta de quase 5%, mas chegaram a atingir picos de mais de 10% durante o pregão.
Assim, vários investidores podem ter feito movimentações na Bolsa motivados pela suposta veracidade de uma informação incorreta, que dava a entender um movimento extremamente ousado da VW na direção da eletrificação. Por isso, já existe uma pressão para que alguma atitude seja tomada pela Securities and Exchange Commission (SEC), órgão que supervisiona o mercado de ações nos EUA.
A SEC é muito rigorosa com vazamentos ou comentários públicos de executivos que possam valorizar artificialmente o valor das empresas. A polêmica da VW lembra o caso de Elon Musk, CEO da Tesla, que tuitou em 2018 que tinha um “financiamento garantido” para tornar a empresa privada, comentário que aumentou o preço das ações. Mais tarde, quando se descobriu que não havia esse financiamento, a SEC obrigou Musk e Tesla a pagarem US$ 20 milhões em multas.
Procurada por jornais americanos se iria abrir uma investigação sobre a polêmica do “Voltswagen”, a SEC se recusou a comentar oficialmente o caso. Agora só nos resta esperar o próximo capítulo dessa piada.