Projeções para 2017
O cenário de terra arrasada visto no comércio varejista em 2015 e 2016 deve mudar um pouco neste ano, mas os analistas não apostam num desempenho robusto das vendas em 2017. Depois de cair mais de 10% nos últimos dois anos, é possível que haja estabilidade ou um pequeno crescimento no caso do varejo restrito, que não inclui os setores de veículos e autopeças e de material de construção.
Varejo e comércio
O desempenho atroz do comércio em 2016 se deveu à combinação da “retração do crédito e do mercado de trabalho”, num ambiente de alta ainda forte dos preços, como destaca a Rosenberg & Associados. Esse quadro fez o varejo restrito recuar 6,2% no ano passado, enquanto o ampliado (que engloba veículos e autopeças e material de construção) caiu 8,7%. Foram os maiores recuos das séries históricas iniciadas em 2001 e 2004, pela ordem.
Os números do comércio reforçam as projeções de que houve um recuo do PIB também no quarto trimestre do ano passado. Nos três últimos meses de 2016, o varejo restrito caiu 1,2% em relação ao trimestre anterior, feito o ajuste sazonal. No ampliado, o recuo foi de 0,9%.
Desemprego
Para 2017, a expectativa de que o desemprego continuará em alta durante uma parte do ano joga contra a recuperação das vendas no varejo. A taxa de desocupação, que fechou o quarto trimestre do ano passado em 12%, deve aumentar nos próximos meses. Além disso, as famílias ainda têm um nível elevado de endividamento, e buscam reduzir os seus débitos.
No entanto, há fatores que deverão ajudar o comércio ao longo deste ano. A Rosenberg diz que a queda da inflação “beneficiará o comércio duplamente: primeiro, por possibilitar um aumento direto de consumo e, segundo, por permitir queda de juros, o que deverá beneficiar o crédito e, num segundo momento, também o mercado de trabalho”.
Safra recorde
Para completar, a consultoria avalia que a “safra recorde também possibilitará um aumento da renda relacionada ao agronegócio”, o que favorece especialmente o CentroOeste e o Sul do país. “Tudo somado, esperamos um crescimento de 1% do volume do comércio varejista em 2017, deixando para trás dois anos de resultados negativos consecutivos, quando acumulou perdas de 10,3%”, diz a Rosenberg, em relatório, referindose ao desempenho do varejo restrito. Há quem preveja variação zero em 2017, como o Bradesco. No caso do varejo ampliado, o banco espera aumento de 1,5% neste ano.
Analistas do Bradesco
“Acreditamos que o mercado de trabalho continuará enfraquecido até aproximadamente o terceiro trimestre deste ano e a desalavancagem das famílias, juntamente com o carregamento estatístico das fortes retrações no ano passado, seguirão limitando o crescimento do consumo à frente”, escrevem os analistas do Bradesco. “Apesar disso, a intensificação do ciclo de corte de juros e a elevação da confiança do consumidor e dos empresários deverão impulsionar o consumo das famílias na margem a partir do segundo trimestre”.
Como se vê, o desempenho do varejo não promete ser dos melhores neste ano. O período de grandes quedas, porém, deve enfim ficar para trás. (Valor Econômico/Sergio Lamucci)