Crise do Canal de Suez
O bloqueio do Canal de Suez nos últimos seis dias impôs mais desafios à já fragilizada logística global da indústria automotiva. “O trânsito entre Ásia e Europa é responsável por entre um quinto e um quarto de todo o comércio internacional de veículos. A ruptura desta logística pode, sim, refletir no Brasil”, diz Marcus Ayres, sócio da Roland Berger, lembrando que que o Canal de Suez é a principal via de transporte de bens entre os dois continentes.
Com isso, além dos efeitos imediatos do navio encalhado para diversos segmentos, a situação tende a agravar agravar o desabastecimento de veículos e de componentes para a produção em linhas de montagem ao redor do mundo nas próximas semanas.
Ele aponta que ainda é cedo para entender se o efeito será positivo ou negativo, mas o consenso é de que o País não está em posição favorável neste momento, já que enfrenta um impacto mais severo da pandemia de Covid-19, com a paralisação da operação de uma série de fábricas. Somado a isso, está a falta de semicondutores, item cada vez mais presente nos veículos que está escasso em todo o mundo e também prejudica os volumes fabricados no Brasil.
Por estas razões, Ayres aponta a questão do Canal de Suez como um catalisador do processo de glocalização, visto pelas empresas como um caminho para reduzir riscos e ampliar a competitividade. Segundo o especialista, as implicações deste processo para o País podem acontecer mais rápido que o esperado.
Normalização do fluxo do canal de Suez levará dias
Na segunda-feira, 29, o Ever Green, navio que bloqueou o Canal de Suez, voltou a flutuar depois de seis dias. Mesmo com o desbloqueio, o estrago está feito. A revista europeia Car Dealer destacou que pelo menos dois grandes navios de transporte de automóveis foram bloqueados pelo Ever Given.
Além disso, embarcações que transportam componentes para a produção de veículos também podem precisar ancorar ou fazer a volta mais longa pelo sul da África, que acrescenta até 10 dias à viagem. Analistas ouvidos pela NBC News indicam que a normalização do fluxo em Suez pode demorar de três a seis dias para acontecer após o bloqueio terminar, já que uma fila de 369 navios se formou para atravessar o canal.
O movimento intenso na região pode gerar uma série de novos atrasos nas entregas globais, impondo grandes desafios à indústria automotiva e à sua lógica just in time.