GM quer reduzir piso e terceirizar funções

Propostas foram consideradas inaceitáveis por sindicatos de São Caetano e São José

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GM quer reduzir piso
Assembleia na entrada do primeiro turno da fábrica da GM em São José dos Campos: pacote duro de medidas

GM quer reduzir piso

GM Brasil apresentou um duro pacote de cortes de custos trabalhistas aos sindicatos dos metalúrgicos de São José dos Campos e São Caetano do Sul, suas mais antigas fábricas no País em operação no Estado de São Paulo. Segundo representantes sindicais, as principais propostas apresentadas envolvem redução de piso salarial, terceirização geral de funções e eliminação de alguns benefícios, sem no entanto formalizar nenhuma garantia de novos investimentos nas duas unidades para além de 2020.

Em reuniões na terça e quarta-feira, 22 e 23, a GM entregou as propostas como condição para estancar prejuízos e continuar investindo no País em novos ciclos a partir de 2020, na esteira de comunicado enviado aos funcionários por Carlos Zarlenga, presidente da GM Mercosul, na sexta-feira, 18, em que a empresa ameaça sair da região e deixar de investir caso a rentabilidade não seja rapidamente recuperada este ano. A montadora lidera o mercado brasileiro de veículos há três anos, mas declara que nesses mesmos três anos acumulou perdas elevadas, turbinadas pela forte desvalorização cambial no Brasil e Argentina.

Ambos os sindicatos consideraram as propostas apresentadas pela GM como inaceitáveis. Em São José, os sindicalistas receberam da montadora uma lista de 28 itens, que entre outras medidas inclui redução do piso salarial de R$ 2,3 mil para R$ 1,6 mil, congelamento de aumentos salariais, não pagamento de participação nos lucros e resultados (PLR) de 2019, aumento da jornada de trabalho, criação de turnos de 12 horas por 36 de descanso, implantação de banco de horas, liberação da terceirização em toda a fábrica (inclusive para atividades-fim de produção), fim do transporte fretado, jornada intermitente com, além de fim da estabilidade no emprego para lesionados – esta última é uma cláusula, segundo o sindicato, foi adotada na década de 80 e hoje mantém a estabilidade de cerca de 1,3 mil funcionários que sofreram acidentes ou têm doença ocupacional.

SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

 

Segundo o vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Renato Almeida, a empresa colocou toda a lista sobre a mesa, mas não apresenta nenhuma garantia de novos investimentos na unidade. Ele lembra que situação parecida ocorreu em 2013, quando a montadora negociou com Estado, município e trabalhadores um acordo para abrir 2,5 mil vagas na fábrica e a produção de novos modelos, mas desistiu e fez justamente o contrário: parou de produzir a linha Corsa e demitiu funcionários. A planta ficou de fora do atual ciclo de investimentos de R$ 13 bilhões que a GM diz aplicar no Brasil de 2015 a 2019. Hoje a unidade emprega 4,8 mil pessoas e produz somente a picape S10 e o SUV Trailbrazer, além de motores e transmissões em fim de ciclo de vida.

Em assembleias realizadas no início dos dois turnos da quarta-feira, 23, o sindicato alertou os funcionários da GM em São José sobre as medidas de redução de custos trabalhistas que a empresa propõe adotar, mas só irá apresentar para aprovação formal dos empregados uma proposta final, ainda em negociação, o que ainda pode levar mais 20 dias – sindicalistas de São José e São Caetano estão realizando reuniões diárias com a direção da GM.

“Os trabalhadores ficaram indignados com a proposta da GM. O sindicato é contra a retirada de direitos e continuará com o processo de negociação, mas a decisão final caberá aos trabalhadores. Queremos tratar do assunto com total transparência e dando continuidade à luta por empregos e direitos”, afirma Renato Almeida.

 

SÃO CAETANO DO SUL

 

Até mesmo o Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano do Sul, que ao contrário de São José sempre contornou conflitos com a GM, também recebeu propostas duras de redução de custos na unidade, com cláusulas parecidas com as apresentadas na fábrica do Vale do Paraíba. “Levamos um choque, precisamos de tempo para entender tudo, negociar com a empresa e apresentar aos trabalhadores, só eles vão decidir o que aceitam”, afirmou o diretor do sindicato Agamenon Alves.

Segundo ele, a proposta da GM para São Caetano tem 24 itens (quatro a menos que São José), “mas ao contrário de lá que não tem nenhum acordo negociado ou investimento em andamento, nós aqui temos um fechado dois anos atrás e que só termina em 2020, por isso não haveria sentido em renegociar isso agora”, pondera o diretor. Há um ano a GM anunciou investimento de R$ 1,2 bilhão na sua mais antiga fábrica em operação no País, inaugurada em 1930, para ampliar a capacidade de produção de 250 mil pata 330 mil veículos/ano. A planta emprega 9,3 mil pessoas e produz uma linha antiga de modelos (Onix Joy, Cobalt, Cobalt e Montana). Em dezembro está prevista o início da fabricação de um novo SUV na unidade, provavelmente o novo Tracker.

Alves destacou que as propostas de cortes serão apresentadas aos funcionários somente após o próximo dia 28, quando eles regressam de férias coletivas. A produção na fábrica de São Caetanos está parada há cerca de um mês, período em que a GM aproveita para introduzir a nova linha de manufatura.

No atual programa de investimentos de R$ 13 bilhões anunciado pela GM em 2015, além dos R$ 1,2 bilhão discriminados para São Caetano, a companhia confirmou R$ 1,9 bilhão para quadruplicar a capacidade de produção da fábrica de motores e transmissões de Joinville (SC) e outros R$ 1,4 bilhão para modernizar a planta de Gravataí (RS), onde são fabricados atualmente Onix e Prisma, que respondem por 65% das vendas da montadora no Brasil e deverão ser lançados em nova geração até o fim deste ano.