O chefe de economia e estratégia do Bank of America (BofA) Merrill Lynch, David Beker, acredita que a recuperação da economia brasileira está mais “espalhada”, embora destaque que os dados do varejo e de serviços de março mostraram um resultado mais fraco do que o esperado. Ele mantém por enquanto a previsão para o primeiro trimestre de um crescimento de 1,3% em relação ao trimestre anterior, feito o ajuste sazonal, mas diz que os riscos de um número mais baixo aumentaram, justamente por causa desse desempenho do comércio e dos serviços.
Ainda assim, Beker continua a ver um panorama mais favorável para a economia brasileira neste ano, ainda que não aposte num comportamento exuberante. Ele estima uma expansão do PIB de 1% neste ano, acima da mediana das estimativas dos analistas ouvidos pelo Banco Central (BC), de 0,47%.
Estimulando a recuperação
“Vários fatores estão ajudando a atividade na margem, incluindo as retiradas das contas inativas do FGTS e os níveis de confiança, que têm mostrado tendência de alta e devem estimular a recuperação”, escreve Beker, no relatório “Green shoots multiplying”.
Para ele, os cortes mais fortes dos juros pelo Banco Central (BC) ajudaram a melhorar a confiança nos últimos meses, um fator importante para a retomada. Além dos números do varejo, de serviços e da indústria divulgados pelo IBGE, que apontaram para crescimento no primeiro trimestre, apesar do comportamento errático, Beker também cita o desempenho de outros indicadores para justificar a visão um pouco mais favorável para o período. É o caso das vendas de cervejas, eletrodomésticos da linha branca e de roupas, do fluxo pedagiado de veículos pesados e do agendamento de viagens.
Perspectiva de melhora da confiança
O economista avalia que a perspectiva de melhora da confiança deve continuar a estimular a recuperação, mas é fundamental que a reforma da Previdência seja aprovada, para que essa tendência se mantenha. A mudança no sistema de aposentadorias é fundamental para garantir o cumprimento do projeto que limita o crescimento dos gastos da União, um passo importante para a melhora da situação fiscal do país.
Beker aponta o mercado de trabalho e as condições de crédito restritivas como fatores que levam a uma recuperação mais lenta da economia. Para ele, o desemprego deve continuar a subir, atingindo o pico no terceiro trimestre deste ano. A taxa de desocupação, lembra Beker, ficou em 13,7% no primeiro trimestre, mostrando que 14,2 milhões de pessoas estavam desempregadas no período.
Beker projeta juros de 9% no fim deste ano e de 8,25% no fim do ano que vem, mas considera possível que o BC acelere os cortes. Hoje, a Selic está em 11,25% ao ano.
Indicadores com comportamento volátil
No primeiro trimestre, alguns indicadores mostraram comportamento volátil. Beker avalia que é normal que apareçam resultados contraditórios no começo de retomada. No caso do varejo restrito (que exclui automóveis e material de construção), as vendas subiram 6% em janeiro, caíram 1,6% em fevereiro e recuaram 1,9% em março, na comparação com o mês imediatamente anterior, feito o ajuste sazonal. No trimestre, houve alta de 3,3% sobre o trimestre anterior.
Beker diz que os dados econômicos de abril devem ter sido fracos. “Nós tivemos 20 dias úteis em abril de 2016, mas em abril de 2017 tivemos muitos feriados. Foram 18 dias úteis, além do efeito da greve geral (no dia 28)”, observa ele, para quem essa queda no número de dias úteis terá impacto sobre os indicadores. Para o segundo trimestre, Beker acredita que a variação do PIB deverá ser positiva, impulsionada pelo efeito da liberação dos recursos das contas do FGTS, mas provavelmente menor que o do primeiro.