Fábrica de ônibus no Brasil
Como parte do seu plano de investimento de R$ 2,4 bilhões no Brasil entre 2018 e 2022, a Mercedes-Benz completa mais uma fase do plano com a inauguração da nova linha de produção de ônibus em sua fábrica de São Bernardo do Campo (SP), que recebeu R$ 107 milhões em modernização. A nova linha foi apresentada de forma virtual à imprensa na segunda-feira, 28. A data não foi escolhida aleatoriamente: neste mesmo dia há exatos 64 anos a montadora iniciava suas atividades no Brasil, justamente com a montagem de chassis de ônibus.
O mesmo local onde a Mercedes cravou a fundação de sua história no País agora dá lugar a uma fábrica totalmente reformulada e desenhada para operar sob os conceitos de manufatura moderna e indústria 4.0, que traz maior agilidade e flexibilidade utilizando todos os benefícios de uma produção inteligente e digitalizada. O projeto de transformação começou em 2015 e já nasceu digital: seu desenvolvimento foi feito por meio de sistemas de criação em ambiente virtual 3D, no qual foi possível desenvolver todo o layout do espaço físico da linha, determinando o local exato de cada equipamento e postos de trabalho, bem como prever sistemas de abastecimento e simular toda a operação. Por meio desses simulacros, foi possível verificar e ajustar em ambiente virtual as possíveis interferências ao longo do trajeto da montagem.
Com o projeto totalmente pronto, a Mercedes-Benz iniciou em 2018 a transformação física, no entanto, sem paralisar a linha de montagem em nenhum momento. O processo está em sua fase final de implementação e deve ser totalmente concluído até o fim deste ano.
O chefe global da Daimler Buses, Till Oberwörder, que estaria no Brasil para participar do evento de inauguração, mas foi impedido pela pandemia, gravou seu recado em vídeo demonstrando a importância e o papel da unidade brasileira para a divisão fabricante de ônibus do Grupo Daimler, que é dono da Mercedes-Benz.
“A transformação da fábrica foi feita sob o conceito Brown Field Approach, tirando vantagem da infraestrutura já existente no local e construindo uma linha de produção completamente nova. Com isto, esta é a primeira linha de produção de chassi de ônibus 4.0 do Grupo Daimler”, declarou Till Oberwörder, chefe global da Daimler Buses. |
A inauguração da nova fábrica de ônibus 4.0 da Mercedes-Benz é o primeiro evento de Karl Deppen como presidente da empresa no Brasil e CEO para a América Latina. O executivo destacou que a transformação que vem ocorrendo desde 2018 começou anos antes, com a confirmação do Grupo Daimler em apostar suas fichas no mercado brasileiro.
Ele lembrou que o novo ciclo de investimentos contempla diversas fases, desde o desenvolvimento de produtos (como o novo Actros), novas estruturas, como a pista de testes em Iracemápolis (SP), até a atualização de toda a operação. Entre os projetos fabris, estão a modernização da fábrica de caminhões de SBC com conceitos da indústria 4.0, apresentada em março de 2018 (leia aqui) e a nova linha de cabines também com conceitos de manufatura 4.0, inaugurada em 2019 (leia aqui ).
Deppen avalia que a nova fábrica de ônibus sob os conceitos da indústria 4.0 torna a marca muito mais competitiva não só no mercado local, mas também para demais países da América Latina e da Ásia, para onde a Mercedes-Benz também exporta seus ônibus.
“A nossa nova linha de montagem está 12% mais eficiente e outra importante vantagem dessa nova fábrica é a flexibilidade: com dois pontos de entrada, conseguimos produzir na mesma linha os chassis urbanos e rodoviários”, acrescentou Karl Deppen, presidente da Mercedes-Benz do Brasil. |
O próximo passo da modernização é fazer com que as linhas de agregados, como motores, câmbios e eixos, também operem sob o conceito 4.0, trazendo mais ganhos de eficiência e produtividade, ajudando a acelerar ainda mais o atendimento e as entregas aos clientes.
Montagem de ônibus: tudo novo de novo
O presidente da Mercedes reforça que a modernização da fábrica para um ambiente digital garante maior produtividade, qualidade e eficiência aos processos. Além da redução do tempo de produção de 12%, a unidade, que já opera sob os novos comandos tecnológicos, registrou ganho de eficiência logística de 20% com a redução de armazéns de peças, que passou de oito para dois; aumento do porcentual de entrega de peças diretas na linha de 20% para 45% e redução do armazenamento de componentes de sete para no máximo cinco dias.
“Isso se traduz em agilidade, eficiência e produtividade e nos deixa muito entusiasmados frente a muitos outros ganhos que ainda temos a somar com a evolução constante de nossa fábrica”, afirma Karl Deppen.
Além disso, todos os processos de montagem foram melhorados e conectados, o que eliminou a papelada que também se produzia com os veículos. “Antigamente, costumávamos usar 1 milhão de papeis por ano e agora, com o ambiente digital, esse número é quase zero”, destaca o executivo.
Segundo o presidente da Mercedes, toda a reformulação da linha teve participação ativa dos funcionários. Para isso, 100% dos supervisores e cerca de 500 pessoas foram treinadas. Atualmente, a unidade conta com quase 700 empregados que trabalham em um turno.
“Tivemos um envolvimento forte dos funcionários desde o início do projeto e hoje são eles que comandam essas novas tecnologias. Estamos entregando um ambiente de trabalho mais ergonômico, seguro, confortável e eficiente”, acrescentou Deppen.
O novo layout da fábrica também contribui para o ganho de eficiência e produtividade: projetada com duas entradas diferentes e uma saída, em formato de Y, uma para a linha O500 (de motor traseiro) e outra para a linha LO (micros) e OF (midis e convencionais de motor dianteiro), o que permite o início de produção de dois chassis ao mesmo tempo. A linha é toda operada por um ambiente conectado: a precisão chega ao nível de verificar se cada parafuso das longarinas, por exemplo, receberam o torque necessário, caso contrário, o sistema avisa e indica automaticamente o item a ser verificado, retomando a operação quando o item estiver de acordo com as especificações.
Os chassis são montados sobre veículos AVGs, pequenos veículos guiados automaticamente e que servem de suporte e a depender da área, podem ser adequados conforme a altura necessária do funcionário. Outras tecnologias como sistema de transporte aéreo (EOM), elevadores automáticos, célula robotizada, apertadeiras eletrônicas, chamadas de peças por wi-fi e monitores touch screen de tela ampla completam o portfólio de ferramentas tecnológicas da nova fábrica.
“Os dados gerados por equipamentos como as apertadeiras eletrônicas e AGVs, por exemplo, são armazenados em um data lake e alimentam sistemas de inteligência artificial e big data”, comenta Sérgio Magalhães, diretor geral de ônibus para a América Latina. “Utilizando recursos de analytics, pode-se monitorar a qualidade de todos os produtos, detectar falhas e até fazer uma correlação com as informações de vendas, flexibilizando o mix de produção”, completa.
Com uma fábrica conectada, a Mercedes criou uma plataforma exclusiva, a Bus Data Center, pela qual é possível acompanhar em tempo real todo o andamento do status de produção de um pedido (encomenda) feito por um cliente, servindo de suporte não só para as equipes de produção, mas também dedicada para a área de vendas e fornecedores da montadora.
Preparada para o futuro
Durante a apresentação virtual da nova fábrica 4.0 de ônibus, Roberto Leoncini, vice-presidente de vendas e marketing caminhões e ônibus da Mercedes-Benz do Brasil, reafirmou que o novo processo beneficia não só a empresa, com ganhos internos de produtividade, mas também a relação da empresa com o cliente em relação à agilidade e previsão da entrega para o mercado brasileiro e demais países da região e de outras partes do mundo.
Segundo o executivo, a unidade brasileira é responsável pela exportação de 2 mil chassis por ano para mercados da América Latina, África, Ásia e Oriente Médio. “Agora vamos ter a possibilidade de atingir todo o mix de produtos e mais facilidade de chegar aos clientes com chassis brasileiros. Quando tudo voltar ao normal, sem pandemia, acredito que consigamos melhorar um pouco as exportações para a América Latina”, avaliou.
Por outro lado, revelou que com uma fábrica mais moderna, a Mercedes-Benz do Brasil também está preparada para “produzir os ônibus com tecnologias do futuro”. Leoncini estava ao lado de um chassi coberto com tecido, limitando-se apenas a dizer que “em breve teremos novidades” e preferiu não responder se o novo produto se tratava de um ônibus elétrico.