O plano Automotivo do governo Argentino
Os setores da indústria voltados para o consumo interno não parecem, de modo geral, prioridade na agenda econômica do governo de Mauricio Macri. Apesar de sua equipe ter lançado em setembro do ano passado linhas gerais para a recuperação do setor no chamado Plano Produtivo Nacional, que previa redução dos custos e aumento da produtividade com inovação tecnológica, e ter anunciado investimentos de US$ 320 milhões para pequenas e médias empresas, o governo se empenhou até agora apenas em apresentar metas mais concretas para o setor automotivo.
Na semana passada lançou o Plan 1 Millión com o objetivo de produzir 750 mil unidades de veículos automotores em 2019, chegando a 1 milhão em 2023, prazo para a criação de mais 30.000 postos de trabalho no setor. Com investimento de US$ 5 milhões até 2019, a ideia é exportar ao menos um terço da produção para o mercado fora do Mercosul.
Ministério de Produção
Procurado pelo Valor, o Ministério de Produção argentino rebateu as críticas e disse que a Argentina é o país que tem a mais baixa taxa de relação de importações sobre o PIB da região: 12%. “A comparação não é apenas em relação a países da região, mas em relação aos 175 países dos quais o Banco Mundial tem dados”, observa a assessoria do ministério por email, ao lembrar que essa taxa no Brasil é de 14,3%, e que em países como Chile e México, por exemplo, superam os 30%.
O Ministério de Produção reconhece que 2016 foi um ano difícil para a indústria e afirma que o objetivo é fortalecer o mercado interno, com o aumento do salário real, como resultado da redução da inflação.
O próximo plano
Informalmente, fontes do governo argentino afirmam que o próximo plano se destinará ao setor de fabricação de motos, mas não há previsão de políticas de estímulo para as indústrias manufatureiras ou de alimentos no curto prazo.
Na década de 1970, a indústria chegou a representar 40% do PIB da Argentina. Essa cifra caiu para 30% em 1990 e hoje está em 25%. O setor é hoje um dos mais castigados pelo desemprego no país, hoje na casa dos 7,6%. Em 2016, foram 47.823 demissões no setor industrial, o que representa uma queda de 3,8% do emprego industrial.
Centro de Economia Política Argentina
De acordo com o Centro de Economia Política Argentina (Cepa), somente em fevereiro foram contabilizadas na indústria 2.938 demissões e suspensões (quando o empregado passa a trabalhar menos e tem o salário reduzido). A cifra corresponde, segundo o Cepa, a 80% do total de demissões na Argentina em fevereiro. No topo do ranking de demissões desde janeiro de 2015 estão a indústria metalúrgica, têxtil, automotiva e petroleira.
A Confederação Geral do Trabalho (CGT), maior força sindical do país, argumenta que medidas de austeridade, como a redução de subsídios de combustível e eletricidade, estão resultando em salários reais mais baixos e perda de empregos. Para o dia 6, a CGT convocou uma greve geral com o objetivo de pressionar o governo Macri a promover melhoras trabalhistas.
Confederação Argentina da Média Empresa
“Há tarefas que cabem ao governo e outras que devem ser feitas pelos empresários da indústria”, diz Edgardo Gámbaro, vicepresidente do setor industrial da Confederação Argentina da Média Empresa (Came). “Está nas mãos do empresariado argentino investir mais, modernizar e agregar tecnologia de vanguarda que reduzam os custos e levem nossos produtos a serem mais competitivos”.