Manufaturados têm saldo positivo em 2016

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Manufaturados apresentaram um saldo positivo no ano de 2016. A balança comercial da indústria de transformação teve grande recuperação nesse ano. Houve déficit de US$ 2,4 bilhões, resultado negativo muito menor do que os US$ 30,7 bilhões de 2015, ou os US$ 63,6 bilhões de 2014. O déficit da indústria do ano passado resultou de US$ 121,8 bilhões em exportações e US$ 124,23 bilhões em importações.

Manufaturados têm saldo positivo em 2016
Manufaturados têm saldo positivo em 2016

Entre os destaques da exportação no ano passado estão o segmento de aeronáutica e o automotivo, que expandiram os embarques em 12,5% e 10,1%, respectivamente. Com o desempenho, o setor automotivo teve no ano passado o primeiro superávit comercial desde 2008. Os dados são do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

A redução significativa do déficit na indústria de transformação, diz Rafael Cagnin, economista do Iedi, possibilitou a elevação de superávit da balança comercial brasileira como um todo. No ano passado, a balança fechou com saldo positivo de US$ 47,7 bilhões. “Foram os manufaturados que geraram a melhora do saldo comercial do ano passado, não somente o superávit em si, mas a magnitude dele”.

De forma semelhante à balança total, a intensa queda das importações foi importante para o desempenho da indústria de transformação. Os desembarques no setor caíram 17,6% em 2016 na comparação com o ano anterior. Cagnin destaca, porém, que, ainda que pequena, houve elevação de valor de exportação de manufaturados.

Os embarques da indústria aumentaram 1,4% no ano passado. Enquanto isso, nos demais produtos ­ agrícolas e minerais, houve queda de 10,6%. Os industrializados representam 66% do total dos embarques, segundo o levantamento do Iedi.

Manufaturados: aeronáutica e veículos automotores se destacam

Entre os bons desempenhos na exportação de manufaturados em 2016 estão os segmentos de aeronáutica e de veículos automotores. O primeiro segmento, diz Cagnin, é tradicionalmente superavitário. No ano passado, o saldo comercial do segmento cresceu 82,4%, com total de US$ 2,9 bilhões. O setor automotivo fechou 2016 com saldo positivo de US$ 1,04 bilhão, o primeiro superávit desde 2008, quando o saldo foi de US$ 2,18 bilhões.

O superávit do setor automotivo, lembra Cagnin, é relativamente baixo. Dados do Iedi mostram que o segmento chegou a ter saldo positivo próximo a US$ 8 bilhões em 2006. “Mas tratasse de um setor que ficou sistematicamente deficitário desde a crise mundial e agora retornou ao azul”, afirma.

A recuperação do setor automotivo, diz ele, foi propiciada pelo câmbio, além de melhores condições de comercialização com a Argentina. Tal fator pode ter continuidade este ano, assim como possibilidade de intensificar as vendas para o México. O superávit nos veículos automotores (inclui reboques e semirreboques) resultou de US$ 12,11 em exportações e importações de US$ 11,07 bilhões. O setor aeronáutico embarcou US$ 7,27 bilhões e importou US$ 4,32 bilhões.

Déficit comercial

Os setores aeronáutico e automotivo contribuíram para reduzir o déficit comercial de segmentos classificados, respectivamente, como de alta e média-alta­ intensidade tecnológica. Esses dois grupos, diz Cagnin, responderam por 65% do aumento de saldo comercial da balança total em 2016, na comparação com o ano anterior.

Outro segmento que teve desempenho de destaque, diz o economista do Iedi, foi o de têxteis, couro e calçados. O setor embarcou um total de US$ 4,21 bilhões no ano passado e praticamente zerou o saldo comercial. O déficit foi de US$ 37 milhões. Em 2015, o saldo negativo havia alcançado US$ 1,8 bilhão.

Esses segmentos são de baixa intensidade tecnológica e por isso tem cadeias mais flexíveis, respondendo mais rapidamente a um câmbio favorável às vendas externas. Cagnin explica que nesses segmentos a produção para o mercado doméstico pode ser voltada mais facilmente para exportação. Dessa forma, podendo ser substituída mais facilmente por importados.

Petróleo

Cagnin lembra também que as plataformas de petróleo deram ajuda na balança da indústria no ano passado. A exportação desses bens contribuiu para o superávit no grupo dos setores de média-­baixa tecnologia. O grupo fechou o ano passado com o primeiro superávit comercial desde 2009. Também contribuíram para a melhora do resultado do grupo a redução de déficit de borrachas e produtos plásticos e aumento de superávit de produtos metálicos. O grupo foi, em parte, beneficiado pela recuperação de preços de commodities.

Ricardo Lacerda de Melo, professor do Departamento de Economia da Universidade Federal de Sergipe, lembra que a exportação foi a saída de muitos setores frente à retração da demanda doméstica. Trata­se, porém, de uma recuperação de embarques ainda frágil, diz ele, que não é capaz de compensar a queda de produção para o mercado interno.

Para 2017, diz Melo, o câmbio por enquanto não se mostra tão favorável, embora haja expectativa de desvalorização do real frente ao dólar por conta de fatores externos, como a esperada alta dos juros americanos. “É possível que a exportação de manufaturados aumente este ano, mas não deve ser nada expressivo”.

Cagnin também demonstra preocupação em relação ao câmbio este ano. “O que pode ser um empecilho já está presente no início do ano: a forte volatilidade cambial”, diz ele. O economista salienta que o comércio internacional ainda está fraco.

“É preciso uma estratégia arrojada para a conquista de mercado externo e a oscilação cambial dificulta esforços para isso”. (Valor Econômico/Marta Watanabe)