VW congela investimentos para preservar empregos e fornecedores

Em Live #ABX20, Pablo Di Si contou que o plano é retomar a produção a partir de maio

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Plano de investimento
Pablo Di Si, presidente da Volkswagen América Latina, foi entrevistado em Live #ABX20 na quarta-feira, 15

Plano de investimento

Depois de correr 10 quilômetros na esteira que tem em casa, devidamente protegido da Covid-19, o presidente da Volkswagen América Latina, Pablo Di Si, reservou um espaço na manhã da quarta-feira, 15, para participar da Live #ABX20 e conversar com exclusividade com Automotive Business e sua comunidade de leitores.

Na entrevista ele reforçou o compromisso com a manutenção dos empregos no Brasil, ainda que precise usar “todas as medidas de flexibilização possíveis e impossíveis”. O executivo também disse estar trabalhando para ajudar a cadeia de fornecedores e a rede de concessionárias a atravessar o momento delicado e declarou que a Volkswagen vai terminar o atual plano de investimento de R$ 7 bilhões no Brasil, mas o próximo aporte da companhia, que estava em definição, está congelado.

“Temos que olhar o curtíssimo prazo, na sobrevivência da cadeia de valor em abril, maio e junho pensando em fluxo de caixa e liquidez”, aponta. A seguir, veja o resumo dos principais temas abordados na conversa:

APOIO À CADEIA DE VALOR

 

“Nenhum de nós nunca viveu um momento como este em que todos os países e indústrias pararam ao mesmo tempo”, resume Di Si ao tratar da dimensão do problema causado pela pandemia de coronavírus. Ele conta que está conduzindo a Volkswagen a trabalhar em “modo de sobrevivência”, com foco no curtíssimo prazo, em abril, maio e junho, meses que ele entende serem os mais críticos.

“Não tenho a menor ideia de qual será o tamanho do mercado. Temos problemas mais sérios do que isso. Precisamos olhar para o caixa e para a liquidez. Se não cuidarmos disso, não teremos mercado porque as empresas não vão sobreviver”, diz.

O executivo admite que, ainda que a Volkswagen seja fortemente impactada, o que está realmente em risco são fornecedores e concessionárias. Por isso, ele diz estar engajado em ajudar na construção de um pacote de medidas para socorrer a indústria, em parceria com entidades, outras lideranças do setor automotivo e com o Ministério da Economia. “Todo o meu esforço está em resolver o problema da cadeia de fornecedores e de concessionários”, assegura.

Di Si também tem trabalhado em planos para aumentar o conteúdo nacional dos carros da marca no Brasil. Segundo ele, o dólar alto acelerou esta busca. “Há muitas oportunidades para aumentar a nacionalização de componentes tecnológicos, de infoentretenimento, airbags, entre muitos outros. O fornecedor que tiver um bom projeto com escala elevada pode vir falar conosco.”

RETOMADA DA PRODUÇÃO EM MAIO

 

Maio é o mês em que o executivo mira para começar uma gradual retomada da produção da Volkswagen no Brasil. Di Si garante, no entanto, que está bastante preparado para rever os planos se for necessário, já que a prioridade é a saúde dos colaboradores.

“Não estou nem aí se vamos voltar a produzir no dia 1º de maio ou no dia 30. Esta não é a parte importante. O essencial é que a volta às atividades seja segura”, enfatiza.

Ele diz que a companhia já montou a estratégia para o chamado “day after”. A ideia é começar de forma lenta, com apenas um turno de operação, carga de trabalho reduzida e adaptação das linhas de montagem para que os funcionários mantenham distância segura uns dos outros.

“Também não vamos voltar produzindo o volume que tínhamos em fevereiro”, diz. Segundo ele, o foco imediato será evitar a formação de estoques elevados, algo arriscado para a saúde financeira de qualquer organização. “Vamos acompanhar a retomada da demanda.”

Na área administrativa a volta ao trabalho acontecerá em ondas. “Gosto de liderar pelo exemplo. Por isso eu e o meu time seremos os primeiros”, conta. Segundo o executivo, todas as equipes manterão um rodízio para garantir que 50% das pessoas trabalhem remotamente, evitando a um grande volume de funcionários nos escritórios ao mesmo tempo.

EMPREGOS SERÃO MANTIDOS

 

Durante a entrevista, Di Si afirmou ter o compromisso de manter o nível de empregos no Brasil. Ele diz que está em casa em isolamento social há quatro semanas e a maior parte das poucas saídas que teve neste período foi para negociar condições com sindicatos para sustentar a força de trabalho.

“Como uma empresa responsável, não vamos demitir neste processo de crise. Mas precisaremos de todas as ferramentas de flexibilização possíveis e impossíveis”, conta.

INVESTIMENTOS CONGELADOS

 

Di Si reforçou que a Volkswagen vai concluir o plano de investimento R$ 7 bilhões em curso no Brasil com o lançamento do utilitário esportivo Nivus ainda no fim do primeiro semestre. Ele diz que o carro será um marco para a companhia, inaugurando a oferta de serviços capazes de gerar novas receitas para a Volkswagen.

Feito isso, os projetos da companhia serão interrompidos até que o período mais agudo da crise esteja superado. “Estávamos em processo de definir um novo plano de investimento para o Brasil antes da pandemia, algo que foi congelado, mas não cancelado”, conta.

Com isso, a empresa deve atrasar o lançamento de um modelo sucessor do Gol, previsto inicialmente para 2022 e que estava próximo de ser anunciado pela empresa. A revisão dos projetos foi justificada por Di Si:

“Todas as indústrias vão gastar muito dinheiro porque temos zero receita e custo fixo alto neste momento. É uma questão de caixa. Em três ou quatro meses desembolsaremos valor similar a um plano de investimento para três ou quatro anos. Este é o efeito da crise.”

O plano da companhia é reavaliar o contexto a partir de agosto e desenhar um novo aporte de acordo com as condições. Di Si já antecipa que os planos para a oferta de carros eletrificados serão atrasados, acompanhando a ruptura da demanda, da capacidade de investir e o novo normal da sociedade pós-pandemia.

Assista à entrevista completa com Pablo Di Si, presidente da Volkswagen América Latina: