Novo ciclo de queda da taxa de juros deve começar entre julho e setembro

Analistas esperam que o Banco Central (BC) inicie flexibilização da Selic a partir de cortes mais suaves, em 0,25 ponto até o fim do terceiro trimestre; conjuntura interna e externa é favorável

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Taxa básica de jurosTaxa básica de juros

O ciclo de queda da taxa básica de juros (Selic) do País deve começar entre as reuniões de julho (30 e 31) e setembro (17 e 18) do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BC).

As perspectivas mais positivas com relação à aprovação da reforma da Previdência Social permitirão este início da flexibilização, que será ajudado ainda pela expectativa de juros mais baixos em outros países.

Fernanda Consorte, economista-chefe e estrategista de câmbio do Banco Ourinvest, avalia que há uma conjunção de fatores que sugerem queda da Selic já no fim deste mês, em 0,25 ponto, o que levaria a Selic dos atuais 6,50% ao ano, para 6,25%. “O BC tem reforçado que estamos em um cenário de inflação bastante benigno. Os dados do IPCA [Índice de Preços ao Consumidor Amplo] divulgados na semana passada corroboram esse ambiente”, diz Consorte. A inflação acumulada em 12 meses passou de 4,66% em maio, para 3,37% em junho.

“A aprovação da reforma da Previdência em primeiro turno na Câmara dos Deputados, por 379 votos a favor [contra 131], também sugere uma força para a aprovação final do projeto”, afirma Consorte. Ela lembra que a última ata do Copom destacou que o ciclo de queda da Selic ocorreria diante de “avanços concretos” na agenda previdenciária. “Creio que a votação em primeiro turno casa com as expectativas de ‘avanços concretos’ do BC”, conclui.

Já nas projeções da economista chefe da Reag Investimentos, Simone Pasianotto, há uma maior probabilidade da Selic cair a partir de setembro, apesar de não descartar a redução em julho. “Nas minhas projeções, a probabilidade de cortar em julho é de 50%”, diz.

Para Pasianotto, o BC continuará cauteloso, mesmo com a aprovação em primeiro turno da Previdência, e não deverá fazer “movimentos muito agressivos”, como cortar a Selic em 0,50 pontos já na próxima reunião, por exemplo, como espera a maioria dos bancos do País. “O BC deve ir cortando a Selic em 0,25 ponto”, destaca. A projeção dela é que a taxa Selic feche o ano em 5,75%.

Cenário externo

Pasianotto lembra que o Federal Reserve (banco central dos EUA) tem sinalizado que pode cortar a taxa de juros do país (que está entre 2,25% e 2,50%). O presidente do Fed, Jerome Powell, tem indicado, nas últimas semanas, que isso pode ocorrer já no fim deste mês, diante da desaceleração dos investimentos das empresas com a guerra comercial e desaquecimento global. Além disso, o Banco Central Europeu (BCE) também vem apontando que pode cortar juros.

Em tese, com a redução da taxa nos EUA, o capital investido no país norte-americano tende a se deslocar para outros mercados em busca de maior lucratividade. Ainda que o Brasil corte os juros, a nossa taxa continuará oferecendo maior rentabilidade que a dos EUA e países europeus. Pasianotto diz que o andamento de reformas estruturais no Brasil fortaleceria esse cenário, na medida em que geraria maior credibilidade.

Já Jefferson Laatus, sócio-diretor do Grupo Laatus, acredita que haverá manutenção da Selic em 6,50% na próxima reunião do Copom. Para ele, o BC não deve “gastar a sua munição logo de cara” cortando juros, mas, sim, que tende a esperar o andamento da proposta da Previdência Social no Senado, por exemplo.

“O BC pode querer esperar um timing [momento] mais preciso para diminuir a Selic. Podem acontecer novos impasses durante a tramitação da reforma no Congresso, uma desidratação, um atraso para o texto ir para o Senado, um tempo maior para a análise dos destaques”, afirma Laatus.