O setor privado quer tornar mais fluentes as relações entre o Mercosul e o Japão. Com esse objetivo, representantes das indústrias brasileiras e japonesas concluíram uma proposta mais completa para o início das negociações de um acordo de parceria econômica (EPA, na sigla em inglês) entre o bloco do Cone Sul e o Japão.
Essa parceria vem sendo discutida desde o segundo semestre de 2015 por membros da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e do Keidanren, a principal entidade representativa do setor privado japonês, que, na ocasião, apresentaram um roteiro para as negociações. Na reunião do Comitê de Cooperação Econômica Brasil-Japão realizada há pouco em Tóquio, as duas entidades empresariais aprofundaram os pontos principais do roteiro apresentado há três anos.
O novo cenário internacional, turvado por medidas protecionistas do governo do presidente americano Donald Trump e pela disputa comercial entre os Estados Unidos e a China, vem estimulando as negociações entre países e blocos econômicos que temem ser prejudicados pelas mudanças em curso.
O Japão, por exemplo, acaba de concluir um acordo de livre comércio com a União Europeia, que resultará na formação de um bloco que responde por cerca de um terço do Produto Interno Bruto (PIB) mundial.
O Mercosul, que há 20 anos negocia um acordo comercial com a União Europeia, estendeu as conversações para outros países. Discute a celebração de acordo semelhante com o Canadá e a Coreia do Sul e, agora, se prepara para iniciar entendimentos com o Japão.
No novo cenário mundial, “faz-se ainda mais necessário um salto nas relações entre o Mercosul e o Japão”, afirmou o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade. Dirigentes empresariais japoneses e de organismos vinculados ao governo de Tóquio dizem, de sua parte, que o Japão não pode ficar atrás da União Europeia e da Coreia do Sul na obtenção de acesso facilitado aos mercados dos países que formam o Mercosul (Argentina, Uruguai e Paraguai, além do Brasil).
Uma das propostas de representantes das indústrias brasileiras e japonesas é a eliminação da maioria das tarifas de importação e exportação no prazo de dez anos, prazo que pode ser estendido para 12 ou 15 anos para os bens considerados mais sensíveis.
O objetivo do acordo, segundo o documento aprovado pela CNI e pelo Keidanren, é a formação de mercados mais livres e abertos, com a eliminação de medidas tarifárias e não tarifárias que prejudicam o comércio.
Entre os produtos que o lado brasileiro quer livres de tarifas estão carne, frango, biodiesel, frutas, açúcar, etanol e têxteis. Os japoneses querem redução de tarifas sobre carros, autopeças, máquinas e equipamentos, entre outros bens.
Tanto a CNI como o Keidanren esperam que as negociações sejam lançadas durante a reunião de chefes de Estado do G-20 marcada para novembro em Buenos Aires. Em sua visita ao Japão em maio último, o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, comentou que a reunião do G-20 seria “uma boa oportunidade” para o início efetivo das negociações entre o Mercosul e o Japão.
Em artigo que publicou há dias no jornal Asahi Shinbum a propósito da celebração dos 110 anos do início da imigração japonesa no Brasil, o ministro afirmou que o País acolheria calorosamente a parceria do Japão com o Mercosul.
Entre 2001 e 2017, os investimentos diretos japoneses no Brasil somaram US$ 33,8 bilhões. No ano passado, houve um expressiva redução do montante investido por empresas japonesas no País, em razão, sobretudo, de dificuldades que o cancelamento das encomendas da Sete Brasil – empresa criada para fornecer equipamentos para a exploração do petróleo do pré-sal – causou ao setor de construção naval, no qual é forte a participação de capitais japoneses.
Mas oportunidades de investimentos, sobretudo em infraestrutura, podem atrair novamente os capitais japoneses. O acordo Mercosul-Japão facilitaria a intensificação das relações econômicas e comerciais. (O Estado de S. Paulo)