Aluguel de caminhões
Aluguel de caminhões – A oferta de caminhões para locação dobrou de tamanho neste ano, acompanhando o aumento da demanda, e chamou a atenção das fabricantes. Uma após a outra, elas estão criando empresas próprias para disputar esse filão. Nos últimos três meses, três montadoras – Volkswagen, Volvo e Scania – anunciaram divisões para atuar no aluguel de pesados. Randon e Gerdau fizeram uma parceria com a mesma finalidade, e Mercedes-Benz e Iveco também avaliam a entrada no segmento.
Até pouco tempo atrás disponível apenas nas locadoras, a frota de caminhões para locação subiu de 15,8 mil unidades, em 2021, para 34,1 mil neste ano (até setembro), segundo dados da Associação Brasileira das Locadoras (Abla).
As montadoras não divulgaram ainda quantos veículos serão ofertados para locação, e nenhuma quis fazer uma simulação de comparativo de preços alegando que há muitas variáveis que precisam ser levadas em consideração no cálculo. Elas vão disputar mercado com empresas especializadas como Vamos, Localiza e Ouro Verde.
Seguindo a mesma tendência dos automóveis, em que consumidores veem vantagens em alugar um veículo em vez de ter sua posse, grandes frotistas começam a entender que é melhor focar na distribuição de produtos e deixar a administração da frota para terceiros. A locação de caminhões já é um grande negócio em países da Europa “e deve crescer muito no Brasil nos próximos anos”, avalia Paulo Miguel Junior, conselheiro gestor da Abla.
Segundo o presidente da Volkswagen Caminhões e Ônibus (VWCO), Roberto Cortes, com a pandemia muitas empresas encontraram dificuldades em obter crédito para a compra de caminhões e estão optando pelo aluguel. Em agosto, o grupo lançou o VW Truck Rental, serviço em parceria com o banco da marca – o Volkswagen Financial Services –, tornando-se a primeira montadora a entrar nesse negócio no País.
Serviços incluídos
A VWCO oferece contratos de 30 a 60 meses que incluem, entre outros itens, serviços de gestão de manutenções preventivas ou corretivas nas revendas da marca, seguro, sistema de telemetria, gestão de multas, documentação, pagamento de IPVA e carroceria.
Miguel Junior avalia que a entrada das montadoras no ramo de locação vai ajudar esse mercado a crescer ainda mais. Ele destaca que uma das vantagens das fabricantes em relação às locadoras será justamente a oferta de serviços, especialmente de manutenção, nas próprias revendas das marcas. Locadoras também oferecem esse serviço, mas não necessariamente feito por revendas autorizadas.
A Locadora Volvo, divisão criada no mês passado, vai operar na locação de caminhões, ônibus e equipamentos de construção, com prazos de 24 a 60 meses. A entrada da empresa no ramo, segundo José Olimpio Francisco, diretor de desenvolvimento de mercado da Volvo Financial Services, visa a atender a uma nova demanda. “Observamos uma tendência de locação de bens no transporte de cargas e logística em setores da indústria, agronegócio, mineração, construção e florestal”, diz Francisco.
Segundo ele, dados do Renavam mostram que, em 2018, os emplacamentos de caminhões para locadoras representavam menos de 3% do total de veículos entregues. Já neste ano, o volume acumulado até agosto chega a 11%. Em mercados mais maduros, como EUA e Europa, a participação pode variar de 15% a 25% do total de caminhões que entram em circulação.
Segundo ele, uma das vantagens é fazer a locação de acordo com a sazonalidade das operações das empresas ou para suprir projetos específicos, utilizando veículos novos que serão devolvidos ao fim do contrato. Outro benefício, na visão da Volvo, é a não necessidade de investimento em ativos. O locatário assume as parcelas mensais e pode alocar os pagamentos como despesa em seu balanço.
Caminhões mais caros
O movimento ocorre num momento em que há uma mudança nas regras de emissões e consumo nos veículos pesados, lembra Flávia Spadafora, responsável pela área automotiva da consultoria KPMG. A partir de janeiro, os novos veículos terão de cumprir metas mais rígidas, o que exigiu a adoção de novas tecnologias que vão encarecer os preços entre 15% e 20%.
Divulgada por KPMG, SAE Brasil (que reúne engenheiros automotivos) e pela editora Autodata, uma pesquisa recente mostra que 45% de potenciais compradores de caminhões dizem ver a locação como alternativa.
Entre as vantagens consideradas mais importantes pelos que responderam a pesquisa, 33% citaram o maior fluxo de caixa e capital disponível para outros investimentos; 23,1%, a gestão de manutenção, documentação e multas; 19,8%, não ter preocupação com desmobilização e venda de ativos; 15,7%, benefícios fiscais e tributários; e 7,4%, outros fatores.
Na semana passada, foi a vez de a Scania anunciar a criação da Scania Locação, que iniciará operações em janeiro e será administrada pela própria fabricante. Além dos caminhões Euro 6, a frota para aluguel terá veículos movidos a gás natural e/ou biometano.
Silvio Munhoz, diretor-geral das Operações Comerciais da Scania, afirma que a locação não vai substituir as vendas dos novos, mas expandir o perfil de operação da marca. “Começamos a perceber uma tendência de aceitação pelo aluguel de caminhões, mudando um pouco o perfil conservador do transporte brasileiro”, diz Munhoz.
Também com contratos de 24 a 60 meses, a locação incluirá pacote de serviços de conectividade e monitoramento, programas de manutenção e assistência técnica 24 horas.
A frota para locação subiu de 15,8 mil unidades, em 2021, para 34,1 mil neste ano até setembro
Em preparação
A Randon, fabricante de carretas, freios e suspensões, e a Gerdau criaram em setembro uma joint venture para entrar no segmento de locação de caminhões e equipamentos. A nova empresa, ainda sem nome, receberá investimentos de R$ 250 milhões até 2024.
O vice-presidente de vendas e marketing da Mercedes-Benz, Roberto Leoncini, diz estar discutindo com a rede de lojistas e com o banco da marca quando e como o grupo poderá entrar na locação. Em sua opinião, os modelos que estão sendo lançados “são pouco atrativos”.
Outra fabricante que oferecerá serviço de aluguel, mas ainda não definiu a data, é a Iveco. (O Estado de S. Paulo/Cleide Silva)