Caminhões terão motor a combustão por muito tempo, mas não com combustível fóssil

Soluções alternativas e renováveis darão o rumo da descarbonização no segmento de veículos pesados

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segmento de veículos pesadosSegmento de veículos pesados

O combustível diesel está com os dias contados, mas não o motor diesel. Essa foi uma das principais conclusões de painel sobre a descarbonização no segmento de veículos pesados realizado no #ABX22 – Automotive Business Experience, principal encontro de negócios do ecossistema automotivo e da mobilidade, que aconteceu no São Paulo Expo em 8 de setembro.

Explica-se: os participantes – Alcides Cavalcanti, Diretor Executivo de Caminhões da Iveco, Christopher Podgorski, Presidente e CEO da Scania Latin America, e Marcio Querichelli, presidente da Iveco América do Sul – concordaram em uníssono que a motorização diesel ainda será presente por muito tempo no mercado nacional, mas terá no tanque, em vez do combustível fóssil de hoje, alternativas renováveis como gás ou HVO (diesel verde).

Para Podgorski “essa é uma demanda dos controladores (das empresas) e também da sociedade” pois, salientou, “hoje não falamos mais de mudança climática mas sim de emergência climática”. O executivo da Scania, entretanto, ponderou que todas as tecnologias disponíveis de descarbonização terão de ser oferecidas pelas fabricantes uma vez que “não existe bala de prata”. Ele afirmou que “o importante é a matriz energética disponível”, no qual o gás, abundante no Brasil, se destaca.

Caminhões elétricos

Cavalcanti, da Volvo, concordou e acrescentou que a visão da fabricante é oferecer, também, caminhões elétricos para médias distâncias e movidos a célula de combustível para longas distâncias. “Essa deverá ser uma das tecnologias mais ativas no Brasil”, destacou, revelando ainda que os primeiros veículos com esse sistema devem chegar em aproximadamente 5 anos. A Volvo, anunciou, já detém 40% do mercado de caminhões elétricos na Europa.

Já Querichelli, da Iveco, complementou reforçando que “conhecer a matriz energética de cada região é fundamental. Há muita demanda por caminhões elétricos na Europa e nos Estados Unidos, mas nem sempre o que serve para eles serve para nós. É preciso lembrar, por exemplo, que 90% das estradas brasileiras não são asfaltadas, e mesmo nos 10% que o são muitas vezes o estado do pavimento é ruim”.

Ele também vê um período longo de transição do diesel para outras fontes de energia aqui, e afirmou que na Europa a Iveco já comercializou 35 mil caminhões a gás, tanto CNG quanto LNG. Os três representantes das fabricantes de pesados divulgaram as metas das companhias no que diz respeito à descarbonização: a Scania desde 2015 trabalha no sentido de reduzir pela metade sua pegada de carbono a cada cinco anos e em 20% na frota de veículos até 2025. E tanto a Iveco quanto a Volvo querem chegar ao carbono zero em suas operações até 2040. “É um desafio brutal, que envolve muitos investimentos, mas é algo que queremos e vamos fazer”, assegurou Querichelli.

Os painelistas também concordaram quanto à importância da conectividade para a economia de combustível dos veículos e, consequentemente, para a redução de emissões. A análise completa e apurada dos dados de cada veículo e do comportamento do motorista podem representar, segundo Cavalcanti, economia de até 5% no consumo.

Tanto a Volvo quanto a Scania, segundo seus representantes, já contam com 70 mil veículos conectados cada em uso no Brasil. O presidente da Iveco considerou este sistema como algo fundamental, pois “comparativamente hoje os veículos pesados estão mais para um avião do que para um carro”.

Ainda dentro do tema descarbonização Querichelli destacou a importância da passagem das normas de emissão Euro 5 para Euro 6 a partir do ano que vem, mas considerou que “o efeito de um para o outro é muito pequeno quando comparado a um veículo acima de 25 anos, e temos em nossa frota mais de 500 mil deles rodando”.