Anfavea ajusta projeção conservadora
Após um ano que terminou melhor do que indicavam suas projeções feitas em outubro passado, a associação dos fabricantes (Anfavea) calculou suas estimativas para 2021 com expectativa de crescimento em vendas domésticas, produção e exportações, mas divulgou na sexta-feira, 8, previsões mais conservadoras do que indicou o desempenho mais acelerado no fim de 2020, quando alguns resultados apresentaram performance até melhor do que dezembro de 2019.
Segundo o presidente da entidade, Luiz Carlos Moraes, o otimismo com este ano está moderado por incertezas e problemas ainda colocados adiante, a começar pela própria pandemia de coronavírus, que está longe do fim e ainda demora a ser debelada por programas de vacinação que devem se estender por todo o ano até 2022.
Feito o balanço de fatores favoráveis e desfavoráveis, a Anfavea projeta mercado interno este ano de 2,37 milhões de veículos (somados automóveis, utilitários leves, caminhões e ônibus), o que corresponde a crescimento de 15% sobre 2020 – a projeção é bastante próxima à divulgada pela associação dos distribuidores autorizados, a Fenabrave, no início da semana (leia aqui).
As exportações devem continuar em ritmo lento devido aos problemas enfrentados pelos principais países de destino de veículos brasileiros (especialmente a Argentina), com expansão esperada de apenas 9%, para 353 mil unidades.
Embalada pelas vendas domésticas e sem ameaça de fechamento de fábricas no horizonte visível (como ocorreu por dois a três meses no ano passado), a entidade estima que a produção vai avançar 25%, para 2,52 milhões – o que equivale à metade da capacidade instalada de 5 milhões/ano e ainda 14,4% abaixo do total produzido em 2019 (2,94 milhões).
“A expectativa de imunização trouxe um sentimento de confiança e isso melhora o cenário, mas a pandemia ainda pode paralisar setores, existem riscos econômicos, como alta dos custos e do desemprego. Por isso preferimos ser mais conservadores na primeira projeção para 2021”, explicou Luiz Carlos Moraes. |
O presidente da Anfavea admitiu que em dezembro as expectativas eram um pouco melhores do que as divulgadas agora, com projeções mais otimistas – alguns presidentes de montadoras chegaram a projetar mercado de 2,4 milhões a 2,5 milhões em 2021 –, mas alguns acontecimentos no fim de 2020 fizeram a entidade reajustar as estimativas para baixo. O crescimento de casos e mortes pela Covid-19 foi um dos fatores negativos. Outro foi o aumento do ICMS sobre veículos novos e usados em São Paulo, decretado pelo governo Doria em 31 de dezembro (leia aqui).
“O Estado representa 50% das vendas de usados e 25% dos emplacamentos de zero-quilômetro, por isso o impacto da elevação do imposto afeta o resultado do mercado. Depois do decreto que aumentou o ICMS em São Paulo precisamos fazer um ajuste na nossa projeção para o ano”, reconheceu Moraes.
Em 2019 o mercado brasileiro retrocede a 2016
Em sua apresentação, Moraes mostrou que em 2020 a pandemia fez o mercado brasileiro de veículos retroceder ao mesmo nível de 2016, no auge da crise econômica provocada pela sabotagem política e impeachment da presidente Dilma Rousseff. Naquele ano, as vendas de automóveis, utilitários leves, caminhões e ônibus somaram 2,05 milhões de unidades, contra quase 2,06 milhões no ano passado, o que resultou em retração de 26,2% – ainda assim, o porcentual foi significativamente melhor do que o tombo de 31% que foi previsto pela Anfavea em outubro.
Com o resultado de 2020, o Brasil tende a seguir como quinto maior mercado de veículos novos do mundo, atrás (pela ordem) de China, Estados Unidos, Japão, Alemanha e Índia, e poucas unidade à frente da França, segundo números preliminares calculados pela Anfavea. “É quase um empate técnico com a França, que ainda pode passar à frente depois da revisão do resultado”, admitiu Moraes. Em 2006 o País tornou-se o quarto maior mercado mundial e ficou na posição até 2014, baixou para sétimo em 2015 e desceu a oitavo de 2016 a 2018, subindo à sexta colocação em 2019.
Em volume de produção, o Brasil em 2020 tende a descer para a nona posição global, atrás de China, Estados Unidos, Japão, Alemanha, Coréia do Sul, México, Índia e Espanha, também pouco à frente da França. Em 2019 e 2018 o País foi o oitavo maior produtor de veículos, nono de 2015 a 2017, oitavo em 2014 e sétimo nos anos anteriores até o início da década passada.
“De forma geral, o mercado brasileiro reagiu à pandemia com queda porcentual parecida com países similares”, apontou Moraes.