Incentivos à Indústria automotiva no RJ alcançaram R$ 1,7 bi

MAN e Grupo PSA estão entre as empresas beneficiadas na região

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Incentivos fiscais concedidos no Rio de Janeiro

incentivos fiscais concedidos no Rio de JaneiroA indústria automotiva figura na lista dos setores beneficiados pelos incentivos fiscais concedidos no Rio de Janeiro nos últimos anos. Documentos revelados nos últimos dias indicam que a oferta irresponsável de incentivos e desonerações tem papel essencial na atual crise financeira enfrentada pelo Estado. Entre montadoras, fabricantes de autopeças, concessionárias, empresas do setor automotivo teriam recebido mais de R$ 1,7 bilhão. Quando entram na conta as siderúrgicas, que fornecem parte importante da produção para o segmento, este montante passa de R$ 2,5 bilhões.

Apurados pela agência Pública

incentivos fiscais concedidos no Rio de Janeiro
Ex Governador Sérgio cabral Filho

Os valores foram apurados pela agência Pública em documentos oficiais. Segundo a publicação, ao considerar todos os setores da economia, os incentivos fiscais teriam custado ao Rio de Janeiro R$ 47 bilhões nos últimos anos. As concessões se intensificaram a partir do segundo governo de Sérgio Cabral, hoje preso pela operação Lava Jato. O valor, no entanto, não é preciso, já que vem do sistema oficial de registro dos benefícios, que é baseado totalmente na declaração dos beneficiados. Na prática, seria como uma declaração o Imposto de Renda sem a malha fina ou qualquer cruzamento de dados.

Com base nestas informações, a agência Pública organizou a lista das 50 companhias que mais foram favorecidas por incentivos fiscais nos últimos anos. Quando considerados todos os setores da economia, a empresa mais beneficiada foi a GE Celma, do segmento aeronáutico, que recebeu generosos R$ 5,82 bilhões em incentivos fiscais nos últimos anos.

Concessão indiscriminada de incentivos

A concessão indiscriminada de incentivos é alvo de investigação do Ministério Público, que trabalha para entender “irregularidades no acompanhamento e avaliação dos incentivos fiscais estaduais”. A indústria automotiva é reconhecidamente um setor capaz de gerar empregos, renda e movimentação econômica nas regiões em que se instala. Alguns segmentos beneficiados, como o de joias, têm impacto socioeconômico questionado por especialistas.

MAN e PSA estão entre as mais beneficiadas

A indústria automotiva fortaleceu sua presença no Rio de Janeiro nos últimos anos. Sempre foi conhecido que incentivos fiscais pesavam para a decisão das montadoras por investir no Estado. Ainda assim, as empresas tradicionalmente trabalham com a política de que o dinheiro que origina o benefício é público, mas as informações sobre ele não. É sempre um mistério o tipo de incentivo que os empreendimentos recebem.

MAN Latin America

A MAN Latin America, que tem fábrica em Resende desde 1996, fez investimentos importantes nos últimos anos. A negociação para concretizar aportes no Rio de Janeiro teria gerado cerca de R$ 400 milhões em benefícios fiscais para a companhia, segundo a lista da Pública. A empresa, que emprega cerca de 3 mil pessoas na região, produziu em 2016 mais de 19 mil caminhões e ônibus na unidade.

Grupo PSA

incentivos fiscais concedidos no Rio de JaneiroO Grupo PSA é a outra montadora a aparecer na lista das empresas mais beneficiadas pelo Estado do Rio de Janeiro. Os incentivos chegam a R$ 164 milhões, valor confirmado pela companhia, que esclareceu que recebe diferimento de ICMS que, na prática, é a possibilidade de financiar o pagamento de parte da alíquota a juros subsidiados. O mecanismo é um recurso importante para que as empresas consigam investir, gerar caixa e recuperar os aportes, para então pagar os impostos.

Alíquota de ICMS reduzida

Outro recurso que a PSA usufrui é a alíquota de ICMS reduzida de 20% para 12% para a venda de veículos, algo que, segundo a assessoria de comunicação da companhia, é oferecido em todos os estados para as empresas do setor. “É importe destacar que recebemos benefícios, mas também garantimos a geração de emprego e renda na região e incentivamos a cadeia produtiva como um dos maiores exportadores do Estado”, enfatiza a assessoria de comunicação. Em 2016 a companhia produziu 82 mil carros na fábrica de Porto Real, que conta com 2 mil funcionários.

Uma fonte da indústria que já negociou investimento com o governo do Rio de Janeiro aponta que o Estado oferecia incentivos equivalentes aos ofertados em diversas regiões do País. No pacote de bondades estava inclusa a doação de terreno para instalação da fábrica – no local que o Estado tinha interesse de desenvolver economicamente.

O ICMS também era ferramenta importante na negociação, aponta a fonte. A oferta era de que a empresa precisaria pagar apenas um terço do valor normalmente. Para 33% seria oferecido diferimento com um prazo de carência, que poderia ser de 10 anos, dependendo da negociação. A empresa estaria isenta de pagar o outro terço da alíquota desde que continuasse produzindo na região – na prática, esta seria a renúncia fiscal.

NISSAN e JAGUAR LAND ROVER 

Enquanto MAN e Grupo PSA figuram entre as 50 empresas que mais receberam incentivos no Rio de Janeiro, a Nissan e a Jaguar Land Rover ficam de fora da lista apesar de terem inaugurado fábricas no Estado nos últimos anos, em 2014 e em 2016, respectivamente.

Na época da construção da unidade de Resende, foi indicado que a fabricante japonesa teria recebido condições especiais de ICMS, como o diferimento. As Leis 6.077 e 6.078 de 2011 , oferecem financiamento e isenção do pagamento do imposto para que a companhia instale ativos fixos na unidade. A montadora, no entanto, não confirma ter usufruído dos recursos. “O fato de uma lei nos autorizar a fazer algo não quer dizer que fizemos”, enfatizou a assessoria de comunicação da marca, que negou, inclusive, estar usufruindo do diferimento de ICMS.

Mais de 110 mil carros na região

A empresa já fez mais de 110 mil carros na região desde o início da operação e emprega ali 1,8 mil funcionários. A unidade foi construída com investimento de R$ 2,6 bilhões. O valor, reforça a Nissan, não contou com qualquer recurso público para ser financiado. Foi 100% capital próprio, assegura a empresa.

A Jaguar Land Rover construiu unidade em Itatiaia com R$ 750 milhões também próprios. A companhia não confirma se tem algum tratamento tributário especial na planta fluminense, apenas destaca que a região foi escolhida para receber a fábrica por questões logísticas, com proximidade de mercados importantes para a marca e polo industrial já desenvolvido. A planta emprega 300 pessoas.