Caminhões e máquinas agrícolas enfrentam limitações para crescer

Mesmo respaldados pelo agronegócio, fabricantes encaram desafios e tentam driblar escassez de componentes e crédito

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Caminhões e máquinas agrícolas

Caminhões e máquinas agrícolas

Caminhões e máquinas agrícolas – Com bons resultados de produção em agosto, sem fábricas paradas, e uma tendência de recuperação em 2022 após um início de ano difícil, o segmento de caminhões já supera o de 2019, com desempenho maior em relação a esse período. Já o segmento de máquinas agrícolas celebra um crescimento de mais de 20% no acumulado de janeiro a julho.

Tanto caminhões quanto máquinas são respaldados pelo bom desempenho do agronegócio, tema que foi abordado durante um dos painéis no #ABX22 – Automotive Business Experience, principal encontro de negócios do ecossistema automotivo e da mobilidade, realizado no São Paulo Expo na quinta-feira, 8.

Caminhões tentam diversificar vendas

Embora boa parte de suas vendas seja voltada ao agronegócio, Roberto Cortes, presidente e CEO da Volkswagen Caminhões e Ônibus, diz que prefere ter suas frutas distribuídas em várias cestas, referindo-se à VWCO tem uma gama de veículos que vai de 3,5 a 125 toneladas. “De alguma forma, atuamos em todos os setores, mas o agro é o mais importante e o que menos flutua em altos e baixos, como no transporte de passageiros”, compara o executivo.

Ainda assim, Cortes afirma que a VWCO tenta investir em outros segmentos para “distribuir melhor as cestas”, como na construção civil e entregas urbanas.

Para o setor de máquinas, o segmento agrícola é fundamental e evolui na mecanização, segundo aponta Vilmar Fistarol, presidente da CNH Industrial Latam. E não apenas com grandes produtores, já que os pequenos investem também em mecanização. E o mix diferenciado de produtos contribui na competitividade do produtor rural, que tem uma menor janela de plantio.

Soluços da produção

A situação de abastecimento de peças mostra melhora. “Temos soluços, com a falta de uma ou outra peça, sem parar a produção. Ficamos com caminhões incompletos”, explica Cortes.

A escassez de semicondutores ainda preocupa, porque a nova norma de emissões Euro 6, que entra em vigor em janeiro de 2023, demanda um novo nível desses componentes. “O Euro 6 requer uma nova geração de chips e em maior número, em função de mais tecnologia e segurança. É o preço da evolução, a preocupação continua”, avalia o presidente da VWCO.

Não é diferente para Fistarol, que enxerga uma situação melhor em relação aos semicondutores, mas ainda sofrendo – e assim como com caminhões, com veículos incompletos.

Projeções de caminhões

O aumento de vendas de pesados em agosto anima Cortes, que acredita que o mercado vai fechar no mesmo patamar ou mais do que foi projetado. “O aumento de vendas já era esperado. O fator limitante é a falta de componentes. Em qualquer ano que antecede uma nova lei de emissões, existe a pré-compra, já que as novas linhas vão ser mais caras, com mais tecnologia. Teríamos mais vendas se não fosse a crise dos semicondutores. Os gargalos na produção não permitem dar maior vazão à produção de veículos Euro 5.”

Sem uma antecipação de compra como se viu em 2011, Cortes acredita que 2023 poderá ser um ano “normal” e bom para os negócios, embora difícil de se prever. “Não sabemos se o PIB cresce 0,5 ou 1 ou 2 ou 3%. Como ficarão as taxas de juros? E as medidas para controlar a inflação?”, questiona.

O frotista, por sua vez, tem dificuldade de enfrentar as altas taxas de juros, sem linhas de crédito atrativas, enquanto alguns recorrem a aluguel e leasing. “A esperança está no Renovar, programa que é uma alternativa para rejuvenescer a frota de caminhões, mais segura e menos poluente”, afirma o presidente da VWCO. “Vai ser importante para todos os setores, principalmente para o autônomo, que hoje tem seu caminhão velho, com mais de 30 anos. Nem que seja para comprar um caminhão de 10 anos de uso, e com isso vai haver uma renovação de frota.”

Máquinas: faltam programas de incentivos 

Nem as máquinas agrícolas escapam das filas de espera por causa da crise de suprimentos, enquanto o mercado cresce com um maior mix de produtos. “Temos produtores administrando uma situação crítica, com janelas de plantio mais apertadas. Eles precisam ter o equipamento e recorrem a empréstimos ou alugam, seguram a venda da máquina usada até chegar a nova”, conta Fistarol, presidente da CNH Industrial Latam.

Embora seja difícil projetar 2023, Fistarol aposta em um PIB positivo no agronegócio. “O consumo das famílias traz um impacto positivo. E temos que nos preocupar com a segurança alimentar global. O Brasil precisa prover alimentos para o mundo. Se temos uma projeção de 500 milhões de toneladas na América Latina, eu aposto em 500 milhões de toneladas só no Brasil, que também cresce em área de produção.”

Os financiamentos por programas de incentivos também precisam chegar ao produtor rural, defende Fistarol. “Este ano, o Moderfrota [principal programa para compra de máquinas agrícolas, com juros de 12,5% ao ano] durou apenas um mês. Os clientes buscam alternativas, com cooperativas, financiamento em dólar ou algum hedge natural. O problema é que a falta de crédito atinge mais o produtor médio para baixo”, avalia.