Anfavea sustenta projeção de queda
Duas altas substanciais e seguidas nas vendas mensais de veículos não foram suficientes para convencer a associação dos fabricantes, a Anfavea, a melhorar sua projeção, que segue sustentando previsão de forte retração de 40% nos emplacamentos este ano, para apenas 1,67 milhão de unidades vendidas. Nenhuma outra estimativa que circula no mercado é tão baixa. Para citar dois exemplos, a consultoria IHS Markit projeta queda de 30%, para 1,86 milhão de veículos leves, enquanto a Bright Consulting estima contração muito menor, de 24%, em torno de 2 milhões de unidades.
Em julho o número total de 174,4 mil emplacamentos de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus representou crescimento de 31,4% sobre junho, mas ainda uma forte queda de 28,4% na comparação com o mesmo mês de 2019. No acumulado de sete meses, as vendas somadas de 983,3 mil veículos está 36,6% abaixo do registrado no mesmo período do ano passado. O porcentual anual de contração do mercado vem melhorando mês a mês, no primeiro semestre o tombo foi de 38,2%.
A evolução mensal positiva, embora seja promissora, não é tão boa quando se compara a média diária de emplacamentos, que subiu de 6,3 mil por dia útil em junho para 7,6 mil em julho, demonstrando uma alta de quase 20%, bem menor do que os 31,4% do mês contra o anterior. O volume diário ainda está 28,4% abaixo do que as 10,6 mil unidades de um ano antes.
Para o presidente da Anfavea, Luiz Carlos de Moraes, essas variações mostram que é cedo para mudar as previsões porque “temos muita neblina no horizonte que não nos deixa enxergar o futuro, não somos pessimistas, mas esta é uma situação sem precedentes, nunca passamos por isso antes e não temos certeza do que pode acontecer”, afirmou.
“Ainda estamos em uma fase de tentar entender o impacto dessa crise sobre o cenário futuro. Vamos esperar mais um pouco e se for necessário mudamos as projeções”, afirma o presidente da Anfavea. |
INCERTEZAS E PREOCUPAÇÕES À FRENTE
Moraes cita as projeções do PIB brasileiro este ano, que variam entre -4% e -10%, o que demonstra grande multiplicidade de visões e incertezas sobre o tamanho do impacto na economia trazido pela pandemia de coronavírus. Ele também aponta a imprevisibilidade da Covid-19, que avança em alguns estados, retrocede em outros e volta a afetar regiões com novas restrições que acabam provocando queda nas vendas.
“Não mudamos nossas previsões como trocamos de roupa. Precisamos ser conservadores porque existem ainda muitos fatores preocupantes no horizonte, como o crescimento do desemprego com o fim das medidas de proteção, a retirada dos estímulos fiscais e monetários que injetaram quase R$ 274 bilhões na economia, o fim do auxílio emergencial que já pagou R$ 167 bilhões. Isso deve prejudicar a recuperação do mercado”, avalia Luiz Carlos Moraes. |
O dirigente afirma que a associação vem conversando com os diversos agentes econômicos do mercado, como bancos, setor de revenda de usados, concessionários e economistas. “Com isso tentamos enxergar melhor o futuro, mas ainda há muitas incertezas no horizonte que não permitem previsões precisas”, resume Moraes.