Covid-19 já provocou nova disrupção na mobilidade

Para Alexandre de Saint-Léon, do Instituto Ipsos, a doença mudou o comportamento dos usuários em todo o mundo

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Disrupção na mobilidadeDisrupção na mobilidade

A Covid-19 já representa uma nova disrupção na indústria automotiva e de mobilidade. Esta é a primeira e mais importante conclusão do Instituto Ipsos, uma das principais empresas de pesquisa no mundo, em um levantamento sobre o impacto da doença no comportamento dos usuários de serviços de mobilidade desde o início da pandemia de coronavírus. Alexandre de Saint-Léon, um dos líderes da consultoria na área de mobilidade e indústria automotiva, apresentou as conclusões do estudo em sua apresentação on-line durante o #ABPlanOn, evento realizado por Automotive Business na sexta-feira, 28.

“Não se trata apenas de uma pausa, uma mudança passageira, é muito mais do que isso”, afirmou Saint-Léon. Para se ter ideia, de acordo com outro levantamento do Ipsos, há 15 anos, as principais preocupações dos consumidores em todo mundo sempre foram saúde, emprego, desigualdade social e corrupção. Em julho deste ano, a Covid-19 apareceu como principal motivo de preocupação para 46% dos entrevistados em vários países.

A movimentação das pessoas nas cidades é outro indicativo do impacto que a pandemia provocou. Um levantamento realizado por empresas que rastreiam esse tipo de movimento nas principais capitais do mundo mostra que São Paulo, atualmente, está com 20% de sua movimentação normal, enquanto Tóquio está com apenas 10%. Saint-Léon lembrou que existe interferência de estratégias adotadas por alguns governantes, mas isso não explica toda essa queda. De maneira geral, hoje ocorrem apenas 40% dos deslocamentos urbanos que ocorriam antes da crise.

E mais: além de se deslocarem menos, as pessoas estão mudando a forma como fazem isso. Os meios de transporte convencionais (coletivos, por aplicativo e táxis) apresentam queda em todo o mundo, enquanto caminhada, bicicletas e motos – opções individuais e que não exigem pagamento de tarifa – passaram a ser mais utilizados. No Brasil, a tendência é similar, mas o carro particular e a moto surgem com maior destaque.

OPORTUNIDADES GERADAS PELA CRISE

Também merece destaque o fato de o desejo por automóveis estar crescendo junto ao público mais jovem (de 18 a 39 anos) em todo o mundo. Segundo a pesquisa, 34% deles afirmaram que estão mais propensos a adquirir um carro novo ou usado hoje, enquanto entre o público em geral esse número é de 26%. Isso contraria a tendência observada até antes da pandemia, quando os consumidores mais novos se mostravam pouco interessados em ter um carro.

Para quem ainda imagina que todas essas mudanças no comportamento das pessoas podem ser temporárias, Saint-Léon apresentou outro levantamento (realizado nos Estados Unidos, mas que serve como parâmetro) no qual 39% dos entrevistados afirmaram que não pretendem voltar a usar transporte público ou vão adiar o retorno, e 42% responderam que deixarão de usar transporte por aplicativo.

Já no Brasil, quando questionados se têm intenção de adquirir um automóvel nos próximos meses, 31% dos pesquisados responderam que mantém esse desejo, e 39% disseram que estão mais inclinados a comprar um carro novo ou usado. Contudo, apesar desse interesse, os consumidores brasileiros têm receio em concretizar a compra do carro em um futuro próximo e preferem adiar a aquisição por questões financeiras – não querem gastar dinheiro agora, têm dúvidas sobre a economia do País e indefinições relacionadas ao emprego foram as respostas mais ouvidas.

Outros números que comprovam o impacto da Covid-19 é que 82% dos brasileiros pesquisados disseram que se preocupam com os riscos de contágio na hora de sair de casa, enquanto 61% disseram acreditar que a concessionária adota medidas para evitar o contágio por Covid-19 durante os serviços de manutenção e 51% concordam que as concessionárias fizeram muito para ajudar as pessoas durante a pandemia. Já 15% afirmaram que não pretendem visitar uma concessionária. Por conta desses resultados, Saint-Léon vê a necessidade de as revendedoras não só adotarem medidas mais efetivas que ajudem a conter a transmissão do novo coronavírus, como comunicarem melhor o público sobre essas medidas.

Por fim, a digitalização – como já foi apontado por outros convidados do #ABPlanOn – já deixou de ser uma oportunidade para se tornar necessidade. Nada menos que 71% dos entrevistados no Brasil disseram estar dispostos a adquirir um automóvel por meio de um canal totalmente on-line.

“Faz dez anos que estamos esperando esse momento acontecer na indústria e ele está acontecendo hoje. Assim, as empresas que conseguirem oferecer a melhor experiência digital vão se aproveitar das oportunidades”, concluiu Alexandre de Saint-Leon.